por Amanda Manara
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Estreia nessa sexta feira Alemão (Idem, 2014), mais um filme brasileiro que promete sucesso. O longa é um thriller policial que se passa nas 48 horas que antecederam a invasão do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), em 2010. Apesar de ser baseado em fatos e reportagens jornalísticas, a obra trata-se de uma ficção.
Fazer um filme policial sempre esteve nos planos do produtor, Rodrigo Teixeira, que teve a ideia sobre Alemão após assistir uma reportagem sobre a pacificação do Complexo. Porém este é um filme policial “invertido”. A perseguição foge do convencional “policial persegue bandido”, e ocorre justamente o contrário. Ao descobrirem que existem 5 policias infiltrados no morro, os traficantes, liderados por Playboy (Cauã Reymond) começam uma caçada pelas ruas do Complexo, e não pretendem parar até que todos estejam mortos.
Os policiais, Branco (Milhem Cortaz), Doca (Otávio Müller), Carlinhos (Marcelo Mello Jr), Danilo (Gabriel Braga Nunes) e Samuel (Caio Blat), ao descobrirem que estão sendo procurados, se escondem na pizzaria de Doca e começam a acusar uns aos outros de traição. Diante do medo e apreensão, achar um culpado parece amenizar a situação, embora estivessem equivocados ao tentar fazê-lo. Após passarem um tempo acreditando que Carlinhos teria sido o informante, já que namorava a irmã de um traficante, os policias desistem de procurar explicações e apenas tentam sobreviver.
Em meio a todo suspense de tentativas de invasão e procura dos traficantes, Mariana, uma moradora da comunidade que trabalhou como faxineira de Doca, entra na pizzaria para pegar seu pagamento. Porém ao presenciar a situação, todos escondidos, armados, e inclusive um deles algemado, é feita de refém, para evitar uma denúncia. Com isso os policiais ganham uma carta na manga: Mariana é a ex mulher de Playboy, e seu grande ponto fraco.
O longa também é marcante pela humanização dos personagens. Por trás de toda a perseguição, tiroteios e torturas, cada um, policial ou traficante, possui sua história, seu drama pessoal. O de Playboy é Mariana, que o abandonou quando ele resolveu entrar para o crime. O de Samuel é sua necessidade de se afirmar como policial por vocação, e não por ser filho do rígido delegado Valadares (Antônio Fagundes). O de Carlinhos é seu amor por Letícia, irmã de um traficante. Ou seja, além das cenas de ação, podemos ainda acompanhar alguns dramas, que podem até arrancar algumas lágrimas com o desfecho da trama.
Outra qualidade do filme é o modo como os lados da história são retratados. Não há os convencionais mocinhos e bandidos. Há a polícia e os traficantes. E são apontados defeitos e qualidades de ambas as partes, trazendo principalmente uma reflexão sobre a questão da pacificação, do tráfico e como a polícia age nos morros. Assim, aqueles que assistem ao filme se sentem livres para tirar suas próprias conclusões e escolher de qual lado ficar. Nas palavras do próprio produtor: “Esse filme é mais uma problematização da questão do que uma tomada de partido. Vendo o filme pronto, com os elementos adicionados pelo Belmonte (diretor), sinto que o filme cativa as pessoas a pensarem no universo político e social ao seu redor”.
A fotografia rápida e a trilha sonora se encaixam perfeitamente na realidade do filme. As músicas remetem ao próprio complexo do Alemão, com artistas como MC Smith, que faz parte da comunidade, e do Rap e Funk carioca, que também são muito presentes nos morros. Elas tornam o plano de fundo do retrato das favelas mais verídico e ajudam na narrativa. Assim, o combo “filme para refletir E entreter” torna-se completo e tem tudo para agradar o público.