Drive My Car (Doraibu mai kā, 2021), dirigido por Ryūsuke Hamaguchi, é um desses filmes onde qualquer tentativa de sinopse falharia em capturar a essência da narrativa. O longa é baseado em um conto de mesmo nome do escritor Haruki Murakami (presente no livro Homens sem Mulheres).
Na trama, acompanhamos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto (Reika Kirishima). Após Oto morrer de forma inesperada, Yusuke cai numa jornada de reflexões sobre os segredos da esposa, a relação dos dois e sobre si. Isso enquanto dirige uma peça de teatro e é guiado pela talentosa motorista Misaki Watari (Toko Miura).
E “cair numa jornada de reflexões” é Murakami. Em muitos aspectos, Hamaguchi adapta com perfeição a sensação de ler a obra do escritor em Drive My Car. Em Murakami a narrativa acontece nas entrelinhas da vida. O tempo da história não para (beijos Cazuza), mas se intercala com um segundo tempo, dos encontros humanos e das jornadas interiores. Os acontecimentos externos importam, mas importam ainda mais na medida que promovem mudanças internas.
Drive My Car é assim. Através do encontro de almas improvável de Misaki e Yusuke, os dois são capazes de processar o passado e o presente e entender, quem sabe, um pouco mais sobre a vida. A amizade é guia para a redenção.
A beleza do filme não se limita ao roteiro. A obra também é poética na montagem e na fotografia e as atuações não deixam nada a desejar. É capaz de emocionar e provocar incredulidade no espectador, por estar vendo algo tão sensível.
Imagem: Divulgação / Bitters End
O filme está em exibição nos cinemas brasileiros. Confira o trailer legendado: