Jornalismo Júnior

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Elas nos bastidores do futebol

A busca pela igualdade de gênero é uma luta que avança séculos, tanto no Brasil como no mundo. No país, as mulheres votaram pela primeira vez só em 1932 e garantiram a suposta igualdade no mercado de trabalho apenas com a Constituição de 1977. Desde então, elas vêm lutando por mais oportunidades e pela garantia …

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A busca pela igualdade de gênero é uma luta que avança séculos, tanto no Brasil como no mundo. No país, as mulheres votaram pela primeira vez só em 1932 e garantiram a suposta igualdade no mercado de trabalho apenas com a Constituição de 1977. Desde então, elas vêm lutando por mais oportunidades e pela garantia de seus direitos. Porém, ainda falta muito para que mulheres e homens sejam vistos de maneira igualitária: em muitas profissões as mulheres ainda são preteridas e precisam diariamente buscar tal igualdade.

O jornalismo esportivo, por exemplo, é reconhecidamente um campo profissional masculino. Seja na reportagem da beira do campo, nos comentários durante e depois dos jogos ou na narração, é quase automático imaginar homens nessas posições. No entanto, engana-se quem pensa que as mulheres apenas aceitaram o protagonismo masculino nessas profissões: como em diversas áreas, elas têm buscado conquistar cada vez mais espaço para se firmar no meio esportivo.

Jornalista Fernanda Gentil em reportagem de campo [Imagem: Divulgação/TV Globo]

 

Conquista de espaço ao longo do tempo

A inserção das mulheres no jornalismo esportivo se deu de maneira tardia, só após a consolidação delas no próprio jornalismo – o que ocorreu de forma mais expressiva nos anos 1970. É nessa década que se inicia a transmissão no rádio do programa esportivo da Rádio Mulher, realizado apenas por mulheres e voltado para o público feminino.

Na televisão, elas começaram a fazer parte do jornalismo esportivo em decorrência da participação de mulheres na prática de esportes. Assim, puderam adquirir maior conhecimento e passaram a comentar jogos e divulgar informações esportivas. Entretanto, no início, as mulheres ocupavam papéis secundários nos programas esportivos, fazendo propaganda ou apenas lendo scripts.

Entre os nomes que se destacaram no início da participação feminina no jornalismo esportivo, começando a combater o preconceito na profissão, pode-se citar Marilene Dabus e Cidinha Campos. Ainda no final dos anos 1960, a jornalista Marilene era mal vista pela sociedade carioca por entrevistar jogadores de futebol no gramado. Já a atriz Cidinha Campos conseguiu entrevistar Pelé minutos antes do Rei marcar seu milésimo gol, o que contribuiu para a ascensão da mulher no jornalismo esportivo.

Outras duas vozes fundamentais nesse campo são Regiani Ritter e Luciana Mariano. Regiani estreou no rádio, mas ficou conhecida na televisão por ser a primeira mulher a realizar uma cobertura de Copa do Mundo, em 1990. A jornalista foi também a primeira repórter esportiva no rádio brasileiro e pioneira como narradora âncora na cobertura da Copa do Mundo de 1994.

Três anos depois, em 1997, Luciana Mariano foi a primeira a mulher a narrar um jogo de futebol na televisão brasileira: ela venceu o concurso da Rede Bandeirantes e, com os comentários de Roberto Rivellino, foi a narradora oficial do Torneio de Primavera de futebol feminino daquele ano. Essa foi a primeira experiência da narradora com o futebol feminino, esporte que se tornou seu favorito, tanto para narrar quanto para assistir. O torneio foi transmitido em TV aberta e alcançou sete pontos de audiência, um marco para a participação feminina em transmissões esportivas, sendo noticiado por toda a imprensa. Em 1999, Luciana ainda narrou o Campeonato Pernambucano, pela TV Pernambuco.

Porém, mesmo com a participação importante dessas mulheres no jornalismo esportivo e a maior inserção no segmento, ainda haviam muito poucas representantes femininas falando sobre esporte.

Vanessa Riche, Isabelly Morais e a goleira Bárbara durante transmissão da Copa de 2018 [Imagem: Divulgação / Instagram]

 

Elas em campo

A luta das mulheres para aumentar sua inclusão no jornalismo esportivo continuou e deu resultado. Se a última vez que tivemos uma mulher narrando futebol foi em 1999, a Copa do Mundo de 2018 ficou marcada como uma das melhores em representação para as jornalistas: 14% dos profissionais credenciados para a cobertura do evento na Rússia eram mulheres, ocupando funções de repórteres, fotógrafas e cinegrafistas.

Aqui no Brasil, elas também apareceram durante a Copa: canais fechados de esportes selecionaram novas narradoras para integrar suas equipes durante o mundial, como foram os casos de Isabelly Morais e Renata Silveira, no canal Fox Sports, e Eliane Trevisan, no Esporte Interativo.

Já nos comentários, outras jornalistas também tiveram destaque: Ana Thais Matos esteve diariamente no programa Troca de Passes do SporTV, tornando-se uma das comentaristas oficiais do canal; Bárbara Coelho integrou o time do Central da Copa na TV Globo e hoje é apresentadora do “Esporte Espetacular”; e Juliana Cabral, ex-jogadora de futebol que se tornou comentarista do programa “Bate-Bola” da ESPN.

Porém, mesmo que estejam ganhando notoriedade, elas ainda enfrentam duros desafios para exercer a profissão que escolheram. O mundial de 2018 também ficou negativamente marcado pelo desrespeito às jornalistas – foram dezenas de casos de machismo e assédio de torcedores contra repórteres. Destacam-se os episódios em que repórter Julia Guimarães, da TV Globo, quase foi beijada a força por um torcedor bêbado enquanto estava no ar; e da repórter russa, filmada por um grupo de torcedores brasileiros repetindo palavras obscenas em português, sem saber o que estava falando.

Por conta de casos assim que, em março do ano passado, um grupo de jornalistas se juntou e iniciou o movimento #DeixaElaTrabalhar, formando uma rede de apoio que evidencia os casos de abuso sofridos enquanto trabalham e as auxiliam durante as denúncias.

Jornalistas em vídeo da campanha “Deixa Ela Trabalhar” [Imagem: Instagram / Reprodução]

 

A voz delas

Para dar voz e conhecer um pouco mais sobre a trajetória dessas mulheres tão talentosas, o Arquibancada conversou com três jornalistas dos canais ESPN: a narradora Luciana Mariano e as comentaristas Renata Ruel e Juliana Cabral. 

Luciana Mariano é jornalista e narradora de futebol. Narrou campeonatos femininos e masculinos no fim dos anos 90, mas, por falta de espaço, teve de atuar também em outras áreas do jornalismo, como a apresentação e a reportagem, durante os anos 2000. Atualmente integra o time de narradores dos canais ESPN.

Juliana Cabral é ex-jogadora de futebol e, atualmente, comentarista esportiva dos canais ESPN. A zagueira foi capitã da seleção brasileira de futebol feminino entre os anos de 2001 e 2004, sendo bicampeã Sul Americana e medalhista de ouro no Pan Americano de 2003. Hoje, além do trabalho no jornalismo esportivo, Juliana atua como professora de Ensino Médio.

Renata Ruel é ex-árbitra assistente e atuava em jogos da FPF (Federação Paulista de Futebol) e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Apaixonada pelo esporte desde criança, Renata trabalhou tanto em jogos femininos quanto masculinos e deixou a profissão no início de 2019, após 15 anos como bandeirinha. Foi recentemente contratada pela ESPN para ser comentarista de arbitragem, substituindo Sálvio Spinola.

Confira abaixo a entrevista com as jornalistas:

 

Arquibancada – De onde surgiu o desejo por seguir carreira como comentarista de futebol? Quais eram suas inspirações?

Luciana – Eu não previa isso, as coisas foram acontecendo. Comecei como repórter de campo, depois comecei a fazer reportagem para TV e, enquanto estava fazendo reportagem, surgiu o concurso da Rede Bandeirantes de Televisão para escolher uma narradora. O Mauro Beting, que trabalhava comigo na rádio Gazeta falou: “Ah, eu acho que você deveria ir”. Eu vi que o prêmio em dinheiro era muito bom… e que ia dar para quitar meu carro, era o primeiro carro da minha vida! Daí eu falei: “Vou arriscar!”.

Juliana – Quando eu parei de jogar futebol passei por todo um processo um pouco depressivo, de ter que recomeçar a vida e foi um momento muito difícil. Eu já havia feito algumas participações em algumas televisões para comentar jogos femininos e a Rede TV estava começando um projeto em 2010 e me chamou para fazer algumas participações para falar do futebol tanto masculino quanto feminino. Ali eu encontrei uma nova luz para continuar fazendo o que eu sempre gostei e amo fazer que é o futebol, eu descobri uma nova profissão. Confesso que eu não tive tantas inspirações assim porque não foi uma coisa que eu sonhei, foi uma coisa que aconteceu na minha vida após a minha carreira como jogadora. Mas eu sempre gostei muito do Lédio Carmona e do Paulo Calçade, que são pessoas que tem bastante conteúdo.

Renata – Sempre adorei estudar e amo futebol, mas eu acho interessante que entre as várias coisas que eu estudei acho que eu não tenho nenhum curso de jornalismo. Não é que não me interessasse, sempre me interessou. Eu sempre gostei de assistir os programas, mas sinceramente acho que nunca acreditava que eu chegaria a isso. Desde 2011, eu tive a oportunidade de dar muitas palestras e isso criou uma paixão em mim em falar sobre a arbitragem, acredito que isso tenha me ajudado para hoje estar aqui na ESPN. Também tenho o Calçade pra mim como um mestre e, dentro do comentário esportivo, o Sálvio é outra pessoa que me inspira muito. Quando eu assistia programas de esporte, assistia na ESPN porque eu vejo profissionais aqui de alto nível. Então, assim, meio que aconteceu do nada [ser comentarista], mas foi um sonho, eu agradeço a Deus até dizer chega por estar aqui. Hoje, além de aprender na prática sobre o jornalismo, já estou procurando cursos para aprimorar o conhecimento.

Arquibancada – Como vocês comparam o trabalho com o futebol na televisão e no campo em termos de dificuldades e preconceito? Onde o preconceito é maior?

Juliana – Eu acho que a gente vive ainda em um país machista. Isso tem mudado muito, mas a gente lida com a maior paixão do brasileiro que é o futebol, e pensar em futebol jogado pelas mulheres é algo que não dá pra se imaginar. Acho que nenhum homem pensou que, de repente, pudesse ver o que a gente enxerga hoje em relação à modalidade ou a mulher falando em futebol em si. Mas eu acredito que toda a mulher sofra dentro da sua área um certo preconceito por essa cultura enraizada em relação ao machismo do nosso país.

Eu acho que o mais importante é se aprofundar, buscar conhecimento e cada vez mais se apropriar daquilo que também pode ser nosso – e ninguém pode dizer que não pode ser nosso. Acredito que independente do gênero, qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa desde que ela esteja aberta para fazer aquilo. Acho que esse cenário começa a mudar a partir do momento que a mulher começa a demonstrar o seu conhecimento e o seu envolvimento com o futebol. A mulher passa de ser um pouco de produto no meio do esporte para se tornar uma pessoa que realmente tem conteúdo para estar ali, não simplesmente pela capa. O principal nesse momento é a mulher ser reconhecida pela capacidade e não pelo o que ela apresenta de cara ou de corpo.

Renata – Eu sempre usei a seguinte frase: nós temos que analisar o profissional pela competência, pela capacidade, não pelo gênero. Nós vivemos em um país machista, num país preconceituoso, em que a mulher ainda escuta quando ela vai falar de futebol “Me explica a regra do impedimento?” porque parece que se você não sabe a regra do impedimento você não entende de futebol. E ainda tem um agravante, vivemos num país machista onde a mulher é machista, onde muitas vezes a mulher não aceita ouvir a outra mulher falando de futebol ou trabalhando com futebol. Eu trabalhando escutei mulher na arquibancada gritando pra mim “Vai lavar louça”, “O que você tá fazendo aí?”, sendo que ela também gosta de futebol porque ela tá na arquibancada assistindo.

Então assim, ainda tem preconceito, mas eu acredito sim que a mulher, justamente pela competência dela, está quebrando cada vez mais esse paradigma. Hoje até pela mídia social muitas vezes a gente vê o homem vindo pra você e pedindo para explicar uma regra que ele não sabe. Mas entra também o outro lado: quando você publica uma foto sua de árbitra, que pode significar um fetiche, o seu número de curtidas vai lá em cima e quando você posta um foto sua de profissional você pode ver que não tem o mesmo alcance. Aí quando vejo isso, não só na minha mídia social como de outras árbitras ou ex-árbitras, eu pergunto como eles ainda enxergam a gente.

Arquibancada – Você já passou por alguma experiência de preconceito que te fez pensar em desistir da carreira?

Luciana – Muitas! Quando eu comecei, já na reportagem, era um desafio: só tínhamos duas repórteres de campo na época, a Regiani Ritter, da rádio Gazeta, e eu. Então, quando a gente entrava em campo, e ela há muito mais tempo que eu, metade da torcida gritava uma coisa e metade gritava outra… e uma coisa era bonita e outra era feia. Mas as duas eram coisas pra te colocar numa caixinha, pra te classificar como alguém que não deveria estar ali. A outra coisa é que, houve um diretor [de TV] que, quando a gente morava ainda em Pernambuco – na época eu ainda era casada com o Luciano do Valle – comprou os direitos de transmissão da gente, e ele não quis que eu fosse [narrar]. Contrataram um outro narrador, que era homem, e disseram: “Não, a gente não quer mulher narrando!”.

Eles [os homens] não compreendem. É a mesma coisa que fazem como o futebol feminino: “Ai, mulher não sabe jogar”; eles não entendem que são coisas diferentes. E não há nem dado comparativo para isso: em vinte anos, um narrador narra algo em torno de três mil jogos… Eu, na minha vida inteira, não cheguei a marca dos cem jogos ainda. Então não tem como comparar uma coisa com a outra, seria até covardia.

Juliana – Sempre, sempre. Dentro da minha carreira do futebol muito, de início através de xingamentos e através do próprio preconceito dentro de casa – minha mãe não aceitava. É a todo momento você tendo que lutar pra ser o que sempre sonhou. Dentro do jornalismo eu acredito que também, mas acho que isso tem mudado bastante. Já trabalhei em vários lugares e vivenciei várias coisas que às vezes não são explícitas, mas tá ali na cara que aquilo é uma forma de machismo. E mesmo pelo tratamento de quem acompanha, porque às vezes quem está do seu lado é um cara, que também fala um monte de besteira, mas é um cara, não tem problema ele falar as besteiras – e quando você fala tem um tratamento diferente. É claro que isso te faz pensar em parar, te faz pensar em desistir.

Hoje que eu trabalho de comentarista já tive fases e passei por uma fase recentemente a ponto de largar, de não querer mais fazer isso por estar de saco cheio de a todo momento você ter que provar que é capaz. Mas acho que a gente vive uma fase importante, de empoderamento, de discutir certas coisas que não se discutiam. Nós mulheres agora temos pelo menos espelhos que nos fortalecem e fazem com que a gente consiga passar por essas fases de uma maneira mais simples.

Renata – Muitas vezes você desmotiva. Aqui na ESPN eu não posso falar, mas na arbitragem dentro do campo eu posso falar que inúmeras vezes você desanima sim. Quando veio o convite da ESPN eu não pensei duas vezes, justamente porque eu estava cansada disso na arbitragem. Você mantém uma regularidade nos jogos, você mostra que é capaz, mas não têm as oportunidades que eles têm e isso, depois de 15 anos na arbitragem, é de você deitar à noite na cama e chorar. Mas eu acho que justamente isso nos inspira a ser mais forte. Muitas vezes você segura para outras mulheres não desistirem, então muita gente não fica sabendo o que você passa, só olha o lado bom de que tem alguém lutando por nós. A hora que elas veem que tem alguém lutando, elas se inspiram naquilo, isso é fundamental, precisamos disso.

Arquibancada – No ano passado, os canais fechados chamaram mulheres para narrar a Copa do Mundo, mas, depois disso, o cenário voltou a ser dominado pelos homens. Vocês acreditam que as mulheres só são lembradas nos grandes eventos?

Luciana – Eu acho que a gente tem que começar de algum lugar. Você imagina que eu fiquei 22 anos sendo a primeira e única mulher a narrar. Eu me senti muito sozinha nessa posição. Então, quando vieram esses concursos do Esporte Interativo, da FOX… eu fiquei muito feliz! Eu queria o que o futebol feminino vingasse em todos os sentidos, e queria que a narração feminina vingasse em todos os sentidos. Então eu fiquei felicíssima! E eu acho que é um começo. A Renata Silveira está narrando ainda na FOX, a Isabelly está lá na[rádio] Inconfidência.

Pra mim, é triste e alegre ao mesmo tempo: é triste porque demorou demais e alegre porque finalmente está começando. Eu acho que vai aumentar a demanda [por narradoras] conforme aumentar a visibilidade do futebol feminino, ou de outros esportes que envolvem as mulheres, como basquete, vôlei e tudo mais. Agora que eles descobriram: “nossa, elas também narram!”. Então eu acredito que a gente precisa torcer muito para que os esportes femininos cresçam, para que as mulheres ganhem mais espaço.

Juliana – Eu acho que sim. Eu venho de um esporte que é muito essa realidade, que a gente também só era lembrada de quatro em quatro anos quando era Olimpíada e aí você tem que falar daquilo. No futebol feminino eu costumo falar que a gente tem um gap muito grande devido a proibição, imagina a mulher narradora, que nunca foi incentivada [a ser narradora]. Com esse negócio na Copa, que várias emissoras fizeram campanhas, competições entre elas para ver quem ia narrar um jogo ou outro, uma porta se abriu. Essas mulheres que passaram continuam inseridas, talvez ainda num volume menor, mas acho que a tendência é aumentar cada vez mais.

