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A ascensão da música alternativa durante a década de 90

Como um gênero musical que nasceu nas lacunas da indústria cresceu, conquistou seu espaço e passou a influenciar, até hoje, o cenário fonográfico

A música alternativa é conhecida, atualmente, como um gênero musical bem reconhecido. Abrangendo nomes como Arctic Monkeys, Tame Impala, Twenty One Pilots, Florence + the Machine, The Lumineers, essa categoria musical não poderia possuir estilos sonoros mais diversificados. O gênero alternativo, ou, como muitos consideram, independente, alcançou, com o tempo, uma variedade sonora tão grande que possui subgêneros: indie-rock, indie-pop, grunge, Britpop, entre outros.

Um grande marco para o desenvolvimento da música alternativa foi a transição do cenário musical estadunidense para a década de 90. De acordo com a jornalista Stephanie Horas, o alternativo/independente pode ser definido como o reflexo de um grupo de membros da sociedade que não se viam (ou veem) na música que toca popularmente nas rádios. Grandes astros do rock n’ roll alcançaram sucesso na década anterior e atravessaram o marco temporal com muita força, como Guns N’ Roses, Aerosmith e Bon Jovi. No entanto, foi de forma paralela a esse cenário que o rock alternativo começou a se desenvolver. Bandas como Pixies, Sonic Youth, Smashing Pumpkins, The Cranberries e Hole, apesar de terem sido formadas durante os anos 80, tiveram seu sucesso consolidado a partir de 1990.

 

Integrantes do Sonic Youth em foto tirada fora do clube CBGB, em Nova Iorque. [Imagem: Reprodução/Instagram/@sonicyouth_official]
Integrantes do Sonic Youth em foto tirada fora do clube CBGB, em Nova Iorque. [Imagem: Reprodução/Instagram/@sonicyouth_official].

 

Ao mesmo tempo que o rock alternativo se desenvolvia, a situação em Seattle em relação à música era um pouco distinta: no fim dos anos 80, surgiu, na capital de Washington, o esboço de um novo estilo musical que os críticos chamariam, posteriormente, de “grunge”. A mistura de punk e metal, com seus riffs de guitarra distorcidos, letras obscuras e vocais distinguíveis se tornou extremamente popular na década de 1990 e contava com nomes como Nirvana, Pearl Jam e Alice in Chains. Grupos que fizeram parte do grunge se tornaram extremamente populares e atingiram níveis extremos de celebração. Com o lançamento do álbum Nevermind (1991), Nirvana atingiu o ápice e o grunge infiltrou o centro do quadro cultural da década.

 

Kurt Cobain e Dave Grohl, integrantes do Nirvana, em entrevista para a estação de rádio WFNX de Boston, 1991. [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Julie Kramer].
Kurt Cobain e Dave Grohl, integrantes do Nirvana, em entrevista para a estação de rádio WFNX de Boston, 1991. [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Julie Kramer].

 

Do alternativo ao mainstream

Observa-se uma confusão em relação aos termos “independente” e “alternativo”, que muitas vezes são utilizados para se referir a um mesmo tipo de música. O adjetivo “indie” se refere àquelas músicas publicadas por gravadoras independentes que não fazem parte do círculo das empresas mais comerciais ou mainstream que dominam o rádio, a TV e, portanto, as vendas. Natalia Garcia, jornalista cultural e fundadora do ROCKNBOLD, acredita que há semelhanças entre a música alternativa e independente, mas que esse entendimento varia de pessoa para pessoa. Ela diz que, no fim das contas, o indie e alternativo tem significados semelhantes quando falamos de gêneros musicais emergentes e autênticos, mas na atualidade, o indie continua simbolizando um som mais pop e folk que não tem a intenção de ser extremamente comercial: “O indie não tem como objetivo atingir as massas, mas levar um trabalho autêntico e genuíno com o que se tem, por isso o nome se associou à imagem de bandas pequenas de garagem. É como se fosse uma cultura que ainda valoriza muito mais a arte do que a fama. Por outro lado, temos muitos artistas pop que criam um som alternativo e são extremamente comerciais porque tem uma grande corporação ou gravadora por trás da arte e imagem deles” , ela continua. 

Com a extrema ascensão das bandas que fizeram parte do grunge como um movimento cultural, o alternativo de fato se tornou mainstream, o que é visto por muitos como uma contradição. Stephanie fala sobre a transição e popularização de artistas alternativos: “Creio que, conforme esse estilo ficou mais popular, cada vez mais pessoas começaram a se identificar com as letras e melodias criadas por artistas daquele nicho, o que fez com que as faixas fossem pedidas nas rádios, muito populares naquela década e propagadas ao redor do globo.” É dessa forma que entra em discussão a autenticidade da música que agora faz parte do mainstream e pode ser altamente influenciada pelas forças do mercado, indo contra suas raízes que, de alguma forma, refletiam o desejo artístico da liberdade que quebra barreiras e busca a livre expressão, sem um grande poder autoritário. “Eu acredito que o indie raiz mesmo é feito sem influências do mercado, porém, muitos artistas do gênero acabam, eventualmente, indo de encontro com essas influências com o decorrer do tempo, seja por pressão da gravadora ou por vontades individuais de tentar algo novo.“, continua Stephanie.

