Menos é mais. Foi o que ficou em minha cabeça enquanto assistia ao novo espetáculo da Companhia de Dança Deborah Colker, apresentado nos dias 30 e 31 no Teatro Alfa, em São Paulo . Diferentemente dos espetáculos passados do grupo, “Cão Sem Plumas” não precisou de grandes estruturas, figurinos exuberantes e cenografia complexa para ser uma grande obra de arte. Caixas de madeira e fitas de tecido foram capazes de criar gaiolas, barcos e palafitas simplesmente pela força da representação.

A inspiração para a coreografia veio do poema de João Cabral de Melo Neto, autor pernambucano que fez sua obra “Cão Sem Plumas” descrevendo o caminho do rio Capibaribe, passando pela água, pela seca e pelos animais que habitam suas margens, chegando na população ribeirinha. O curso do rio também é o caminho que a dança — acompanhada pela cenografia e as imagens projetadas — percorre.
As imagens — que também protagonizam a viagem pelo rio — foram gravadas pelo cineasta Cláudio Assis, que fez recortes da seca, da lama, das viagens de barco e das moradias ribeirinhas se misturando com os bailarinos e integrando com seus passos de dança. Os vídeos trazem ainda mais intensidade ao espetáculo e uma sensação de realidade no que está acontecendo no palco.

Do jeito que só Deborah Colker sabe fazer, é possível enxergar claramente os animais que os bailarinos representam. Há momentos em que são serpentes rastejando pelo chão, outros em que são caranguejos, jacarés, pássaros e humanos. O figurino, que reproduz um corpo coberto de lama, ressalta a neutralidade dos dançarinos e os permite ser todos esses papéis. A sensação mágica de que no teatro se pode ser tudo o que quiser está sempre presente na coreografia, deixando a mente livre para criar cenários e histórias em torno da representação no palco.
A temporada de dança do Teatro Alfa continua e ainda trará mais quatro espetáculos de grupos destaques da dança internacional.
Por Giovana Christ
giovanachrist@usp.br