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‘O futebol como ele é’: histórias, investigações e uma imersão na gestão dos clubes de futebol

Livro detalha como a paixão nacional se transformou em um negócio bilionário e conta a história dos protagonistas desse enredo

“Clube de futebol é um dos bichos mais complexos que se pode encontrar na sociedade moderna”

Rodrigo Capelo em O futebol como ele é

O Brasil é popularmente conhecido como o país do futebol e, há anos, esse esporte está presente no dia-a-dia da população. Como consequência disso, surgiu uma outra paixão nacional: os clubes de futebol. De norte a sul, durante décadas, instituições foram fundadas para levar 11 jogadores ao campo e uma grande torcida às arquibancadas. Mas, entre tantos times existentes no país, porque alguns obtiveram sucesso e outros fracassaram? 

A pergunta é complicada, mas Rodrigo Capelo, jornalista especializado em negócios no esporte, tenta trazer uma resposta para ela nas páginas do livro O futebol como ele é, (Editora Grande Área, 2021). Com título inspirado na coluna A vida como ela é, de Nelson Rodrigues no jornal Última Hora, a obra busca auxiliar o leitor a compreender que o futebol vai além de jogos, gols, vitórias ou derrotas, expondo que esse esporte é um negócio — e um negócio bem complicado. 

Para os amantes da modalidade, o livro é uma grande fonte de informações e de conhecimento, trazendo balanços financeiros misturados com casos divertidos e curiosos. Aos que não gostam ou não conhecem o futebol, todo o conteúdo ensina ao leitor a essência desse esporte de maneira simples e didática. 

Um mergulho de cabeça no mundo do futebol 

Apesar de assustar pelo tamanho — 592 páginas — o exemplar possui uma leitura descomplicada e imersiva, transportando quem lê para dentro da gestão dos clubes. O próprio autor categoriza o livro como histórico mas, em muitos momentos, a escrita se assemelha a uma narrativa, com descrições detalhadas das pessoas e dos cenários que compõem os casos expostos, além das transcrições de diálogos que aconteceram nessas situações. Esses fatores permitem ao leitor viajar no tempo e ir para dentro desses momentos marcantes no futebol. 

O livro não contém fotografias, mas o autor utiliza gráficos e tabelas para ilustrar e acrescentar dados ao texto, o que ajuda a deixar a leitura mais fluída. O gráfico em questão expõe a variação no número de clubes participantes no Campeonato Brasileiro [Imagem: Arquivo Pessoal/Miriã Gama]

Fazer esse apanhado histórico com todos os clubes que já existiram e ainda existem no país seria algo impossível, então Capelo opta por realizar um recorte e se aprofundar na trajetória dos clubes que participaram do “Clube dos 13”: Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco; os gigantes brasileiros que mudaram a dinâmica do futebol profissional nas últimas décadas.

Bastidores decisivos  

A obra divide a trajetória desses times de forma temporal em três atos: os gigantes em construção, a ruína dos gigantes e o jogo infinitivo do futebol; começo, meio e fim. As inumeráveis histórias contadas demonstram que o sucesso dentro de campo depende de um conjunto de ações tomadas fora dele, que envolvem todo o aspecto administrativo, político e econômico dos clubes. Bem antes da bola rolar, o futebol já está sendo praticado por dirigentes, conselheiros e sócios.

“Muito do que se vê em campo, nas vitórias ou derrotas, é produto de uma longa série de decisões equivocadas ou acertadas tomadas fora dele […]”

Rodrigo Capelo em O futebol como ele é

Assim como por centímetros a bola deixa de entrar no gol, bate na trave e muda o placar final da partida, um simples “sim” ou “não” equivocado pode mudar o destino de um time. Nesse cenário, surge a importância de os principais gestores de um clube terem conhecimento na área e serem profissionais — mas é recorrente no futebol brasileiro a eleição de homens com alto poder aquisitivo e influência política para o comando das equipes. 

As histórias descritas pelo jornalista mostram como esse sistema foi falho durante décadas, já que as principais más administrações expostas na obra são de empresários, políticos, militares, entre outros. Um dos times que sofreu com este mal foi o Santos, que em abril de 1970 teve metade do time vendido para um falso comprador pelo General Osman Ribeiro, então vice-presidente do clube praiano. Apesar de pouco conhecido, o caso mostra o quanto pode ser perigoso o amadorismo na gestão do futebol. 

Georges Bourdoukan, repórter da revista Placar na época, enganou o dirigente santista fingindo ser um emissário de um clube marroquino que nem existia. A manchete “Nosso repórter comprou meio time do Santos” ganhou grande destaque na ocasião [Imagem: Reprodução/Revista Placar]

Um outro ponto muito interessante na administração do futebol é a importância dos resultados esportivos para a classificação de uma gestão como boa ou ruim. Diferentemente de uma empresa comum, a “empresa do futebol” não busca o lucro, e sim os títulos e bons resultados dentro das quatro linhas. Um caso citado no livro que evidencia isso é a contratação de Leônidas Silva pelo São Paulo: em 1943, após gastar um alto valor com o craque, o clube apresentou um prejuízo considerável. Mas que torcedor reclamaria da dívida depois da conquista do primeiro título estadual? Toda essa dinâmica torna o futebol um negócio bem complexo.

A obra cumpre muito bem sua proposta de demonstrar a prática futebolística para além do campo, invadindo os detalhes dos bastidores e trazendo luz para a importância do que acontece nas salas das diretorias dos clubes. Capelo ajuda o leitor a entender como um time deve ser administrado, ter uma noção das finanças dos clubes e saber como o futebol brasileiro é prejudicado por maus gestores a muito tempo. É uma leitura agradável, interessante e indispensável para aqueles que querem descobrir o futebol como ele realmente é.

Todo conteúdo do livro aponta para uma conclusão óbvia: o sucesso no futebol começa sempre fora das quatro linhas [Imagem: Divulgação/Editora Grande Área]

*Imagem de capa: Arquivo Pessoal/Miriã Gama

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