Se você acredita que gastar tempo com “joguinhos” é atraso de vida e coisa para gente preguiçosa, você pode estar bem enganado.
Essa indústria vem ganhando cada vez mais espaço no cenário brasileiro. Um levantamento realizado pela Newzoo, uma empresa que realiza pesquisas relacionadas ao mundo dos jogos eletrônicos, mostrou que o Brasil é maior mercado de games da América Latina. Em 2017, esse mercado contava com 66,3 milhões de jogadores e movimentou mais de R$ 1 bilhão, segundo dados da mesma pesquisa.
Essa expansão do mercado fez com que muitos jovens enxergassem, no que antes era apenas um hobby, uma oportunidade para a vida profissional. Com campeonatos espalhados pelo mundo, além de maior acesso a cursos profissionalizantes que permitem que mais pessoas tenham conhecimentos de como montar um jogo, essas ambições se tornam mais próximas da realidade.
Thais de Melo Costa é professora em um curso de design de games e também desenvolvedora de jogos. Ela conta que os alunos, em sua grande maioria, possuem muita criatividade e um gosto muito forte pela cultura pop geek. Além disso, segundo ela: “Os alunos chegam convictos de que vão desenvolver um jogo de sucesso”, mas nem sempre isso se torna realidade. As dificuldades de se construir uma carreira nesse meio são grandes e já conhecidas por Thais: “As maiores dificuldades na área são a divulgação e o reconhecimento. A parte de produzir é bem ‘tranquila’ comparada com a parte de ser reconhecido e divulgar seu trabalho, porque os desenvolvedores independentes são ofuscados pelas grandes empresas”.
Embora existam muitos obstáculos, quando esse projeto realmente dá certo pode gerar uma grande riqueza a seu desenvolvedor. O jogo Minecraft, por exemplo, foi criado por um programador sueco, chamado Markus Notch. Ele, desde criança, já apresentava aptidão para os jogos e em 2009, após largar seu emprego, criou o Minecraft. O jogo deu tão certo que, após seu lançamento, foi criado o estúdio Mojang, empresa que anos depois, em 2014, foi vendida para a Microsoft pelo valor de US$ 2,5 bilhões.
Outra forma de ganhar dinheiro com o mundo dos games é através das chamadas competições de e-sports. São grandes campeonatos de diversos jogos que chegam a dar prêmios milionários aos ganhadores. João Fernando, estudante de 16 anos, conta que começou a jogar desde pequeno: “Meus pais tinham um super Nintendo, daí minha paixão por jogo começou, mas hoje em dia jogo apenas no computador”. Com o passar dos anos, a vontade de investir nessa área só foi crescendo. João passou a frequentar aulas de design de games, e conta que pretende montar um computador para ter um melhor desempenho nos jogos.
Ele afirma, porém, que conseguir entrar para o mundo dos e-sports é algo realmente complicado. Além de precisar encontrar pessoas que se relacionem bem dentro da equipe e possuam conhecimento real sobre os jogos, os equipamentos também são muito caros, o que gera ainda mais dificuldades. Uma cadeira gamer por exemplo pode custar até mais de R$ 1000,00. João já chegou a montar um time, mas por conta dos compromissos escolares acabou dando uma pausa. Mesmo assim, ele afirma que ainda tem a vontade de seguir carreira. Seu sonho é participar do ESL Pro League do jogo Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO).
Trata-se de uma liga profissional organizada pelas empresas Electronic Sports League (ESL) e E-Sports Entertainment Association (ESEA). O campeonato ocorreu em níveis online e presencial. Na fase classificatória, os times da América do Sul e do Norte foram reunidos em um único bloco: o das Américas. Competindo com outros continentes, no último ano, após a fase classificatória, 16 times vão para a final, sendo oito da Europa, seis das Américas, um da Ásia e um da Oceania. O campeonato distribuiu R$ 2,4 milhões em prêmios e teve sua fase final disputada entre os dias 03 e 08 de dezembro em Odense, na Dinamarca.
Outro jogo que também possui competições muito disputadas e um grande número de jogadores é o League Of Legends. Esse jogo possui torneios tanto em níveis regionais, quanto em níveis mundiais e o valor dos prêmios são cada vez maiores. Por ter um servidor próprio, e um grande número de jogadores, o Brasil é considerado uma região competitiva (CBLOL), fora da LLA,a liga da América Latina. Em termos de premiação, o Mundial deu mais de 4 milhões de dólares, que foram distribuídos entre os 24 primeiros colocados na competição.
Esses altos valores mostram o motivo de tantas pessoas se interessarem em seguir carreira profissional no mundo dos games, mesmo enfrentando tantas dificuldades. Mas para João Fernando as perspectiva são boas: “Os e-sports estão crescendo muito nesses anos, e eu fico feliz por isso, porque dessa forma o preconceito de muitas pessoas que falam que jogos não são um bom investimento, diminui. E isso já é um grande avanço”.