Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Catar 2022 | Histórico! Marrocos elimina Portugal e se torna a primeira seleção africana a chegar às semifinais de uma Copa do Mundo

Seleção marroquina sequer era colocada como favorita a passar de fase, mas a organização e o trabalho coletivo saíram vencedores diante de um adversário que não soube fazer valer de seus destaques individuais 

Marrocos e Portugal têm um histórico de confrontos muito anterior às Copas. Em 1578, Dom Sebastião, jovem rei de Portugal, desapareceu durante uma batalha em Alcácer Quibir, no país africano. O fato de os portugueses nunca terem encontrado seu corpo fez surgir uma crença messiânica em torno dele: o Sebastianismo, que crê que Dom Sebastião há de retornar para levar a nação de volta às glórias. O movimento ganhou força porque, após o desaparecimento de Sebastião, Filipe II de Habsburgo assumiu o trono de Portugal, unindo o país à Espanha na chamada União Ibérica. O Marrocos foi, então, um grande marco do “desaparecimento português” no deserto. Vale lembrar que o Catar também é um deserto.

Na bola, porém, Marrocos e Portugal chegaram ao Catar para a disputa da Copa do Mundo de 2022 com perspectivas diferentes. Embora tenha feito a melhor campanha das Eliminatórias Africanas para a Copa do Mundo, a seleção marroquina passava por um momento turbulento nos bastidores, e o então treinador foi demitido às vésperas do Mundial. Ele tinha um relacionamento ruim com parte do grupo e deixava de convocar jogadores cruciais, como o lateral Mazraoui (Bayern de Munique) e o meia Ziyech (Chelsea). 

Após a contratação do marroquino Walid Regragui para o cargo, a seleção disputou apenas três amistosos, mas que foram o suficiente para que os Leões do Atlas surpreendessem no Catar e avançassem em primeiro lugar no Grupo F. Marrocos empatou com uma das favoritas – e hoje semifinalista -, a Croácia (0 a 0), e venceu a outra, a Bélgica (2 a 0). Além disso, derrotou o Canadá por 2 a 1 na única partida em que o time levou gol (e foi contra). Nas oitavas de final,segurou a Espanha quase sem sofrer durante a partida e venceu por 3 a 0 nos pênaltis. Estar nas quartas de final já era o melhor resultado da história da seleção marroquina, que também defendeu abertamente a Palestina, exibindo sua bandeira após a classificação nas oitavas.

Portugal, por sua vez, teve a manutenção do trabalho de Fernando Santos, em sua terceira Copa com a Seleção das Quinas, e na primeira fase foi bem no Grupo H: venceu Gana (3 a 2), Uruguai (2 a 0) e perdeu de virada e com o time reserva, para a Coreia do Sul (1 a 2). Nas oitavas, goleou a Suíça por 6 a 1, em partida marcada pelo show de Gonçalo Ramos, jovem escolhido por Fernando Santos para substituir Cristiano Ronaldo, que não vinha jogando bem e teria tido desentendimentos com o treinador. João Cancelo, um dos melhores laterais do mundo, também ficou no banco naquele jogo. 

Primeiro tempo: Marrocos agressivo e letal

Depois da goleada nas oitavas de final, Fernando Santos optou por manter o mesmo time, com Cristiano e Cancelo reservas. Rúben Neves entrou no lugar de William Carvalho, mais defensivo. O treinador marroquino Walid Regragui mexeu duas vezes em relação ao duelo com a Espanha, ambas motivadas por lesões: o zagueiro Aguerd e o lateral Mazraoui deram lugar a El Yamiq e Attiyat Allah. Marrocos jogava com maioria da torcida no estádio em Al Thumama.

O jogo começou com Portugal mais incisivo no campo de ataque e logo aos 4’ Bruno Fernandes cobrou falta na área marroquina, João Félix se jogou de peixinho e obrigou o goleiro Bono a fazer a defesa. Aos 6’, a resposta marroquina: Ziyech cobrou escanteio na cabeça de En-Nesyri, que desviou para fora. Com 18’, Ziyech, novamente, arrematou para longe do gol, enquanto aos 31’, João Félix pegou rebote de fora da área e bateu para a defesa de Bono.

O jogo era equilibrado e a impressão que dava era que os portugueses não imaginavam sofrer tanto quando estivessem sem a bola. Marrocos era agressivo e os 34% de posse de bola na primeira etapa surpreendem, já que a média da equipe era ainda menor. E logo sairia o gol: com 42’, Attiyat Allah, que pouco apoiou no ataque em comparação a Mazraoui (titular da posição) e a Hakimi (lateral do lado oposto), apareceu no campo ofensivo para levantar a bola na área portuguesa. O goleiro Diogo Costa saiu mal do gol e En-Nesyri, pulando 2,78 m, tocou para o fundo das redes. 1 a 0 e o sonho marroquino vivo!