 

A expansão do alternativo

A explosão de sucesso do grunge não se limitou aos Estados Unidos, mas chegou a influenciar artistas e movimentos em escala mundial. Em 1994, após a morte de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, o movimento que teve origem em Seattle entrou em declínio. No entanto, o que era considerado parte da música alternativa se flexibilizou, e a marca deixada pelo grunge se tornou atemporal. Natalia diz que é comum ouvir que o Nirvana uniu todas as tribos: “É verdade, porque o grunge em si trazia muito do rap e hip hop. Isso fica evidente principalmente na discografia do Rage Against The Machine que trazia a fúria do rock em vocais de rap, então esse sentimento do grunge vinha de tudo que na época parecia marginalizado, sujo e literalmente furioso”. Ela diz que, no fim da febre do grunge, algumas bandas ainda continuavam muito inspiradas por esse som pesado do gênero, e então surgiram bandas mais modernas como o próprio Linkin Park, Foo Fighters, Audioslave, Muse, e o Pearl Jam continuou na ativa”.

Nesse contexto, surgiu o Britpop, movimento cultural e musical baseado no Reino Unido que uniu a influência do cenário musical proporcionado pelos artistas do grunge às  influências dos anos 60, como Beatles e The Animals. Com sua abordagem mais próxima do pop, guitarras melódicas e refrões marcantes, o movimento britânico contou com bandas que impactaram a década, sendo que a maior parte delas tinha origem restrita a grandes cidades como Londres e Manchester. O movimento contou com lançamentos de extrema importância e alcance:  o álbum (What’s the Story) Morning Glory? (1995), da banda Oasis, e Blur (1997), de Blur, marcaram a década com músicas como Wonderwall, Don’t Look Back in Anger, e Song 2.

 

Liam Gallagher, integrante do Oasis, em Dublin, 1996. [Imagem: Reprodução/Instagram/@oasis]
Liam Gallagher, integrante do Oasis, em Dublin, 1996. [Imagem: Reprodução/Instagram/@oasis].

 

Ainda contemplando o Reino Unido, a banda Radiohead, formada em Oxford, lançou seu primeiro single, Creep, em 1992, e seu primeiro álbum, Pablo Honey, em 1993. O estilo musical desenvolvido pela banda se difere em diversos pontos do que era mais comum no Britpop. Apesar de ter obtido grande sucesso durante o grande movimento britânico,  Radiohead utilizava, no início, o pesado som de guitarras eletrônicas, e então passou a explorar demais instrumentos e um estilo eletrônico, sendo considerada uma banda parte do rock alternativo ou experimental. O grande lançamento do grupo durante a década de 90 foi o álbum OK Computer (1997), considerado seu grande sucesso e obra-prima.

 

Thom Yorke e Phil Selway, do Radiohead [Imagem: Reprodução/Instagram/@radiohead]
Thom Yorke e Phil Selway, do Radiohead [Imagem: Reprodução/Instagram/@radiohead].

 

Além do Britpop, surgiu também o chamado rock alternativo moderno. De acordo com Natalia, os Strokes foram um dos maiores responsáveis pela popularização do gênero: “Os Strokes mesmo são de 1998, mas o som deles é o puro sentimento do new rock dos anos 2000, porque foi ali que se popularizaram. Esse novo rock mais tarde ganhou fama de ‘indie rock’ apesar de tudo aquilo que falamos sobre o orgulho indie de ser underground, e acredito que foi bem daí que o indie passou a ser considerado gênero”. Dessa forma, já é possível ver mais claramente o cenário atual da música alternativa: “A partir desse indie rock agitado surgiram bandas como Arctic Monkeys, The Killers, The Kooks, entre outras, que passaram a ascender a partir do underground para o sentimento moderno e intenso do indie.”

“Eu acredito que tudo o que consumimos e produzimos hoje é de alguma forma influenciado pelo passado. Todo grande artista hoje é alguém que cresceu ouvindo música ontem, então a influência é inevitável”, diz Natalia sobre a influência que a música alternativa da época exerce sobre o cenário da música atual. Quando se trata da forma de se expressar e fazer música, foram anos insubstituíveis e distinguíveis, que continuam até hoje influenciando artistas das mais diversas formas.

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