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Lupita Nyong’o, a conquista de duas nações no Oscar

Atriz, diretora e ícone fashion, Lupita Nyong'o tem várias facetas brilhantes que conquistaram Hollywood
Por Bárbara de Aguiar (barbaraaguiar@usp.br)

Lupita Amondi Nyong’o é uma atriz queniano-mexicana ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por seu papel no longa 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013). Reconhecida mundialmente por suas interpretações em Pantera Negra (Black Panther, 2018) e Nós (Us, 2019), a atriz também é ícone fashion e utiliza esse espaço para colocar pautas importantes sob os holofotes.

Lupita Nyong'o na divulgação de Pantera Negra 2: Wakanda Para Sempre
Lupita Nyong’o sempre é destaque nas pré-estreias e eventos de Hollywood [Imagem: Reprodução/Instagram/Lupita Nyong’o]

A estrela de Hollywood nasceu na Cidade do México, em 1º de março de 1983. A família, originalmente do Quênia, estava em terras mexicanas porque Peter Anyang ‘Nyong’o, pai de Lupita, atuava como professor convidado de Ciência Política na cidade. Antes da pequena Lupita completar um ano, a família retornou ao país de origem e Peter assumiu o cargo de professor na Universidade de Nairóbi.

O primeiro contato da jovem com a atuação aconteceu enquanto ela passava a infância no Quênia. Em entrevista ao USA Today, a atriz disse ter crescido em uma família muito artística, com encontros que incluíam performances das crianças e viagens em grupo para assistir peças de teatro. Apoiada pelos pais, Nyong’o participou de diversas peças escolares durante seus anos na Escola Internacional Rusinga.

Aos 16 anos, Lupita retornou ao México para aprender espanhol, idioma que hoje tem fluência, assim como swahili e luo, línguas de etnias africanas, e o inglês. A graduação em cinema e teatro foi feita na Hampshire College, e a atriz também participou de um mestrado em atuação na Yale School of Drama, na universidade americana de Yale, período no qual integrou várias figurações e produções teatrais.

Início da carreira

Lupita Nyong'o com colegas de elenco da série Shuga (2009)
Lupita Nyong’o com colegas de elenco da série Shuga (2009) [Imagem: Divulgação/MTV Base]

A carreira no mundo cinematográfico começou atrás das câmeras, com Lupita como parte da equipe de produção de grandes filmes, como O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005), do consagrado cineasta brasileiro Fernando Meirelles. Sua estreia como atriz foi no curta-metragem East River (2008), dirigido por Marc Grey e filmado no Brooklyn, quando Lupita ainda estava em Nova York. Após sua participação no curta, ela retornou ao Quênia para estrelar Shuga (2009), uma série dramática sobre a prevenção da Aids.

Capa do documentário 'In My Genes' de Lupita Nyong'o
Nyong’o teve estreia premiada como roteirista e diretora [Imagem: Divulgação/Lupita Nyong’o]

Lupita também possui experiência com direção e roteiro. Em 2009, ela escreveu, dirigiu e produziu o documentário In My Genes, que relata o cotidiano de oito quenianos albinos e a luta diária desse grupo contra o preconceito. Exibido em festivais de cinema por todo o mundo, o trabalho de Nyong’o ganhou o primeiro prêmio no Five Colégio Film Festival. Além do documentário, ela dirigiu o vídeo da música The Little You Do por Wahu, indicado ao prêmio de Melhor Vídeo no MTV Africa Music Awards de 2009.

Ao fim da graduação em Yale, a atriz participou de testes para atuar no drama histórico 12 Anos de Escravidão e conquistou o papel que lhe renderia o Oscar.

12 Anos de Escravidão

Lupita Nyong'o como Patsey em '12 Anos de Escravidão'
A atuação emocionante no primeiro longa de sua carreira consagrou Lupita como uma das grandes atrizes de Hollywood [Imagem: Divulgação/River Road Entertainment]

A trama 12 Anos de Escravidão é baseada na vida de Salomon Northup, um homem negro nascido livre no norte dos Estados Unidos que é sequestrado, vendido e escravizado em Washington, no ano de 1841. Lupita Nyong’o deu vida a Patsey, uma mulher escravizada que trabalhava ao lado de Northup em uma plantação de algodão na Louisiana. 

Apesar do filme ter recebido ótimas críticas e emocionado as salas de cinema em todo o mundo, Carissa Vieira, roteirista formada em cinema pela Universidade Federal de Pernambuco e criadora de conteúdo relacionado ao cinema negro e feminino, vê na obra a exploração da dor e do corpo negro. 

“O filme tem suas qualidades — inclusive, os atores estão ótimos — mas ele perpetua uma coisa que me incomoda profundamente: ele vai para o lado da pornografia da dor. Para mim, existe uma lógica de exploração do corpo negro ali um pouco questionável”, opina Carissa. 

De acordo com a roteirista, o filme é construído com uma demonstração exagerada de violência e sob o olhar branco, ainda que o diretor da obra seja um homem negro. “Existe um olhar dominante e, quando eu vejo 12 Anos de Escravidão, acho que é muito voltado para a lógica da pessoa branca e sempre nessa violência dos corpos pretos. A fotografia do filme não enaltece corpos negros, ela só coloca essa lógica da dor e do sofrimento, mas é o sofrimento para o olhar das pessoas brancas”.

Mesmo com as críticas, Carissa enxerga o papel do filme como uma denúncia à escravidão, mas ressalta a falta de tato com que a obra trata a dor dos personagens negros e a inadmissível presença de um herói branco.

Pantera Negra

Lupita Nyong'o como Nakia em 'Pantera Negra'
Com um papel secundário e pouco tempo de tela, Lupita consegue entregar uma personagem carismática e forte em Pantera Negra [Imagem: Divulgação/Marvel Studios]

Por outro lado, a roteirista enxerga em Pantera Negra a valorização que a cultura negra merece, mas enfatiza que a conquista de um protagonista negro no cinema mainstream é fruto da comoção do público e da luta por mais representatividade. O filme representa um marco muito importante, principalmente por possuir um elenco formado por mais de 90% de pessoas negras, dar destaque a uma equipe negra e construir um cenário de valorização da cultura africana, ainda que por meio de um olhar americanizado.

“A quantidade de crianças e adolescentes que foram ver o filme e que se enxergaram é super importante. Ele é um filme gigante. É a Marvel, chega em todos os lugares e, no fim, é isso que conta. Eu sou uma grande entusiasta de cinema independente, mas esses filmes [de grandes estúdios] chegam em todo mundo, e filmes que chegam em todo mundo importam. Então, é essencial que haja mais inclusão nesse tipo de obra”, afirma.

No filme, o reino de Wakanda é uma nação repleta de tecnologia e super avançada, mas que ainda preserva a cultura e costumes ancestrais vistos como pilares pelo seu povo. O roteiro foca na história do príncipe T’Challa, que perde o seu pai e herda o manto de Pantera Negra, protetor do reino de Wakanda. Em meio a trama afrofuturista, Lupita se destaca no papel da espiã Nakia, ex-membro de Dora Milaje — equipe de mulheres que servem como forças especiais de Wakanda e guarda-costas pessoais do Pantera Negra.

Nós

Lupita Nyong'o como Adelaide em 'Nós'
Intérprete de duas personagens distintas com maestria e sutileza, Nyong’o era cotada como indicada para o Oscar, mas foi ignorada pela Academia [Imagem: Divulgação/Perfect World Pictures]

Outro filme visto com bons olhos por Carissa é Nós, do renomado diretor Jordan Peele, conhecido por valorizar atores negros em suas obras cinematográficas. 

Carissa tem o longa como um de seus favoritos do cineasta, principalmente pela forma como a questão racial é sutil e o foco da história não envolve o racismo: é apenas uma família negra que vive sua vida. “Nós não é sobre a questão racial, porque pessoas pretas passam por outras situações e a gente precisa que as histórias sejam contadas sem estar sempre permeadas pela violência do racismo, nem todas as narrativas precisam ser sobre isso”, opina.

O drama de terror psicológico conta a história de Adelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke), que decidem levar a família para passar um fim de semana na praia e descansar em uma casa de veraneio. A viagem com os filhos transforma-se quando um grupo misterioso chega ao local e a família se torna refém de seus próprios duplos. Aqui, Lupita brilha ao interpretar Adelaide e sua doppelgänger. A obra foi amplamente aclamada pela crítica, assim como o desempenho de Nyong’o em seu duplo papel.

Conquista do Oscar

Lupita Nyong'o discursando logo após vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por '12 anos de Escravidão'
Nyong’o garantiu o primeiro Oscar de sua carreira e integra um seleto grupo de campeãs negras [Imagem: Reprodução/Youtube/Oscar]

Por sua atuação como Patsey em 12 Anos de Escravidão, de Steve McQueen, Lupita conquistou o Oscar como atriz coadjuvante em seu primeiro papel de destaque na indústria cinematográfica. 

Nos últimos 95 anos de Oscar, apenas onze mulheres pretas levaram alguma estatueta por sua atuação como atriz principal ou coadjuvante, e a maioria das premiações aconteceu na última década.

A premiação de Lupita foi histórica e a transformou na sexta atriz negra a ganhar um Oscar na categoria coadjuvante –- até hoje, apenas Halle Berry conquistou o prêmio de melhor atriz, por sua atuação em A Última Ceia (Monster’s Ball, 2001) –-, a primeira atriz queniana a ganhar o prêmio, a primeira mexicana a ganhar o prêmio e a 15ª atriz a ganhar um Oscar para uma atuação de estreia em um longa-metragem.

Lupita Nyong'o discursando logo após vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por '12 anos de Escravidão'
Discurso da atriz emocionou os colegas de profissão e incentivou sonhadores de todo o mundo [Imagem: Reprodução/YouTube/Oscar]

Em seu discurso na premiação, a intérprete ressaltou que a alegria de conquistar o Oscar era fruto de um papel baseado nas dores de uma pessoa real e saudou a memória de Patsey. Um dia após vencer o Spirit Awards, quando dedicou o troféu à mãe, Dorothy Nyong’o, diretora da Fundação do Câncer África, Lupita dedicou seu Oscar para crianças de todo o mundo ao dizer: “Não importa de onde você é, todos os seus sonhos são válidos”.

Nyong’o foi indicada a vários prêmios por 12 Anos de Escravidão, como o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante, o BAFTA de melhor atriz coadjuvante e dois prêmios Screen Actors Guild, incluso o de melhor atriz coadjuvante, que ela ganhou.

Ícone Fashion

Lupita Nyong'o em um evento da Metamorphosis by De Beers
Fashionista, Lupita captura todos os holofotes com visuais deslumbrantes e únicos [Imagem: Reprodução/Instagram/Lupita Nyong’o]

Nos tapetes vermelhos de Hollywood, Lupita sempre é destaque com os looks elaborados e penteados que valorizam seu cabelo natural, mesmo quando o corte do momento é no estilo mais curto. A atriz já foi garota propaganda da grife Miu Miu, nomeada a mulher mais bonita do mundo pela revista People e também “Mulher do Ano” pela Glamour, em 2014.

A roteirista Carissa, que também é uma jovem mulher negra, comenta a importância de uma pessoa de pele retinta e fora do padrão hollywoodiano da mulher negra receber destaque mundial como ícone de beleza: “A gente vê muitas mulheres pretas de pele clara no cinema e eu acho super importante que a Lupita é uma mulher preta retinta e faz questão de carregar isso nela, na maneira como ela se veste, de trazer na forma do cabelo dela”.

Ela também relembra a eleição de Lupita como a mulher mais bonita do mundo em 2014 com alegria, já que o tratamento dado em Hollywood a atrizes brancas e negras é muito diferente. “Isso pode parecer uma bobagem, principalmente no mundo que a gente quer que as pessoas sejam vistas pelo próprio trabalho. Mas, nem sempre olhamos para as mulheres pretas como um padrão de beleza e, quando estamos falando de uma mulher preta africana retinta, acho que é importante, sim, que ela também seja considerada uma mulher tão bonita e seja vista pela própria beleza”.

