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‘Não Leve a Mal’: a prima obra da banda Pluma

Antes do lançamento oficial de seu primeiro disco, Pluma compartilha as músicas em audição intimista na Casa Rockambole
Por Catarina Bacci (cbmedeiros@usp.br)

No último mês, a banda Pluma lançou seu primeiro álbum completo. Não Leve a Mal (2024) conta com 12 faixas e é o resultado de dois anos de dedicação de Diego Vargas (teclado/sintetizador), Guilherme Cunha (baixo), Lucas Teixeira (bateria) e Marina Reis (vocais). O grupo realizou a audição do disco na casa de shows e selo musical Rockambole no dia 16 de julho, dois dias antes da estreia. Além dos fãs que compraram ingressos, o público do evento era de convidados pessoais dos integrantes – família, amigos e colegas do selo. 

A Casa Rockambole apresenta um ambiente agradável e acolhedor, tanto para frequentadores, quanto para quem vai pela primeira vez. Fãs, funcionários e artistas dividem o mesmo ambiente. Inaugurado há dois anos no local do antigo Centro Cultural Rio Verde, o espaço concentra as pessoas em frente ao seu coreto na expectativa das novas músicas. A audição viu a presença de músicos como Leo Quintella, Enrico Vaz, a banda Fraterna Trip, além de Felipe Martins, Gabriel Cavallari e Pedro Martins da banda O Grilo, da qual Lucas também faz parte.

A Pluma surgiu enquanto os integrantes trabalhavam juntos em um projeto para uma disciplina de Produção Musical na faculdade, antes de se tornarem mais próximos. Os quatro criaram músicas juntos para seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e decidiram que o grupo não poderia ficar apenas na universidade, então deram continuidade. A banda apresenta um som distinto, e uma formação também: não tem um guitarrista fixo. Seu segundo EP, Revisitar (2021), foi descrito pela revista Rolling Stones como tendo características de “indie pop e referências ao Kazz, rock psicodélico e dream pop”. O teclado ganha espaço nas suas canções, inclusive no disco novo.

A primeira vez do primeiro álbum

Antes da reprodução das músicas, o público foi reunido no anfiteatro da Casa Rockambole, espaço utilizado para apresentações, e os artistas fizeram rápidos discursos. Lucas começou compartilhando um pouco sobre a trajetória do quarteto. Diz que, antes de se juntarem, havia certa hesitação das partes. Marina adiciona “eu achava que ele só tocava rock” e tira risadas dos presentes.O baterista relembra as ambições iniciais da banda: expõe que buscavam um som que estava além de suas capacidades musicais da época. “Parecia que estávamos o tempo todo tentando cruzar uma linha, porque estávamos.” Relata que, ao ouvir suas demos antigas, percebe-se o grande esforço para obter a sonoridade buscada mas, com o tempo, criaram aprendizados e se desenvolveram.

Na imagem, a vocalista da banda Pluma aparece no palco gesticulando. A luz do ambiente é azul.
O palco onde falavam foi usado para gravar trechos de bateria [Imagem: Catarina Bacci/Acervo Pessoal]

Depois de se graduarem, decidiram apresentar músicas para o selo Rockambole, que Lucas já conhecia pel’O Grilo. Ele conta que mostraram canções para Ygor Aléxis, produtor do selo, cuja primeira reação não foi totalmente positiva. Uma das faixas era em inglês, fator negativo para a Rockambole; a preferência é pelo português.

Tentaram novamente, conquistaram um espaço dentre os nomes da casa e cresceram como artistas. Em 2022, receberam um convite para irem a Barcelona tocar no festival Primavera Sound. Lá, o quarteto viu o show do artista Tame Impala e tiveram o que Lucas descreveu como uma espécie de epifania coletiva. Da admiração, veio a inspiração para compor, e uma das faixas saídas desse momento está em Não Leve a Mal. Em outubro do mesmo ano, foram para o sítio de familiares de Marina e ficaram dez dias “enfurnados fazendo música”, nas palavras do baterista.

Após expressar orgulho pela banda, pelo quanto ela evoluiu e pela quantidade de pessoas presentes, Lucas passa o microfone para Diego. O tecladista fala do processo de construção do álbum com o adjetivo “conturbado”. Ele brinca: “quem tem banda aprende que acontece muita D.R. (Discussão de Relacionamento)”. Diz que todos têm muitas expectativas e tentam fazer o seu melhor, mas cada um tem uma visão do produto final. Ele completa que encontrar o meio termo entre as opiniões é uma trajetória bonita e nenhum deles poderia ter feito isso sozinho.

“Uma banda assim se encontrar e se formar é algo singular que acontece na história.”

Diego Vargas

Entre as palmas dos convidados, Diego encerra seu discurso, e Marina fala da emoção de ver todos os presentes – rostos conhecidos e desconhecidos. Ela conta que, por ser o primeiro álbum, sente haver muita expectativa e ansiedade, tanto da sua parte quanto do público. Apesar do nervosismo, ela diz estar feliz de encontrar quem compareceu. “Não faz sentido fazer música se não for para compartilhar com outras pessoas, principalmente com pessoas tão importantes para nós.”

A vocalista reforça a dificuldade do processo de elaboração de um disco e fala de sua gratidão pelo apoio que o grupo recebeu. Por fim, ela afirma a expectativa de que os ouvintes gostem do produto final feito pela banda, porque “todas as músicas tem um pouco de nós quatro”.

