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‘Lia’: um quebra-cabeça de memórias

Conheça Lia, o primeiro romance com capítulos fragmentados e independentes de Caetano W. Galindo
Capa do livro Lia, ao fundo uma estante com outros livros
Por Lívia Uchoa (livia.uchoa@usp.br)

Lançado em março deste ano, Lia (Companhia das Letras, 2024) é um romance construído como um álbum de memórias. A obra conta a história de Lucília, uma mulher e mãe que se revela para o leitor por meio de relatos e memórias. Com capítulos curtos que podem ser lidos em qualquer ordem, a narrativa é construída como um mistério em torno de quem é a protagonista, ao mesmo tempo em que reflete sobre a complexidade da vida. 

A obra

O livro possui 99 capítulos curtos, compostos por lembranças de diferentes fases da vida de Lia. Essas memórias são detalhadas e variam de eventos cotidianos até momentos decisivos da vida da protagonista. Além das lembranças, a obra traz para o leitor relatos em primeira pessoa de familiares e conhecidos de Lia. Esses relatos são construídos como um fluxo de consciência, o que aproxima o leitor da história, por mostrar o desenvolvimento das falas e pensamentos.

Trecho de Lia em que o autor conversa com o leitor
Caetano, com sua linguagem simples e direta, dialoga diretamente com o leitor no capítulo 97 [Imagem: Lívia Uchoa/ Acervo Pessoal]

A construção do livro inova ao trazer capítulos independentes que se complementam como um verdadeiro quebra-cabeça. O leitor tem a liberdade de ler na ordem que preferir. Inicialmente, a falta de linearidade pode prejudicar o fluxo de leitura, porém a curiosidade sobre quem é Lia faz com que a experiência seja leve e rápida. 

O romance traz reflexões sobre o tempo, a vida, o amor, a morte, e principalmente em relação à complexidade do ser humano. Caetano traz fragmentos da personalidade e vida de Lia, construindo um retrato da protagonista. “Caetano é especialista em descomplicar, e com Lia ele se coloca a gigantesca questão: de que é feita uma pessoa?”, declarou a escritora Martha Batalha sobre a obra.

 A partir de fragmentos da vida dela, o autor mostra que diferentes acontecimentos do passado– independente de seu tamanho– refletem no presente e moldam a personalidade de Lia. O livro aproxima o leitor da protagonista, pois, como um reflexo da realidade, ele retrata a dualidade do ser humano, que possui qualidades e defeitos.  

“Lia é feita de carne e osso. E de pele, unhas e dentes, de pelos. Como eu, como você, ela é um invólucro algo mais ou menos estável para um conteúdo potencialmente instável, inclusive em termos mecânicos, dinâmicos.”

Lia, Capítulo 51

Sobre o autor

Caetano W. Galindo é um escritor, professor universitário e tradutor curitibano. Autor de Sobre os Canibais (Companhia das Letras, 2019), Sim, eu digo sim: Uma visita guiada ao Ulysses de James Joyce (Companhia das Letras, 2016), Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português (Companhia das Letras, 2022), e outras obras, ele agora inova com seu primeiro romance.

Caetano Galindo segurando seu livro Lia
O autor conta nos agradecimentos do livro que Lia inicialmente teve seus capítulos publicados em forma de folhetim semanal para o jornal online Plural, entre 2019 e 2021 [Imagem: Reprodução/ Instagram/ @caetanowgalindo]

Caetano recebeu o tradicional Prêmio Jabuti e da Academia Brasileira de Letras em 2013, por sua tradução do romance Ulysses (1920) de James Joyce. Como escritor, sua coletânea de contos Ensaio sobre o entendimento humano (Biblioteca Pública do Paraná, 2013) venceu o Prêmio Paraná de Literatura na categoria contos em 2013. Para a Biblioteca Pública do Paraná no mesmo ano, Caetano declarou que “ficou tentado” a virar escritor por conta do Prêmio Paraná. 

*Imagem de capa: Lívia Uchoa/ Acervo Pessoal

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