por Maria Beatriz Barros
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“A ideia da minha vida como um conto de fadas é, por si só, um conto de fadas”
Grace Kelly
A atriz, de beleza incomparável, mal sabia na época o quão certeira seriam suas palavras: ela despontou em Hollywood, fez onze filmes de sucesso em menos de dez anos e conquistou o coração do solteiro mais cobiçado do momento, o príncipe de Mônaco Rainier III, tornando-se uma princesa da vida real. A jovem da Filadélfia viveu uma vida digna de contos de fadas, e é, até hoje, referência de elegância e destreza a mulheres do mundo todo.
Era Uma Vez na Filadélfia
Filha do empresário John B. Kelly e da professora universitária Margaret Majer, Grace Patricia Kelly nasceu em 12 de novembro de 1929, na Filadélfia. Seu nome foi um pedido de sua avó paterna, em homenagem a uma filha sua que morreu muito jovem.
A contragosto de seus pais, mudou-se para Nova York para perseguir seu sonho de ser atriz, quando foi rejeitada pela Universidade de Benington. Com a ajuda de seu tio, o ator George Kelly, ela foi admitida na Acadêmia Americana de Artes Dramáticas, mesmo após o fim do prazo para tal. Nessa época, ela trabalhou como modelo para bancar seus estudos.
Os primeiros passos promissores de Grace no meio artístico foram sob as pernas da personagem Bethel Merriday, no drama ao vivo que levava o nome da personagem. Os quase 60 episódios estrelados pela atriz lhe renderam um papel de pouco destaque no filme Horas Intermináveis (Fourteen Hours, 1951).
Kelly continuou seus trabalhos no teatro, até ser convidada por John Ford para um teste em Los Angeles. Encantado pela atriz, o diretor a contratou para sua produção Mogambo (Mogambo, 1952), que veio acompanhada de um contrato de sete anos com a produtora Metro-Goldwyn-Mayer (MGM). Por sua atuação no filme, Grace ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante, e foi indicada ao Oscar na mesma categoria.
Gracie & Hitch
É notória a parceria entre Grace Kelly e o diretor Alfred Hitchcock no cinema. Em 1954, a dupla produziu dois filmes de grande repercussão. No primeiro, Disque M para Matar (Dial M for Murderer, 1954), a atriz protagonizou a rica Margot Wendice, que vivia um romance extraconjugal com seu antigo colega de colégio, Mark Halliday (Robert Cummings). Seu marido, Tony, vivido por Ray Milland, ao descobrir a traição, planeja a morte da esposa. Contudo, ela não podia ser executada pelo próprio, pois, como ele havia, há pouco, sido declarado herdeiro de todos os bens da personagem de Kelly, seria o principal suspeito. Assim, ele conta com a ajuda de um amigo, na tentativa de forjar um latrocínio. Quando as coisas não saem como planejado, o cônjuge traído tenta uma forma de usar a nova situação a seu favor.
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O segundo filme da parceria da futura princesa com o mestre do suspense foi o sucesso Janela Indiscreta (Rear Window, 1954). Nesse, Grace interpreta Lisa Fremont, namorada de L. B. “Jeff” Jefferies (James Stewart), fotografo momentaneamente confinado a seu apartamento por conta de uma lesão na perna. Para passar o tempo, o par romântico de Kelly usa sua câmera fotográfica para espionar o dia a dia se seus vizinhos, através da janela de sua residência. Ele compartilha suas observações com a amada, ambos acabam suspeitando de um crime no vizinho, e embarcam em uma investigação para averiguar tal fato, chegando a colocar a vida de Lisa em perigo.
A terceira e última cooperação entre Gracie e Hitch aconteceu em Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, 1955). Nesse, o ladrão de jóias John Robie (Cary Grant), “o Gato”, se vê acusado de roubos similares aos seus. Para provar sua inocência, ele arma um plano que envolve a milionaria Frances Stevens, papel de Grace Kelly.
Seis anos após seu casamento com o príncipe Rainier, Hitchcock ofereceu a Gracie o papel principal de seu novo roteiro, Marnie, uma cleptomaníaca. A princípio, a Sua Alteza Serena de Mônaco aceitou a oferta. Porém, a opinião pública do principado foi contra a decisão de Kelly, e devido as condições complicadas daquele com a França, a atriz rejeitou a personagem, sendo substituída por Tippi Hedrem.
Disque M para Matar (Dial M for Murderer, 1954) rendeu para Grace Kelly a indicação aos prêmios BAFTA (Grã-Bretanha) e Bambi (Alemanha) de melhor atriz estrangeira. Também, foi nominada melhor atriz pelos NBR (National Board Review) e NYFCC (New York Film Critics Circle Awards), tanto por aquela produção, como por Janela Indiscreta (Rear Window, 1954).
