Imagem: Júlia Mancilha/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior
Essas palavras do título são em síntese, tudo que o livro é. Nossas noites (Companhia das Letras, 2017) é, certamente, um daqueles clássicos livros “coringa”, no sentido de que é possível pegá-lo a qualquer momento e ele terá sempre o mesmo gostinho. Daqueles livros em que nota-se uma grande fluidez. Você começa a ler e, de repente, percebe que uma hora já se passou.
O livro narra a história de Addie Moore e Louis Waters. Já na casa dos 70 anos, os dois dividem a mesma vizinhança, no pequeno condado de Holt, Colorado. Tanto Addie, quanto Louis, acabaram sozinhos após seus filhos saírem de casa e ficarem viúvos há alguns anos.
É justamente essa solidão que faz com que Addie tome uma atitude que quebra o tom de suas vidas. Em uma noite, ela decide ir à casa de Louis para fazer um convite inusitado. Ela, que diz estar cansada de viver com medo do julgamento alheio, convida o vizinho para dormir com ela em sua casa. Isso choca o senhor, que começa a questionar o porquê do convite.
Até que, por fim, ele se decide, e vai. Após uma taça de vinho, para ela, e uma cerveja, para ele, eles vão para a cama. A princípio, tudo é muito estranho para Louis, mas ele não desiste dessa tentativa. Logo de cara, cogitamos se os personagens vão ter um envolvimento físico. Mas não. Ao se deitarem, eles apenas começam a conversar sobre a vida, até que então, dormem – agora, sem sentir frio, após a presença calorosa do outro.
Assim, o tempo vai passando e os dois vão criando cada vez mais intimidade um com o outro. Porém, nada além das mãos dadas. Nessas noites, eles começam a abrir seu coração e se revelar. Ao longo da narrativa, Addie fala sobre seu marido, seu casamento e sobre a precoce perda de sua filha, ainda na infância. Louis também aborda o seu casamento, a relação com sua filha e sobre um polêmico caso de traição.
Enquanto isso, a população de Holt começa a especular sobre os dois e não demora até que passam a estar na boca do povo. Um outro desafio que ameaça abalar a relação da dupla é o neto de Addie, Jamie. A criança vai contra sua vontade, passar um período com a avó. O pai de Jamie e filho de Addie, Gene, vive um período conturbado com a mãe do menino, cheio de brigas e desentendimentos. A mãe vai embora de casa e a única solução é deixar o garoto com a avó, bem distante dos pais, até as coisas se acertarem. Ele vive em insegurança, por estar deparado com o novo, e à distância dos pais. Porém, aos poucos, a situação muda.
Em suma, o autor Kent Haruf acerta ao trazer uma narrativa leve, que permite ao leitor manter um fluxo de leitura contínuo sem muitas perturbações. É uma leitura fácil, mas que ainda assim mantém toda sua intensidade. Apesar de ter, a princípio,um questionável tom monótono, logo entende-se a necessidade disso, afinal, trata-se de um retrato fiel à realidade de uma dupla de idosos. E, de qualquer forma, quando o livro se encaminha para o desfecho final, as coisas começam a ficar mais empolgantes, tornando tudo ainda melhor.
Com uma pitada de drama e gostinho de romance, Nossas noites é algo que merece ganhar um tempinho na sua cabeceira. Além de ser um entretenimento saudável, é, certamente, uma leitura que não deixa nada a desejar. A história de Addie e Louis é digna de apreciação, afinal, retrata algo que qualquer um deseja: a busca pela felicidade na velhice. Aliás, como esse é um texto livre de spoilers, resta uma dúvida para você: esse casal se tornará, realmente, um casal? Descubra.
Ainda este ano será possível conferir essa história além do mundo da literatura. Isso porque, a Netflix lançará muito em breve sua adaptação em longa metragem. Até o momento, a produção segue com o nome do livro original em inglês: Our souls at night. Escalados para o papel de Addie e Louis, estão as estrelas Jane Fonda e Robert Redford. Uma aposta brilhante, não é mesmo? Sem dúvidas, tem tudo para dar certo!
Gabriel Bastos
gabriel.bastos@usp.br