A mostra “Conflitos armados, massacres e genocídios na era contemporânea”, em cartaz no Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), exibiu o filme Arquitetura da Destruição (Undergångens arkitektur) na quinta-feira, dia 2 de maio de 2013. O documentário do sueco Peter Cohen se mostra inovador por explicitar uma área anteriormente pouco explorada sobre o nazismo: a estética.
A frustração de Adolf Hitler em não ter se tornado um artista ou um arquiteto renomado não é desconhecida. O documentário apresenta, porém, que essa frustração e que certo dom artístico eram comuns à boa parte do primeiro escalão nazista. O Führer pintava, principalmente, paisagens bucólicas e, apesar de ter sido recusado na Academia de Artes de Viena, pretendia seguir carreira artística após a Primeira Guerra Mundial. O nazismo era, de certa forma, ligado à pureza e somente o artista, puro e criativo, poderia dar forma ao sonho alemão, tornando-se o nacional-socialismo, então, uma alternativa governamental em oposição ao racionalismo. Dentro do partido, Hitler foi responsável por esboçar boa parte das obras realizadas durante seu governo e por criar, dentre outros objetos, a insígnia, a bandeira e o uniforme militar nazistas.
Havia em Hitler uma fixação não usual com a Antiguidade, o que o fez proibir o bombardeio em Atenas em 1941. Na época, ele havia tentando adquirir obras gregas como a escultura “O Discóbolo”, de Míron, para retomar a beleza do homem. Ele descreve Esparta tal qual o “estado da raça mais pura” e Roma antiga como “a mais forte república que existiu”. Segundo o Führer, a criação de um Estado que sintetizasse Atenas, Esparta e Roma levaria à uma nação que nunca pereceria; a abolição da modernidade e a volta ao Antigo fariam a humanidade “desabrochar”.
A propaganda ideológica nazista procurava fundamentar a eugenia ariana e difamar outras etnias e ideologias trazendo dados que eram ditos como científicos, os quais apontavam para projeções esdrúxulas, como a que dizia que em 50 anos, com a miscigenação ariano-judaica, haveria cerca de um doente para cada quatro seres humanos saudáveis na Alemanha. Para os nazistas, havia a necessidade da criação de “um novo homem alemão”, que não deixaria sucumbir sua própria raça.
Deu-se como solução para o embelezamento da sociedade alemã a “eutanásia”, que, segundo a definição mostrada no filme, se tratava da interrupção do sofrimento daquele que sofre, tal qual deficientes e judeus, teoricamente responsáveis pela disseminação de uma série de doenças e pela degeneração da sociedade alemã, devido à inferioridade de sua raça e hereditariedade de enfermidades. O médico alemão tinha papel de curador dessa sociedade, uma vez que, por muito tempo, foi a partir de suas mãos que eliminaram-se seres supostamente inferiores para a preservação da beleza por meio de assassinatos em massa via utilização de gás tóxico. Segundo Gerhard Wagner, médico-chefe do III Reich, além de se higienizar fábricas e escritórios para torná-los mais funcionais, era necessário elevar o trabalhador ao nível da burguesia, ensinando-o a se lavar, findando, dessa forma, a luta de classes
No documentário, é apresentada a tese de que o nazismo, na verdade, não tinha objetivos políticos, mas sim estéticos. Em nome da tentativa de imposição de um padrão de beleza, civis inocentes foram assassinados pelo Estado por não estarem dentro do ideal de belo segundo os nacional-socialistas. Não foram, pois, os inimigos do regime que foram mortos. As vítimas somente eram inimigas do nazismo, e as cenas idílicas eram colocadas como plano de fundo para justificar as mortes em massa.