Por Maria Clara Ramos (mariaclarasr@usp.br)
Na última sexta-feira (06/09), foi realizada a final dos 400m T62 masculino do atletismo nas Paralimpíadas de Paris. A classe T62 refere-se a atletas com as duas pernas amputadas abaixo do joelho. Brigavam pelo ouro o alemão Johannes Floors, o holandês Olivier Hendriks, os norte-americanos Hunter Woodhall e Blake Leeper, os sul-africanos Paul Daniels e Daniel du Plessis, o grego Stylianos Malakopoulos e o brasileiro Alan Fonteles.
A prova aconteceu no Stade de France, em Saint-Denis [Reprodução/Youtube/Paralympics]
O primeiro a cruzar a linha foi Hunter Woodhall, com um tempo de 46s36, seguido de Johannes Floors, que ainda possui o recorde paralímpico dos 400m T62, estabelecido na última edição dos Jogos. O bronze ficou com Olivier Hendriks, e marcou a primeira vez do holandês em um pódio nas Paralimpíadas.
Woodhall fez uma prova de recuperação, e tomou a liderança de Floors nos metros finais. O americano de 25 anos já havia conquistado o 3º lugar na prova em Tóquio 2020, e dessa vez garantiu o primeiro ouro paralímpico de sua carreira.
Nas redes sociais, Woodhall compartilhou imagens comemorando o resultado com sua parceira Tara Davis-Woodhall, que também se tornou medalhista de ouro este ano, nos Jogos Olímpicos de Paris, pela modalidade salto em distância. O casal apareceu segurando as medalhas douradas em um story com a legenda: “That gold medal feeling” (Aquele sentimento de ter uma medalha de ouro).
Hunter Woodhall e Tara Davis-Woodhall em postagem no Instagram após o pódio dos 400m T62 [Reprodução/Instagram/thewoodhalls]
O paraense Alan Fonteles largou na raia de número quatro na final dos 400m, prova que priorizava na competição. Mas o atleta perdeu força na segunda metade da decisão, e seu tempo de 50s3 não foi suficiente para a conquista de uma medalha para o Brasil.
Fonteles tem três medalhas paralímpicas de edições anteriores dos Jogos. Em Pequim 2008, o brasileiro conquistou a prata no revezamento 4x100m, aos 15 anos de idade, e repetiu o feito no Rio de Janeiro, em 2016. Já em Londres 2012, subiu no lugar mais alto do pódio dos 200m T43 ao superar o favorito para o ouro Oscar Pistorius, da África do Sul. Na época, o impressionante resultado do brasileiro ganhou repercussão mundial.
Fonteles segurando jornal internacional com a manchete “The boy from Brazil” (O garoto do Brasil) [Reprodução/Youtube/Comitê Paralímpico Brasileiro]
Após a prova desta sexta-feira, Alan fez o que chamou de “desabafo” sobre seus últimos anos de competição nos Jogos Paralímpicos: “Eu estou correndo 15 centímetros abaixo há sete anos, e nada é feito. Os outros atletas baixaram quatro, cinco centímetros, e eu baixei 15. Isso implica muito na minha corrida, no meu resultado”, disse o velocista em entrevista ao Sportv.
Os 15 centímetros mencionados por Fonteles referem-se à dimensão de suas próteses. Após perder o ouro em 2012, Oscar Pistorius protestou o resultado da final dos 200m, e o tamanho das próteses de Alan passou a ser questionado.
O ouro do brasileiro foi mantido, mas em 2014, uma avaliação do Comitê Paralímpico Internacional determinou que os dispositivos usados por Fonteles deveriam ser menores. O cálculo do comitê estipula a altura que os atletas teriam se tivessem as duas pernas, e no caso de Alan, essa estatura foi de 1,85m para 1,71m após a avaliação. O paraense afirma que a mudança o obrigou a se reinventar em uma nova altura, o que tem se provado desafiador.
Em 2012, Alan Fonteles competia na classe T43, que abrangia atletas com limitações nos dois membros inferiores, com perda de funcionalidade ao nível dos pés, tornozelos ou pernas [Reprodução/Youtube/Paralympic Games]
Imagem de capa: Reprodução/Instagram/hunterwoodhall