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A descoberta do invisível: Museu de Microbiologia Prof. Isaías Raw

Por meio da valorização da ciência, o Museu de Microbiologia apresenta conquistas e aprendizados do universo microscópico
Museu de Microbiologia Prof. Isaías Raw
Por Lara  Cáfaro (laracafaro@usp.br)

Fundado no começo dos anos 2000, o Museu de Microbiologia é o mais recente centro cultural do Instituto Butantan e possui uma história atrelada ao aprendizado e à paixão pela ciência.

Situado na capital paulista, o Instituto Butantan abriga um dos maiores acervos de pesquisas e conhecimentos desenvolvidos no país. Atualmente, é o maior produtor de soros e vacinas da América Latina, além de ser o principal fabricante de imunobiológicos no Brasil. Referência mundial de excelência, é responsável por diversos estudos na área de biologia e biomedicina que estão relacionados direta ou indiretamente com a saúde pública.

O Museu de Microbiologia foi idealizado pelo médico e professor Isaías Raw. Anteriormente, o prédio era utilizado como um refeitório, mas foi desativado. Dessa forma, surgiu a ideia de um museu que demonstrasse a importância dos microrganismos, utilizados na produção de vacinas e soros.

É possível visitá-lo de terça-feira a domingo, das 9h às 16h45. O ingresso é válido para conhecer também os outros três museus do Instituto Butantan: Museu Biológico, Museu Histórico e Museu da Vacina.

O universo microscópico

Na exposição de longa duração do museu, o visitante realiza uma expedição da realidade aumentada no mundo dos microrganismos. O acervo conta com exemplares que vão desde o primeiro microscópio até as descobertas mais recentes da ciência. A mostra apresenta modelos tridimensionais de conteúdos da microbiologia e microscópios para observação de células e microrganismos. Diversos computadores estão disponíveis para o acesso a jogos interativos e vídeos com explicações rápidas. Essa área pretende apresentar os elementos da ciência que são invisíveis ao olho humano.

Tela de computador com conteúdo do Museu de Micro Biologia
O conhecimento epidemiológico sobre as doenças permite classificá-las e obter informações de suas características e possibilidade de prevenção [Imagem: Acervo pessoal/Lara Cáfaro]

Na época da inauguração, as exposições eram direcionadas apenas ao público adulto. No entanto, com a crescente visitação de inúmeras escolas, surgiu a necessidade de uma mostra voltada para o público infantil. Em entrevista à Jornalismo Júnior, a coordenadora do Museu, Glaucia Collin, relata que “a demanda por uma exposição voltada para crianças até o Fundamental I foi absolutamente necessária, uma vez que os conteúdos eram difíceis e os estudantes não conseguiam compreendê-los”.

A exposição “O mundo gigante dos micróbios” foi baseada em uma pesquisa realizada com as próprias crianças: tendo sido o objeto de estudo, tudo foi pensado para elas. Essa apresentação destaca o aspecto ambiental e a importância dos micróbios na cadeia alimentar aquática e terrestre.

Segundo um estudo da Universidade de São Paulo (USP), a realização de pesquisas na área de Educação Infantil exige um cuidado redobrado com os sujeitos analisados para  que seja possível encontrar metodologias adequadas, considerando  esses sujeitos como completos em si mesmos, conscientes de sua condição e que se expressam de múltiplas formas. 

De acordo com os estudos desenvolvidos, para os pequenos, o reconhecimento da presença desses seres vivos está associado, predominantemente, à sujeira. Essa condição  reforça ainda mais a possibilidade do aprendizado das crianças sobre o tema, além da necessidade de aprofundar os conhecimentos em relação ao nível de entendimento infantil sobre microrganismos. A constatação também aponta para maiores investimentos na formação dos educadores com o objetivo de torná-los aptos para o desenvolvimento de atividades sobre microrganismos adequadas aos menores.

Área de atividades dentro do Museu de Micro Biologia
Áreas de aprendizado destinadas ao público infantil estimulam a formação de crianças protagonistas com o intuito de despertar a sensibilidade cultural e artística [Imagem: Acervo pessoal/Lara Cáfaro]

Programa MicroToque

A inclusão é indispensável em todos os contextos, inclusive nos momentos de lazer. Por isso, o programa MicroToque visa oferecer atividades táteis e audiodescritivas a pessoas com deficiência visual. Ele é um dos resultados das pesquisas do núcleo do museu, que busca o lazer adaptado como meio de atender às necessidades individuais de cada pessoa, permitindo que todos possam participar e desfrutar da experiência. A produção do material exposto é resultante de uma parceria entre o Instituto Butantan e a Fundação Dorina Nowill

O espaço conta com uma maquete do museu composta por materiais de alta resistência ao toque e coloridos para pessoas com baixa visão. A exposição apresenta modelos tridimensionais do vírus da imunodeficiência humana (HIV), da bactéria Escherichia coli, do protozoário Trypanosoma cruzi e do fungo Penicillium notatum, todos com legenda em braile.  A Praça dos Cientistas também está disponível no programa, onde estão 11 bustos de renomados cientistas nacionais e estrangeiros que contribuíram para o desenvolvimento da microbiologia.