Bono, primeiro goleiro africano a ficar três jogos sem sofrer gols em Copas, foi escolhido o melhor em campo, assim como nas oitavas, mas fez questão de dar o prêmio para En-Nesyri, primeiro marroquino a marcar gols em duas Copas do Mundo (2018 e 2022). [Foto: Reprodução/Instagram @brfootball]


Após o gol de En-Nesyri, Bruno Fernandes quase empatou para Portugal, em chute que acertou o travessão. Ainda deu tempo de Attiyat Allah finalizar para fora e perder grande oportunidade para os Leões do Atlas.

Segundo tempo: No duelo de ataque contra defesa, a defesa foi muito melhor

Fernando Santos optou por manter a escalação da primeira etapa, mas não durou muito tempo, já que nos primeiros minutos do segundo quem levou perigo foi o Marrocos: aos 49’, Ziyech cobrou falta na cabeça de El Yamiq, que não conseguiu marcar. Dois minutos depois, o treinador português fez o que se esperava dele e colocou CR7 e Cancelo em campo. Rúben Neves e Guerreiro saíram. Agora, Portugal tinha um homem a menos no meio e um a mais no ataque . Do lado do Marrocos, Walid Regragui foi obrigado a sacar o capitão Saïss e o craque Ziyech por lesão. Dari e Aboukhlal entram em seus lugares. Outras trocas foram feitas para fortalecer a defesa da equipe. 

Aos 64’, Bruno Fernandes recebeu na entrada da área e bateu com força, mas a bola foi por cima do gol marroquino. Com 69’, Otávio e Gonçalo Ramos deram lugar a Vitinha e a Rafael Leão na equipe, mas seguiu criando pouco. A próxima grande chance portuguesa só foi acontecer numa rara falha da defesa marroquina, aos 82’. Ricardo Horta recuperou a bola e rolou para Cristiano Ronaldo, que só ajeitou para João Félix chegar batendo de fora da área com a perna esquerda, exigindo um milagre de Bono.

Já aos 91’, Cristiano Ronaldo teve a sua primeira e única grande oportunidade no jogo. Bruno Fernandes encontrou o camisa 7 correndo entre os zagueiros adversários. Ele chegou na frente, conseguiu finalizar, mas Bono defendeu. Dois minutos depois, aos 93’, Cheddira, que entrara durante o jogo, sofreu o segundo amarelo e foi expulso após falta sobre João Félix. Com 96’, a maior chance perdida: e foi de Marrocos! Aboukhlal recebeu a bola nas costas da adiantada defesa portuguesa e bateu em cima do goleiro Diogo Costa. 

No minuto seguinte, Rafael Leão fez jogada individual pela esquerda e cruzou na área. A bola passou por Cristiano Ronaldo e sobrou para Pepe cabecear para fora. Foi a última chance de Portugal, perdido no deserto, e o Marrocos se tornou a primeira seleção africana a alcançar as semifinais em 92 anos de Copa!

Do lado português, foi difícil entender as escolhas de Fernando Santos. A manutenção de Cristiano e Cancelo no banco é compreensível, tendo em vista o jogo anterior, mas retornar ao segundo tempo sem eles para colocá-los depois de seis minutos parece falta de convicção. Ou alguém achou que Gonçalo Ramos – que merece, sim, reconhecimento pelo que fez contra a Suíça, mas não deixa de ser um garoto – faria três gols novamente? 

Além disso, é de se destacar a previsibilidade da seleção portuguesa, problema similar ao sofrido pelo Brasil diante da Croácia. Atletas como Bernardo Silva, João Félix, Rafael Leão e Bruno Fernandes têm incrível capacidade de fazer o jogo fluir, mas ficaram presos:  Leão na ponta esquerda, João Félix no meio e Bruno Fernandes, principal articulador da equipe, na direita. Bernardo, que tem o costume de jogar aberto, inexistiu nesse cenário. Ou seja, nem as características dos jogadores foram respeitadas, e Portugal se limitou a cruzar bolas a partir do meio, o que dificultou o jogo de Cristiano e de Gonçalo e facilitou a atuação da defesa do Marrocos – a melhor da Copa do Mundo. Prova disso é que a única chance boa pelo alto, com Pepe, já no fim do jogo, veio de uma jogada individual de Rafael Leão pelo lado esquerdo. Os portugueses também reclamaram de ao menos dois lances de penalidade durante a partida, que acabaram não sendo marcados, mesmo havendo precedente para tal.