Início do Conto de Fadas Hollywoodiano
O ano de 1955 começou mágico para Grace Kelly: por conta de seu papel principal em Amar é Sofrer (The Country Girl, 1954), a atriz ganhou o Oscar, na categoria de Melhor Atriz. Também por conta de tal filme, ela foi ao Festival de Cannes, onde encontraria seu príncipe encantado.
Durante a mostra de cinema, ela foi convidada para uma sessão de fotos no Palácio de Mônaco, onde conheceu o Príncipe Rainier III. De volta aos Estados Unidos, Grace passou a se comunicar por cartas com o herdeiro do trono do principado, mesmo namorando o ator francês Jean-Pierre Aumont. Curiosamente, a atriz dava vida a Princesa Alexandra, no longa O Cisne (The Swan, 1956), nessa mesma época.
Em dezembro deste mesmo ano, Rainier visitou os Estados Unidos. Ele pediu um encontro com Grace, e três dias depois, a pediu em casamento. Na época, especulava-se mesmo que o príncipe havia ido a América em busca de uma esposa. A família Kelly teve de providenciar cerca de dois milhões de dólares para oferecer como dote para que o casamento tivesse andamento. Para a mídia, aquele seria “O casamento do século”.
Despedida das Telonas
Já noiva de Rainier III, Grace Kelly gravou seu último longa para o cinema: Alta Sociedade (High Society, 1956). A trama foca em Tracy Lord (Kelly), prestes a casar com George Kittredge (John Lund). Contudo, seu ex-marido e também vizinho, o cantor de jazz C.K. Dexter-Haven (Bing Crosby), continua apaixonado pela moça, e fará de tudo para conquistá-la de volta. Ao mesmo tempo, o jornalista de tablóide responsável por cobrir as bodas, Mike Connor (Frank Sinatra), acaba também se apaixonando por ela. O coração da personagem de Kelly, então, fica dividido entre os três homens.
A produção de Charles Wartes é baseada na peça de teatro A História da Filadélfia, de Philip Barry. Além de patrimônio cinematográfico, é também musical, pois conta com famosas canções, como “True Love”, interpretada por Grace e Crosby, “You’re Sensational” e “Mind If I Make Love to You”, da atriz com Frank Sinatra. Durante a gravação do filme, Kelly usou o anel de noivado dado a ela por Rainier III.
O Casamento do Século
Em 18 de Abril de 1956, Grace Kelly tornou-se Sua Alteza Serena, Princesa Consorte de Mônaco, por conta do casamento civil com o Príncipe Rainier III. No dia seguinte, aconteceu a cerimônia religiosa, restrita a 80 convidados, apenas família e amigos próximos, locada na Catedral de São Nicolau. Mais tarde, naquela noite, foi aberta uma recepção aos cidadãos de Mônaco, para que esses pudessem cumprimentar sua nova princesa.
Em janeiro de 1957, nove meses e quatro dias após o matrimônio de Grace, ela deu a luz a primeira filha, Caroline. Com a vinda da nova princesa, a linha sucessória do principado de Mônaco estava garantida, bem como a independência da França. O segundo filho do casal nasceu em março de 1958, Sua Alteza Príncipe Albert II. A filha caçula de Grace e Rainier, Stephanie, nasceu anos depois, em 1965.
Em seus anos como princesa, Grace dedicou-se especialmente a ações filantrópicas.
O Final Trágico
Em 13 de Setembro de 1982, Grace estava dirigindo de volta para Mônaco, quando sofreu um enfarto e perdeu o controle de seu carro. Sua filha, a princesa Stephanie, que estava no banco do passageiro, tentou, sem sucesso, recuperar o controle do carro, que caiu em um despenhadeiro. A princesa consorte sofreu lesões internas irreperáveis, e foi a óbito na manhã do dia seguinte.
A ex-atriz americana foi velada no mesmo local de seu casamento, a Catedral de São Nicolau. Seu velório foi assistido por mais de 400 pessoas, e contou com personalidades como Nancy Reagan, então primeira-dama dos Estados Unidos e Princesa Diana de Gales.
A Polêmica Cinebiografia
Recentemente, o diretor Oliver Dahan lançou o filme biográfico Grace de Mônaco (Grace of Monaco, 2014), com Nicole Kidman no papel de Grace Kelly. A produção foi exibida no festival de Cannes, e provocou risos nos jornalistas e convidados presentes na abertura do evento. O foco da cinebiografia são os primeiros anos da americana como realeza, com todas as suas dificuldades.
A Família Real de Mônaco chegou a publicar uma nota repudiando a produção cinematográfica: “Para nós, este filme não constitui uma obra biográfica, mas apenas um retrato de parte da sua vida, com uma glamourização sem sentido, erros históricos assim como cenas puramente fictícias”. Como forma de protesto, nenhum dos descendentes de Grace compareceram ao festival de Cannes no ano passado.