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Os seriados na realidade transmídia

A popularização das séries fez com que elas se expandissem para muito além da televisão Por Thuany Coelho (thucoel@gmail.com) Um dos produtos da TV mais difundidos atualmente, os seriados – programas televisivos que tem uma narrativa contada em episódios – têm suas origens nos “movie serials” (seriados de cinema). Estes são filmes, exibidos em capítulos, …

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A popularização das séries fez com que elas se expandissem para muito além da televisão

Por Thuany Coelho (thucoel@gmail.com)

Um dos produtos da TV mais difundidos atualmente, os seriados – programas televisivos que tem uma narrativa contada em episódios – têm suas origens nos “movie serials” (seriados de cinema). Estes são filmes, exibidos em capítulos, que mostravam aventuras que terminavam com cliffhangers, situações nas quais o personagem principal se vê em uma situação difícil, limite e que prende a atenção do espectador, fazendo com que ele retorne para o próximo episódio.

I love Lucy
Lucille Ball e Desi Arnaz, pioneiros nas séries de televisão como protagonistas e produtores de I love Lucy. Foto: Enciclopédia Britannica Kids

Os “movie serials”, por sua vez, se originaram das histórias em quadrinhos (na qual cada edição contava uma história, que depois seria complementada pela próxima) e também do rádio. Tanto é que uma das primeiras séries norte-americanas, e até hoje muito conhecida, foi baseada em um programa de rádio. I love Lucy era uma comédia familiar focada no casal (também na vida real) Lucille Ball e Desi Arnaz e que foi inspirada em My favorite husband, programa de rádio no qual Lucille era par de Richard Denning.

Cultura de seriados norte-americanos no Brasil

No Brasil, apesar de presentes desde o começo da popularização da TV, os seriados norte-americanos só ganharam força a partir da década de 90, quando séries como Um maluco no pedaço (The Fresh Prince of Bel-air), Três é demais (Full House), Barrados no Baile (Beverly Hills, 90210) e Friends (idem), entre outras, fizeram enorme sucesso e iniciaram o processo de consolidação de um público para esse mercado no país.

Como conta Mariane Murakami, pesquisadora do Grupo MidiAto, “os seriados vêm ganhando cada vez mais espaço no cotidiano dos brasileiros, especialmente com a popularização da televisão por assinatura, já que as televisões abertas ainda pouco priorizam a produção seriada norte-americana”. Apesar de a TV a cabo contribuir para a popularização, hoje, com o crescimento dos usuários de internet banda larga, esse meio de difusão é visto como atrasado, uma vez que pode demorar semanas e até mesmo meses para que um episódio exibido nos EUA seja reproduzido no Brasil.

A demora é ainda muito maior na TV aberta. Apesar de conseguirem boa audiência em seus horários, as séries não-nacionais exibidas nos canais abertos são poucas e inseridas nas grades das emissoras após estas finalizarem toda a programação, apenas como forma de completar a grade. Por isso, normalmente, são colocadas em horários péssimos, o que dificulta a fidelização por parte dos telespectadores. Esse enorme atraso da TV aberta em relação à TV paga no Brasil foi até motivo de provocação da Sony. O canal de TV a cabo fez um comercial no qual, de forma subliminar, satiriza o atraso da exibição do seriado Revenge na Globo. Na peça publicitária, a Sony é o Facebook e a Globo, o agora obsoleto Orkut.  O fim do comercial sintetiza a crítica: “Qual é o seu perfil? Saber de tudo depois dos outros? Ou estar sempre um passo a frente? Se você quer seguir a Emily, não dá para vacilar”.

Friends
Friends é um dos seriados que marcou a década de 90 no Brasil (e no mundo), contribuindo para o aumento do interesse dos brasileiros nas séries norte-americanas. Imagem: Freshprince

Agora, com a expansão dos consumidores da internet, essa espera tornou-se mínima, uma vez que, hoje, é possível, por meio da internet, assistir a um episódio simultaneamente à exibição nos Estados Unidos. Tanto essa rapidez na hora de assistir quanto a possibilidade de conseguir mais informações a respeito das séries transformaram os brasileiros em grandes consumidores de seriados. É importante ressaltar também que, com a globalização, a influência (que já era grande) da cultura norte-americana no Brasil intensificou-se muito, o que também contribuiu para a difusão desse formato no país.

Os seriados e as novelas no Brasil

Apesar de serem produtos midiáticos diferentes, os seriados e as novelas tem pontos em comum que também podem explicar a adaptação fácil dos brasileiros ao primeiro gênero. Como expõe Mariane, “o sucesso dos seriados e séries estrangeiras no Brasil deve-se um pouco à tradição cultural das telenovelas no país. Afinal, tratam-se de gêneros diferentes, mas que possuem em comum a estrutura folhetinesca de serializar uma história, suspendendo ações e fazendo com que o telespectador queira acompanhar a trajetória de seus personagens. Ademais, os seriados e séries estrangeiras abordam histórias universais, que independem  do seu local de origem: falam de amizade, de relações amorosas, de conflitos familiares, caça a bandidos, etc”.