Antes do jogo, Fernando Santos deu uma entrevista na qual disse que conhecia a equipe marroquina, pois, segundo ele, muitos jogadores eram remanescentes do time que enfrentou (e venceu) em 2018 e outros atuavam na liga grega, que ele acompanha. Acontece que, dos 26 convocados por Regragui, apenas três jogaram a partida contra Portugal há quatro anos e nenhum atua na Grécia.

O adeus de uma lenda

Aos 37 anos, Cristiano Ronaldo está longe do seu auge. Pode ter errado em várias decisões recentes – ainda que tenha alegações bem compreensíveis para algumas delas – e feito sua pior Copa do Mundo. Mas ontem ele se despediu, muito provavelmente, de sua carreira na seleção portuguesa, e é de se aplaudir a dedicação com a qual ele jogou nos 20 anos em que serviu a Seleção das Quinas. Com ele, Portugal nunca deixou de ir a uma Copa, o que até então era comum. Foram cinco Mundiais consecutivos, oito gols marcados, a artilharia máxima da história da Euro e dois títulos continentais para uma nação desacostumada a vencer, títulos esses que ele mesmo diz serem os mais importantes de sua carreira já tão vitoriosa. Isso, somado aos 196 jogos internacionais, recorde batido no jogo contra o Marrocos, e aos 118 gols por sua seleção – outro recorde -, faz de Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro o maior jogador português da história e um dos maiores do esporte. 

Eterno. A lenda se despede, mas suas histórias se mantêm, e resta a nós, fãs de futebol, agradecermos por ter visto tudo isso. [Foto: Reprodução/Twitter @DragaoNews1893]

Milagre não; trabalho!

Por parte do Marrocos, só resta reconhecer a maturidade e a consciência tática com a qual esses jogadores encararam esse confronto e os demais. Marrocos joga na defesa, mas não só isso: sabe muito bem o que fazer quando tem a bola e não tem medo de colocar sua proposta em jogo. O gráfico de ações ofensivas na segunda etapa coloca Portugal no ataque em 96% dos momentos. Foram 82% de posse de bola e 294 passes realizados (entre certos e errados) –  a seleção marroquina deu quase sete vezes menos passes. 

No entanto, em termos de chances claras, a efetividade lusitana foi baixíssima, e a maior chance do jogo depois do gol foi marroquina. O símbolo desse jogo efetivo dos Leões do Atlas está no camisa 4, Sofyan Amrabat, que leva a palavra “leão” ao pé da letra. Está em todos os lugares e ganha todos os duelos, fazendo uma dupla de alto nível com Ounahi. Regragui já disse: “Vão dizer que é milagre, principalmente na Europa. Isso não é milagre, é resultado de trabalho duro. Nós somos o Rocky Balboa dessa Copa do Mundo. Por que meus jogadores não podem sonhar?”. 

Até onde o MarRocky de Regragui (destaque) vai no Catar, ninguém sabe. Mas a história já foi escrita. [Foto:Reprodução/Twitter @PELEJA]

Próximos passos

Marrocos encara agora a França – outro país que o colonizou -, que venceu a Inglaterra por 2 a 1 no jogo das 16h e chegou à semifinal. O jogo será disputado na quarta-feira (14), às 16h, em Al Khor. O vencedor desta partida enfrenta, na final, quem vencer o duelo entre Argentina (que eliminou a Holanda nos pênaltis após empate em 2 a 2 na prorrogação) e Croácia (que derrotou o Brasil nas penalidades depois de empatar por 1 a 1 no fim da prorrogação), que ocorre na terça-feira, também às 16h, em Lusail – palco da final do Mundial.

*A programação está no Horário de Brasília (UTC/GMT – 03:00)

Marrocos (4-3-3): Bono; Hakimi, El Yamiq, Saïss (Dari, 57’), Attiyat Allah; Amrabat, Ounahi, Amallah (Benoun, 65’); Ziyech (Aboukhlal, 82’), En-Nesyri (Cheddira, 65’), Boufal (Jabrane, 82’). [Arte: Ricardo Thomé]

Portugal (4-3-3): Diogo Costa; Dalot (Ricardo Horta, 79’) Pepe, Rúben Neves, Raphaël Guerreiro (João Cancelo, 51’); Rúben Neves (Cristiano Ronaldo, 51’), Bernardo Silva, Otávio (Vitinha, 69’), Bruno Fernandes, Gonçalo Ramos (Rafael Leão, 69’), João Félix. [Arte: Ricardo Thomé]

Gols: Youssef En-Nesyri (Attiyat Allah), 42’ – MAR

Cartões amarelos: Achraf Dari (70’), Walid Cheddira (90’+1 e 90’+3) – MARCartões vermelhos: Walid Cheddira (90’+3)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima