Desde 2017, último ano de Felipe Massa na Fórmula 1, o Brasil não tem a honra de ter um piloto titular no grid da categoria. Em relação a um brasileiro campeão, o jejum é ainda maior, perdura desde o título de Ayrton Senna em 1991. Diante desses cenários, o povo brasileiro perdeu muito o interesse no automobilismo, o que pode ser amplamente revertido com a ascensão de Felipe Drugovich e sua possível promoção para a Fórmula 1.
O PAÍS OCTACAMPEÃO DE F1
Em 1951, com Francisco “Chico” Landi, o Brasil começou a traçar seus caminhos nos anais históricos da principal categoria automobilística do mundo. Ao longo do tempo, nomes importantes surgiram, como José Carlos Pace e Wilson Fittipaldi Jr, mas dos mais de 30 brasileiros que já passaram pela F1, apenas 3 foram campeões: Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. O primeiro venceu as temporadas de 1972 e 1974; o segundo alcançou a glória em 1981, 1983 e 1987 e, por fim, Ayrton Senna foi três vezes campeão com os títulos de 1988,1990 e 1991.
O interesse dos brasileiros pela F1 sempre esteve atrelado a televisão. A estreia de Emerson Fittipaldi (o primeiro campeão brasileiro da categoria) na Fórmula 1, marcou a primeira transmissão televisiva de um GP (Grande Prêmio) para o Brasil. Foi o GP da Grã-Bretanha, em Brands Hatch, no dia 18 de julho de 1970, aproximadamente 20 anos depois da criação da F1. A partir desse momento, o Brasil ampliou seu interesse no automobilismo, o que ficou mais intenso conforme brasileiros iam aparecendo, e vencendo na categoria.
O ápice da popularidade da Fórmula 1 no Brasil aconteceu em 1991, com o tricampeonato de Ayrton Senna. O GP de Interlagos daquele ano atingiu picos de 40 pontos de audiência (na grande São Paulo, por exemplo, isso equivalia a 39790 domicílios na época) em território nacional. Apesar de todo o sucesso da categoria, o acidente que culminou na morte do ídolo brasileiro afetou a popularidade do automobilismo, que arrefeceu.
UMA DISTÂNCIA DE MUITOS PORQUÊS
No dia primeiro de maio de 1994 (data da morte de Ayrton Senna, ocasionada por um acidente durante o GP de San Marino) algo mudou na relação do Brasil com a F1, o luto tomou conta da nação e as corridas passavam bem longe de serem as mesmas. Em todos os GPs o público se lembrava do falecimento de Ayrton Senna, toda a alegria do povo representada pela bandeira brasileira no lugar mais alto do pódio, havia se transformado em dor e melancolia a cada vez que as pessoas viam um carro de F1. As gerações seguintes absorveram esse sentimento, mesmo que de uma maneira mais branda.
Mas esse não foi o único motivo do afastamento dos mais jovens, como conta Ricardo Molina, comentarista do Grupo Bandeirantes de Comunicação. “Por uma série de razões, tanto o público geral que assiste televisão, quanto o que vai nos autódromos vinha perdendo o interesse. Uma delas, é a falta de um piloto brasileiro de ponta na Fórmula 1. E quando eu digo de ponta é assim, piloto mais o carro em condições de ganhar. Massa era piloto de ponta, Rubinho (Barrichello) era piloto de ponta, mas chegou um momento em que eles não tinham mais carro para disputar vitórias e títulos.”
A lacuna de títulos sozinha não explica muita coisa, mas o comentarista esclarece: “o brasileiro se acostumou muito mal, a ganhar sempre, mas muito mal mesmo!”. Usando o amor dos ingleses pelo automobilismo como exemplo, Molina explica melhor: “Se você ver o número de ingressos vendidos no GP da Inglaterra, ele é mais ou menos constante nos últimos 30 ou 40 anos. Tendo um piloto capaz de ganhar corridas ou não, os caras estão lá!”.
A ESPERANÇA CHAMADA FELIPE DRUGOVICH
Felipe Drugovich nasceu em Maringá, Paraná, no dia 23 de maio de 2000. Ele ingressou no cenário do kartismo competitivo em 2008, com apenas oito anos. O piloto brasileiro sempre foi diferenciado e acumula grandes feitos ao longo de sua carreira. Uma de suas maiores conquistas, é ter se tornado o primeiro piloto na história da Fórmula 2, principal categoria de acesso da F1, a vencer todas as provas de um fim de semana. Por isso, “Drugo”, como foi apelidado pela torcida verde e amarela, é considerado o principal candidato brasileiro, a uma vaga titular na principal categoria do mundo automobilístico.
A qualidade do brasileiro, também é consenso entre os especialistas do assunto. Com toda propriedade, Molina disserta sobre Drugovich: “conheço o Felipe desde cadete, em 2011 ele foi campeão brasileiro [de kart] da categoria cadete, que engloba os garotos de 8 até 11 anos, eu era comissário técnico naquela época”. Molina continua: “de lá para cá, a gente vê o Felipe evoluindo cada vez mais. Não só como piloto, mas também como pessoa. Ele, hoje, é uma pessoa absolutamente equilibrada, focada e fria. Sempre se preparando fisicamente, psicologicamente e como figura pública. Ele está se aprontando para se tornar um embaixador, de qualquer marca que resolva apoiá-lo”.
Apesar de todo o talento do brasileiro, ainda faltam muitas etapas para que ele ingresse na F1. Nesse sentido, a parte financeira tem se mostrado um empecilho bastante relevante. Para ingressar na elite do automobilismo, muitas vezes, é necessário que o piloto “ofereça” dinheiro para a equipe que o está contratando, no formato de patrocínio proveniente de alguma empresa. Molina explica que, geralmente, a empresa que oferece esse aporte financeiro tem algum interesse comercial no país do piloto em questão.
Existe outra possibilidade que é a própria escuderia ter interesses comerciais semelhantes, nesse caso, no mercado consumidor brasileiro. Molina revela: “Hoje, ele está na Fórmula 2 com o apoio das empresas da família dele. Ele vem de uma família com recursos, não podemos mentir. Ele mesmo não faz questão nenhuma de esconder isso”. Mas, para ser piloto de Fórmula 1 as cifras são bem maiores: “Em relação à Fórmula 1, o aporte financeiro das empresas Drugovich não é o suficiente. Para conseguir uma vaga na F1 hoje, o Amir Nasr [“conselheiro” do Drugovich] dá a entender que é necessário cerca de 30 milhões de euros [em patrocínio] por ano. Isso é muito difícil, a economia brasileira não comporta esse valor.”
Além das questões financeiras, não há motivos para duvidar da entrada de Drugovich na F1, seja em 2023 ou posteriormente. Molina conclui: “Ele tem a capacidade técnica, o preparo psicológico e a maturidade. Hoje, ele é o piloto brasileiro melhor preparado para ingressar na F1.”
MUITO AMOR ENVOLVIDO
Apesar de todos os acontecimentos da história, o amor dos brasileiros pelo automobilismo ainda vive. Mesmo que esteja um pouco desanimado, a perspectiva para o futuro é positiva. Encabeçados por Drugovich, muitos pilotos brasileiros de qualidade estão surgindo. Molina detalha: “Põe o Enzo Fittipaldi em qualquer equipe de ponta da Fórmula 2 que ele disputa o título. Caio Collet, assim como Drugovich, é técnico, bem formado, entende o carro, é quase um engenheiro honóris causa. Tem muita gente boa chegando!”