Renata – Eu acho que são portas que estão se abrindo e querendo ou não a campanha mundial que está acontecendo do empoderamento feminino tem contribuído muito pra isso. Eu acredito que a cultura e tudo mais esteja mudando e dando a oportunidade que a mulher nunca teve – porque capacidade sempre teve. Acredito que é só o começo, não falam que as mulheres vão dominar o mundo? As mulheres tendo a oportunidade para crescerem, elas vão atropelando tudo, fazem com vontade e vão muito além. Acho que a Copa Feminina esse ano vai ajudar a aumentar o número de mulheres e no ano que vem, ou numa próxima Copa, a gente vai ver ainda mais mulheres trabalhando no meio.

Arquibancada – Qual o sentimento quando você entende que serve de inspiração para meninas no país inteiro, que gostam e querem trabalhar com jornalismo esportivo?

Luciana – Quando alguma garota pensa em ser repórter, ser comentarista, a última barreira ainda é a narração. Então eu espero que qualquer menina que sinta vontade de narrar, possa olhar pra mim e dizer: “olha, ela narrou. Se ela pode eu também posso!”. Então, eu posso não ser a melhor narradora do universo, mas se eu puder tocar nesse sentido, de dizer: “é óbvio que você pode! Se eu que não sabia nada faço, por que você não faria?!”, eu já fico feliz!

Juliana – Ah eu fico muito feliz! Às vezes me demora a cair a ficha o quanto é importante esse papel, o quanto é importante aparecer, falar e mostrar a história por trás daquela pessoa que está ali falando de futebol, que não é de facilidade. Não, é de muita luta, é de muita batalha e de muito pensamento às vezes negativo, de desistência, mas de resistir porque é um sonho, é uma paixão. Eu fico muito feliz de ser o espelho, mas eu diria para essa meninas que nada é fácil. A única coisas que a gente precisa é ter certeza do que a gente quer, se a gente tem certeza do que quer, temos que ir atrás – sem pisar em ninguém, sem machucar ninguém, pelo caminho certo –, mas sabendo que a luta é diária e bem dura. Mas eu sou tão apaixonada por futebol que eu não consigo ver só as questões do sofrimento, da luta, mas da conquista. Independentemente do que eu tenha passado para poder hoje falar sobre futebol, poder sentar do lado de grandes caras do jornalismo para debater futebol é um troféu, uma medalha que eu tenho e não tem preço.

Renata – É um sentimento que é difícil de falar porque às vezes a gente fala tanto das dificuldades, mas é tão gostoso a hora que você consegue. Eu entrava em campo em cada jogo – e não importava o jogo, podia ser um jogo de Paulistão, de Brasileirão ou da base – e na hora do hino tinha momentos que eu parava de cantar, olhava pro céu e falava: “Deus obrigada por eu estar aqui” porque é o que eu amo e isso não tem preço. Hoje, eu estou na ESPN e ainda não caiu a minha ficha. Na hora que eu falo que eu estou aqui e que de repente eu sirvo de exemplo, eu nem consigo imaginar isso ainda. Eu acredito que se você faz por amor não é trabalho nenhum você estudar porque você gosta de fazer aquilo. Corra atrás dos seus sonhos, nada é impossível. Pode ser difícil, e é difícil, é uma luta diária, mas nada é impossível. A gente está aqui na ESPN realizando nossos sonhos, então você pode realizar um sonho sim.

Luciana Mariano, Juliana Cabral e Renata Ruel [Imagem: Divulgação / ESPN]

A Copa de Futebol Feminino de 2019 já é um marco por ser a Copa Feminina com a maior repercussão na história: tanto nos campos, como nos bastidores do futebol, as mulheres vêm conquistando visibilidade e se fortalecendo.

Esse é o primeiro mundial feminino a ser transmitido por canais abertos, com jogos ganhando grande audiência pelo país inteiro. As equipes de transmissão são compostas por mulheres nas análises e comentários durante e depois dos jogos, além das equipes de repórteres que cobrem o evento direto da França.

E, ainda que elas tenham um longo caminho a trilhar no meio do esporte, parece que, depois de tanto tempo de lutas diárias, finalmente estamos nos movimentando em direção à tão sonhada igualdade de gênero.

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