Pessoas aproveitando a audição da banda Pluma
O disco todo foi gravado no estúdio da Casa Rockambole [Imagem: Catarina Bacci/Acervo Pessoal]

O discurso de Guilherme foi a “lista de agradecimentos”. Dentre os muitos envolvidos no desenvolvimento de Não Leve a Mal, ele agradece Hugo Silva, que chamou de “produtor e psicólogo” da banda, por ter ajudado a “lapidar as ideias e materializar o som que estava nas nossas cabeças”. Também citou Gabriel Rolim e Pablo Aguiar, diretores do videoclipe da canção Quando Eu To Perto. O baixista diz que, quando músicos decidem gravar um clipe, encontram grandes diferenças de orçamentos e de realidades, e que tem sido reconfortante para a banda encontrar pessoas que também queriam fazer a produção acontecer.

Por último, Guilherme agradece as participações musicais no álbum. Ele cita Lucas Gomes, trompetista que faz um solo na 12° faixa. Os “obrigados” também vão para Felipe Martins, pelo trecho de guitarra em uma das canções, Pedro Martins, por ter feito parte da composição de outra – ao que o baixista admite estar entre as suas favoritas. E, entre risadas leves, a banda agradece a Gabriel Cavallari por suas ideias boas, mas que não entraram para o disco.

A imagem cantada e tocada

Como uma comemoração ao final das falas do quarteto, Marina abre a garrafa de espumante entregue pela produção, e a Pluma brinda ao som do início da primeira música. No geral, Não Leve a Mal é bastante imagético: os instrumentais e as letras se combinam para criar cenários e narrativas na mente de quem escuta. O álbum é bom em transmitir sensações e remeter a momentos ou ações se o ouvinte se deixar levar — o que se torna fácil com o som envolvente das 12 faixas. Apesar de terem uma discografia interessante e fácil de ouvir, o novo disco certamente se destaca dos lançamentos anteriores.

Quando Eu Tô Perto abre o álbum com vocais distorcidos e angelicais, mas depois se desenvolve em uma batida dançável. O refrão é fácil de acompanhar e desperta vontade de fazê-lo. Após o ápice criado com a bateria intensa, a faixa termina com um som forte, similar a um som estourado, em contraste com as notas agudas que o seguem. A próxima música, Se Você Quiser, é mais suave e parece transmitir duas sensações diferentes de quando se está apaixonado. O começo faz o ouvinte se ver lendo um livro que o lembra de uma pessoa amada, enquanto o refrão animado é como andar de bicicleta na orla de uma praia em boa companhia.

A terceira canção é o single Corrida!, que cria a cena no imaginário com a maior facilidade. Isso acontece porque a bateria do pré-refrão que se consolida no refrão remete perfeitamente ao correr, até mesmo através da batida que se transforma nos “passos” do personagem. Após a mudança de ritmo, a letra do final insere uma voz que poderia ser tanto do mesmo eu lírico da primeira parte, quanto de um observador externo, criando uma narrativa criativa e interessante.

Na imagem, algumas pessoas presentes conversam na audição da Pluma
A ambientação da casa dialogava com os temas do álbum [Imagem: Catarina Bacci/ Acervo Pessoal]

A faixa seguinte, Jardins, demonstra a variedade de sentimentos que o álbum desperta. Os vocais, que lembram uma sereia, colaboram com os instrumentos para gerar uma imagem de estar sozinho em uma casa de shows mal iluminada. Mais Uma Vez combina as palavras da letra com a quantidade de vezes que são cantadas para formar a sua história. Ao falar de um relacionamento ao qual o eu lírico “insiste em voltar”, Marina canta “só uma vez” repetidas vezes e conta essa experiência sem explicar diretamente o que acontece na narrativa.

As músicas Preguiça e Não Leve a Mal têm instrumentais que levam o ouvinte a cenários fora da realidade. A sexta faixa tem uma sonoridade onírica e mística; já a sétima parece vir do espaço sideral, imagem que colabora com a sua sensação de estar deslocado. O eu lírico de Plano Z também não está confortável, mas por soar estar confuso e em aguardo, principalmente no início. Conforme a música corre, o instrumental demonstra a frustração que a voz tenta disfarçar de ter que estar “na torcida para ver esse jogo virar”, como aparece nos versos.

Lucas e Guilherme responderam ao Sala 33 que Sem Você (ft. Deekapz) é a sua música favorita do disco, e pode-se compreender o porquê. É a mais distinta sonoramente, com quebras no ritmo e mudanças de melodia acontecendo algumas vezes, mas consegue se manter coesa. A introdução da próxima canção, Doce/Amargo, remete a uma discoteca retrô, embora não se encaixe totalmente no gênero — mas traz a animação dele. Mais pessimista, Quanto Vai Ficar? tem um baixo marcante e reconhecível, e cria uma ponte sentimental em conjunto com os demais elementos da música. A bateria de alguns de seus trechos remete à batida de um coração.

Finalizando o álbum com chave de ouro, Sonar se diferencia pelo solo de trompete que se mescla e se destaca dos outros instrumentos na mesma medida.

*Imagem de capa: Reprodução/Instagram/@uma.pluma/@caio.mazzilli/@mariacaulevy

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