Lupita tem um estilo ousado e moderno, que utiliza de peças brancas até cores vivas. Na maquiagem, ela também aposta em tons coloridos e olhos marcados com sombras e delineados. Os lábios sempre estão com batons em tons de vermelho e rosa.

A atriz exibe a beleza da mulher negra com um estilo inovador e criativo [Imagem: Reprodução/Instagram/Lupita Nyong’o]

Apesar de hoje ter seu estilo e arrasar com seu visual natural, a estrela já revelou que tinha inseguranças sobre sua beleza como uma mulher negra quando adolescente, mas ganhou outra perspectiva ao conhecer o trabalho da supermodelo sul-sudanesa Alek Wek

Lupita representa, para muitas garotas em todo o mundo, o que um dia Alek Wek representou para sua versão mais jovem. “É muito interessante observar como ela está ali, em todos os lugares, como ela consegue ocupar todos os espaços. É óbvio que pessoas pretas não precisam da aprovação de pessoas brancas, mas, em um mundo como o nosso, quando a gente pensa em Hollywood e no que ela alcançou, é importante mulheres pretas retintas ocuparem todos os espaços, inclusive o espaço de bela”, ressalta Carissa sobre o papel de Lupita como ícone da moda.

Maquiagem, penteados e vestimentas ajudam Lupita Nyong’o na composição de mensagens importantes para o mundo [Imagem: Reprodução/Instagram/Lupita Nyong’o]

Representatividade e lutas sociais

Além de utilizar o espaço conquistado em Hollywood para valorizar a beleza negra, Nyong’o carrega muitas bandeiras e é ativa nas causas sociais. Na organização internacional de conservação WildAid, a intérprete promove questões sobre mulheres, atuação e artes no Quênia e atua como Embaixadora Global de Elefantes.
Lupita também participa da organização Mother Health International, que se dedica a criar centros de parto engajados localmente e fornecer ajuda para mulheres e crianças na Uganda.

Páginas do livro Sulwe de Lupita Nyong'o
Em Sulwe, os dilemas de uma criança retinta ganham a atenção e a obra conscientiza com ilustrações criativas [Imagem: Divulgação/Rocco Pequenos Leitores]

O livro Sulwe (2019), “estrela” na língua luo, estreia de Nyong’o como escritora, conta a história de uma menina queniana de cinco anos, com a pele mais retinta entre os membros da sua comunidade. Baseada na infância de Lupita, a obra aborda de forma lúdica a importância de se aceitar, além de levantar a importante questão de como pessoas negras de pele mais escura são tratadas de forma distinta a uma pessoa negra de pele clara.

Lupita Nyong'o nos protestos durante a greve dos atores e roteiristas de Hollywood em 2023
A greve dos atores e roteiristas de Hollywood contou com a participação de vários profissionais renomados, como Mark Ruffalo, Jamie Lee Curtis, George Clooney e a própria Lupita Nyong’o. [Imagem: Reprodução/Instagram/Lupita Nyong’o]

A atriz também participou da greve dos atores e roteiristas de Hollywood, representados pelo Sindicato de Atores (SAG – AFTRA) e Sindicato de Roteiristas (WGA). A paralisação dos profissionais começou no dia 13 de julho de 2023 e se estendeu até dezembro de 2023, com 78% dos membros do Sindicato aprovando a proposta da Associação de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) que estabeleceu aumento de 7% na maioria dos salários mínimos da categoria e proibiu a utilização de inteligência artificial para a criação de “réplicas digitais” de intérpretes, exceto se paga ou com aprovação do indivíduo.

No Oscar 2024, Lupita apresentou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, o mesmo que ela conquistou em 2014, e, dez anos depois, teve o prazer de premiar Da’Vine Joy Randolph por seu papel tocante em Os Rejeitados (The Holdovers, 2023).

Lupita Nyong'o e Da'Vine Joy Randolph na festa pós Oscar de 2024
Lupita e Da’Vine na festa pós Oscar de 2024. Além de colegas de profissão, as atrizes estudaram juntas em Yale [Imagem: Reprodução/Instagram/@davinejoy]

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