E não necessariamente o crescimento do público de um diminui o público de outro, afinal, “cada estrutura tem o seu valor, os pontos positivos e negativos. O que realmente conta e faz com que o público troque de canal ou opte pelas séries americanas – além de disponibilidade de conteúdo via sites de compartilhamento – é a história. Apesar de estarmos cercados de várias plataformas, linguagens e formas de desenvolver uma narrativa, nada supera uma grande e boa trama, só ela é capaz de envolver e imergir o público independente do formato”, relata Daiana Sigiliano, chefe de redação do Box de Séries e pesquisadora da Cultura da Convergência. Segundo ela, as novelas estão perdendo espaço não pelo aumento do público de seriados, mas por apresentarem uma narrativa previsível e quadrada.

Outro fator que pode contribuir para a migração da audiência é a forma como o produto e emissora se relacionam com o consumidor. Talvez, por isso, as novelas venham perdendo audiência, principalmente dos mais jovens, visto que os seriados aprenderam a utilizar outras mídias de comunicação bem antes das novelas.

Seriados transmídia

É a utilização de meios além da TV que gerou o termo transmídia no universo das séries. Parte da cultura da convergência – fenômeno midiático no qual o conteúdo passa por diversas mídias fluidamente -, as narrativas transmídias são aquelas em que uma história é contada através de diversos meios, não apenas replicada em cada um deles, mas sim sendo transformada em todos, ou seja, cada meio acrescenta algo novo à narrativa principal. “Na transmídia, cria-se a partir do universo ficcional do programa vários outros subplots , ou seja, a história é reinventada em diferentes plataformas e de maneira independente, para que o espectador não tenha que passar por cada uma delas para compreender  o produto em questão”, explica Daiana.

Na cultura da convergência, quer-se não somente um telespectador, mas um fã assíduo e participativo, que deseja se aventurar e se aprofundar em tudo o que é oferecido por determinado seriado. Uma das primeiras tentativas do gênero dentro desse universo foi o Dawson’s Desktop, um site que reproduzia os arquivos de computador do personagem principal da série Dawson’s Creek, Dawson Leery. Era possível ler os e-mails dele, além de seu diário, entre outros arquivos. O site chegou a atingir 25 milhões de visitas semanais.

Mas o marco da narrativa transmídia nas séries é Lost. O seriado criado por Jeffrey Lieber, J. J. Abrams e Damon Lindelof conseguiu se expandir por várias mídias, o que atraiu ainda mais muitos fãs da história. Além do produto televisivo, Lost virou websérie, jogos de videogame, site de realidade alternativa, livros e easter eggs (mensagem oculta que pode ser encontrada em qualquer tipo de sistema virtual) suas aparecem até mesmo nos HQs da Marvel. Acompanhando a série em todas as mídias, o telespectador tinha a oportunidade de ir mais a fundo na história, uma vez que personagens desconhecidos na série eram apresentados em outros meios. Caso do diário de “Janelle Granger”. Disponibilizado no site da série, o diário contava a história de Janelle Granger, sobrevivente do voo da Oceanic Airlines (empresa fictícia do seriado) que não é retratada na série. Assim que um episódio terminava, era possível que o telespectador tivesse acesso a inúmeras informações, o que ocupava o intervalo entre um episódio e outro.

Lost
Easter eggs: jogo de realidade alternativa de Lost, Find815.com, é colocado na blusa do homem de verde. Imagem: Marvel

Hoje, cada vez mais as produtoras estão percebendo o impacto da convergência e a necessidade de se adaptar. Afinal, como interpretou Mike Antonucci, do San Jose Mercury, a narrativa transmidiática pode ser considerada um “marketing inteligente”, pois com um maior número de mídias, o telespectador assíduo do produto se vê obrigado a consumir mais e mais, gerando mais renda para as produtoras.

É nesse cenário que hoje surgem muitas narrativas transmidiáticas. Alguns exemplos são American Horror Story, Pretty Little Liars e Bates Motel. Um dos hits atualmente é a websérie The Lizzie Bennet Diaries, adaptada do romance Orgulho e Preconceito de Jane Austen, que conta a história de Elizabeth Bennet, uma universitária de 24 anos com muitas contas estudantis e uma família complicada. Com o tempo, a websérie se desdobra em Twitter, Tumblr e Pinterest das personagens, além de ganhar vlogs e spin-offs, nos quais outras personagens são protagonistas. Com isso, pessoas diferentes experimentarão a história de formas diversas. Quem assistir apenas aos episódios perderá muito do que a narrativa completa tem a oferecer (Para saber mais sobre a websérie acesse a matéria no blog da Jota – parte 1 e parte 2).

The Lizzie Bennet Diaries
The Lizzie Bennet Diaries, websérie que conquista fãs pela chance de se aprofundar nas personagens. Imagem: YouTube

É preciso salientar que a convergência trouxe muitas mudanças, visto que, como comenta Daiana, agora “a forte presença dos aplicativos de segunda tela, que oferecem conteúdo extra durante a exibição da série e a Social TV, que traz de volta o espectador para frente da TV no horário marcado e leva os comentários que antes eram restritos ao sofá da sala para as redes sociais” modificaram o mercado e a forma de se assistir televisão, uma vez que os comentários são feitos aqui e agora e trocados com pessoas ao redor do mundo e não somente com as pessoas ao seu lado no sofá. É fato que a convergência, apesar de ainda em desenvolvimento, veio para ficar e modificar o modo como o telespectador (que cada vez mais deixa de ser só espectador) se relaciona com o produto midiático.

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