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Congresso discute violência na comunidade escolar e educação midiática

GEduc 2024 atraiu palestrantes e congressistas de todo o país
Homem tira foto com o celular de palestra do congresso GEduc 2024.
Por Isabel Briskievicz Teixeira (belbrisk@usp.br)

Dos dias 3 a 5 de abril ocorreu a 22ª edição do GEduc, congresso nacional de gestão educacional, sediado no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. O evento foi promovido pela HUMUS, empresa capacitadora de gestores de universidades e escolas, e contou com mais de 90 palestrantes e 60 empresas expositoras. 

Violência nas escolas e um diálogo possível

Na quinta-feira, 4, ocorreu o painel Ações colaborativas para prevenção da violência na comunidade escolar, ministrado pelos advogados Pedro Adilão Ferrari Junior e Edelvan Jesus da Conceição, além do empresário Jotapê Malara. 

Pedro Ferrari, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Subseção de São José/SC, e Edelvan da Conceição, presidente da Comissão de Direito da Criança e do Adolescente do órgão, desenvolvem o projeto Proteção em Rede, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de São José (SC), Fundação Educacional de São José e Secretaria Municipal de Educação do mesmo município. 

A iniciativa busca conscientizar pais, alunos e profissionais da educação acerca das violências que podem atingir a comunidade escolar, promovendo palestras sobre temas como cyberbullying, racismo, gordofobia e violência sexual. Também procura capacitar professores e funcionários para serem um canal seguro de comunicação e acolhimento. “A gente quer promover esse espaço de discussão, de troca, e todos temos que procurar alternativas para contribuir com a construção de um espaço de diálogo e paz nas escolas, de criar um ambiente mais saudável”, comenta Edelvan.

O Proteção conta com advogados voluntários e abrange toda a rede municipal. Além das palestras, há um fortalecimento da rede escolar para se preparar para possíveis ataques armados às escolas, os quais registraram um recorde alarmante em 2023. A falta de protocolos nesses casos preocupa Pedro: “O que a gente pode fazer em uma situação de ameaça, em uma situação de invasão? Quem pode imediatamente garantir um tipo de proteção ou suporte naquela hora? Precisamos identificar esses atores”. 

Edelvan relembra, também, a necessidade de envolvimento de órgãos públicos variados em projetos de cidadania. “A justiça está aqui porque são problemas e necessidades públicas”.

Outro ponto importante ressaltado pelos palestrantes é a necessidade de uma comunicação direta com os jovens, em uma língua na qual eles entendam. Entra, então, a startup New School.

Fundada pelo terceiro orador do painel, Jotapê Malara,  a New School é um aplicativo que busca aproximar o conteúdo escolar – desde aulas de português e matemática até assuntos mais complexos, como inteligência financeira e habilidades socioemocionais – à vida dos jovens periféricos, por meio de produções audiovisuais. Utilizam, também, a “metodologia ativa de gamificação”, uma estratégia de ensino que busca dar prêmios como celulares, tênis e ingressos de cinema de acordo com a trajetória de aprendizagem do aluno.

Nascido em Taboão da Serra (SP), Jotapê viveu a realidade da periferia durante toda a sua vida. É o sexto filho de uma empregada doméstica e um empreendedor, e teve seu sétimo irmão, o mais novo, envolvido no tráfico de drogas e morto em um conflito com a polícia. Seus conhecimentos na escola não foram capazes de prepará-lo para nada semelhante. “Vi minha mãe chorando em cima do meu irmão com um tiro no peito, o policial comemorando menos um CPF e eu tentando lembrar ‘desses bagulho’ que eu aprendi na escola… a tabela periódica, fórmula de Bhaskara, e isso não tava me ajudando a lidar com aquela situação”. 

Sua forma de escapar da realidade, e também um fator motivador para a criação da empresa, foi a leitura. “Eu li uma frase do Nelson Mandela: ‘a educação é a arma mais poderosa que você pode ter para mudar o mundo’. E eu pensei que essa arma é diferente da que já me ofereceram. Ela tem amor, revolução… essa arma eu quero por na cintura”, reflete. 

Durante a estruturação do projeto, Jotapê criou, com base na na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a BNCF: Base Nacional Comum das Favelas. É uma abordagem didática que leva em conta as desigualdades sofridas na periferia e contrapõe a Base elaborada pelo Ministério da Educação. “Dentro dessa BNCF a gente colocou todos os conteúdos que são importantes para que um jovem periférico se torne um protagonista, tome decisões inteligentes e consiga ir em busca dos seus sonhos de forma digna e honesta.” 

Junto a Pedro, Edelvan e ao projeto Proteção em Rede, a New School produziu conteúdos para trazer o diálogo da violência doméstica às escolas, introduzi-lo a uma linguagem acessível e, por meio da gamificação, incentivar os alunos das escolas de São José a entenderem mais sobre o assunto. A plataforma existe desde 2014, mas funciona com um app desde 2020 e, hoje, atinge 70 mil alunos de todo o país.

“Estamos todos juntos nessa cruzada”: a tarefa social da educação midiática 

No dia 5, o auditório central do Centro de Convenções foi palco da palestra Educação midiática para combater desinformação e discurso de ódio, ministrada por Januária Cristina Alvez, escritora, educomunicadora, vencedora do prêmio Jabuti e membro da Aliança Global de Alfabetização Midiática, da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Januária defende, principalmente, a importância da curricularização da educação midiática nas redes de ensino para o combate à desinformação e discursos de ódio. “Não basta ter que ensinar português, matemática, história, geografia… agora temos que também ensinar esses meninos a trafegarem no universo online com segurança e com ética. Eles nasceram na era digital, mas não quer dizer que eles saibam como se comportar nela e lidar com os conteúdos que estão ali expostos”, ressalta.

No que tange à discussão da regulamentação das mídias, a escritora explica que, além da prática da educação midiática, é necessário entender o modelo de negócio que rege as plataformas. “Não é uma tarefa somente para a escola ou família, é uma tarefa para toda a sociedade. Educar para conhecer as mídias tem muito a ver com educar para ser um cidadão para estar neste mundo”.

Para mais informações sobre o evento, acesse: https://www.geduc2024.com.br.

Imagem de capa: [Reprodução/geducoficial/Instagram]

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