Maquete do projeto Micro Toque dentro do museu
As práticas inclusivas em museus desempenham um papel crucial na estruturação de uma sociedade igualitária [Imagem: Acervo pessoal/Lara Cáfaro]

Memórias e reencontros

Durante a semana, as atividades são focadas no público estudantil, com visitas guiadas e acesso ao laboratório do museu. O local, repleto de aparelhos e materiais, possibilita aos jovens alunos, acompanhados de seus professores, ampla interatividade por meio de experiências orientadas pelos educadores.

Além das exposições fixas, o museu conta com uma exposição temporária, “Os cientistas: memórias e reencontros”. Através de painéis e vídeos, são contadas as histórias dos cientistas Myriam Krasilchik, Isaías Raw e Maria Julieta Ormastroni. Eles foram educadores importantes para a consolidação do IBECC/SP (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura). O objetivo desse órgão era apoiar projetos na área estudantil e científica. 

A partir disso, criaram a Funbec (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências) em 1966. O propósito era industrializar e comercializar materiais didáticos de modo a não conflitar com o papel do IBECC, o qual estava sob intensa interferência política durante o regime ditatorial. 

A coleção “Os Cientistas” oferecia ao público a oportunidade de realizar experimentos nas áreas de química, física e biologia. Foram 50 kits diferentes, que, além do material para a realização do experimento e do manual de instruções, contavam com a biografia do cientista relacionado ao tema. Mais tarde, a coleção “Os Cientistas” passou a ser distribuída pela Editora Abril e vendida em bancas de jornal. Foram mais de 2 milhões de exemplares comprados em todo o Brasil. 

Painel educativo sobre os kits da coleção "Os Cientistas"
Na mostra, os visitantes podem compreender o contexto histórico dos kits, em texto e vídeo, além de observar exemplares da época e conhecer um pouco da história do museu [Imagem: Acervo pessoal/Lara Cáfaro]

Além do trabalho: um propósito de vida

O museu tem como objetivo estimular a curiosidade científica nas pessoas, especialmente nos jovens. Para a coordenadora Glaucia Collin, é fundamental criar oportunidades de aproximação com a cultura científica, por meio de ações educativas, para fomentar cidadãos críticos e atuantes na sociedade. “Nós temos uma missão aqui: devemos despertar a curiosidade do público em geral. Queremos cada vez mais disseminar o conhecimento e as pesquisas do Instituto para todos. Um dos programas que promovemos mensalmente é o ‘Por dentro do Butantan’, no qual abrimos o laboratório para divulgar os estudos de pesquisadores parceiros.”

O professor de biologia Rafael Costa ressalta a importância dos museus para o aprendizado escolar. “As visitas proporcionam aprendizado prático, estimulam a curiosidade e a aplicação prática do conhecimento teórico. Eles também desenvolvem as habilidades críticas como o pensamento analítico e a resolução de problemas. Portanto, são uma ferramenta valiosa no ensino de biologia e no fomento ao interesse científico.”

Conforme uma dissertação da Universidade de São Paulo que analisa o processo de aprendizagem em museus, ao decorrer da história, o papel educacional dos museus de ciências deixou de ser coadjuvante e passou a ser prioritário para a concepção das exposições. A crescente preocupação com o caráter educativo conduziu as instituições museológicas a reformular e implementar suas estratégias comunicativas com o intuito de se adequarem às expectativas de seus visitantes e de facilitarem o acesso às informações científicas.

A natureza multidimensional do aprendizado engloba experiências visuais, sociais e pessoais, características consideradas típicas dos museus. Considerando que os objetos são a principal fonte de atração e mediação das exposições, o estímulo multissensorial gerado por eles pode unir o aprendizado ao prazer e, desta forma, criar um envolvimento pessoal que passa a fazer parte das experiências dos visitantes, que veem as visitas como uma oportunidade de aprendizado associada ao lazer. Estas características contrastam com as experiências vivenciadas em ambientes de educação formal como as salas de aula, onde os aspectos verbais são enfatizados como os principais meios de instrução.

O professor, Rafael Costa ainda destaca a importância crucial do estudo da microbiologia em diversas áreas. “Na saúde, esse conhecimento possibilita não apenas o tratamento de doenças infecciosas, mas também o desenvolvimento de vacinas e antibióticos. Além disso, no ambiente, os microrganismos desempenham um papel essencial no ciclo de nutrientes e na biorremediação.”

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