Baseado no best seller de mesmo nome do escritor holandês Herman Koch, O Jantar (The Dinner, 2017) se passa em uma fria noite de inverno em que o senador Stan Lohman (Richard Gere) convidou sua esposa Kate (Rebecca Hall), seu irmão, o ex-professor de história Paul (Steve Coogan), e sua cunhada Claire (Laura Linney) para um jantar em um elegante restaurante. O motivo do convite é apenas um: conversar sobre o terrível ato cometido por seus filhos adolescentes e, assim, decidir o que deve ser feito. O público, no início, está completamente no escuro, as poucas cenas envolvendo o crime que aparecem na primeira sequência não são suficientes para descobrir o que já é do conhecimento dos outros personagens. Então, através de flashbacks e diálogos distribuídos ao longo das duas horas de filme, é possível juntar as peças do “quebra-cabeça”.
Dessa maneira, o presente é intercalado com cenas do passado, que mostram um pouco da vida dos irmãos Lohman e, também, trechos da noite na qual seus filhos cometeram um grave delito. Essa ideia bastante interessante e que deveria conceder dinamicidade à produção, no entanto, não é bem executada e, junto com os apáticos e desnecessários diálogos à mesa do restaurante, só servem para arrastar a história, tornando-a cansativa e incrivelmente chata. Os flashbacks, muitas vezes, são demasiado longos, sem grande relevância para a trama ou para o acontecimento em cima do qual ela se desenrola. O maior exemplo disso é a sequência de flashbacks da vida de Paul que giram em torno de sua obsessão com a Batalha de Gettysburg, “o início do fim” da Guerra Civil dos EUA, e que se faz quase que completamente desnecessária.
Outro problema com a narrativa são as constantes interrupções dos diálogos por causa de telefonemas para o senador, discussões sem propósito algum, comentários sarcásticos de Paul que não tem graça nenhuma, chiliques e, até mesmo, saídas dramáticas. Isso tudo quebra a fluidez existente na narrativa e vão irritando cada vez mais os espectadores, que perdem a paciência. Entretanto, o ponto mais irritante do filme são os personagens. Paul Lohman, narrador e personagem principal é um poço de defeitos, sem qualquer qualidade relevante capaz de redimi-lo. Sua complexidade é minimamente explorada, fazendo com que ele seja pouco envolvente e quase nada interessante de assistir.
O Jantar falha em focar nos aspectos mais importantes de sua vida e que dariam maior profundidade ao personagem, como sua infância, que apenas é comentada em duas cenas e seria a raiz de seus problemas com o irmão. O longa-metragem, também, ao passar tanto tempo na cabeça de Paul, revivendo suas memórias e devaneios, esquece dos outros personagens que são apresentados como apáticos e, quando o final do filme vai se aproximando, egoístas. Logo, falta desenvolvimento dos outros três que dividem a mesa com ele, o que dificulta o entendimento do por quê de tratarem a situação de seus filhos de um jeito, e não de outro.
O grande problema dessa adaptação, entretanto, foi ignorar as suas limitações. O ritmo mais lento, os devaneios de Paul e o maior foco nesse personagem podem funcionar no livro, mas transposto ao cinema exigiria maior dinamicidade. Deixar muito tempo de tela para um personagem é um grande desafio e, muitas vezes, pode ter resultados negativos, como é o caso desse filme. Somando-se a isso, por tratar de um tema com diferentes visões, teria sido mais interessante se os espectadores pudessem assistir o modo como cada um dos pais via o que aconteceu e os motivos por trás dessas diferentes visões. Assim, a identificação do público com cada um poderia ser muito melhor e isso também quebraria um pouco a monotonia do enredo.
Tecnicamente, não há nada de especial: a montagem de cenas e a direção são feitas de maneira competente e não deixam a desejar, mas também não chegam a “salvar o filme”. O grande ponto positivo do longa são as atuações. Todo o elenco entrega ótimas performances, principalmente Steve Coogan, que foi o ator com mais texto para trabalhar em cima e, consequentemente, se destaca no papel de um personagem detestável. Porém, o bom desempenho dos atores também não é suficiente para esquecermos todos os problemas presentes na narrativa.
O Jantar é uma produção que tinha um grande potencial, com uma história e personagens interessantes, mas que devido a vários erros de execução, se tornou chato e arrastado, com apenas os 30 minutos finais realmente cativantes.
O filme estreia dia 17 de agosto. Veja o trailer:
por Nathalia Giannetti
nathaliagiannetti@usp.br