Além das provas, o que esperar e como proceder diante das opções disponíveis para ingressar no mercado de trabalho
Texto e fotos por Bruna Rodrigues (bru.rodrigues.silva@gmail.com)
A escolha de uma profissão é um dos momentos mais marcantes da vida de qualquer pessoa, seja pela importância que essa escolha passa a ter mais adiante ou pelas diversas questões envolvidas nesse processo. Não é simples para um adolescente recém-saído do Ensino Médio ter que escolher qual rumo ele irá trilhar durante os próximos anos, e o quão definitiva essa atitude pode se tornar. Em meio a muitas dúvidas e pressão de todos os lados, esse jovem se depara com um grande obstáculo que representa apenas o primeiro passo em direção ao tão sonhado sucesso profissional: o vestibular.
Encarar essa sequência de provas, todas elas extremamente maçantes, não é algo fácil sequer para quem está preparado. E essa preparação nem sempre é tão acessível. A maioria leva mais de um ano em cursos pré-vestibulares, muitos deles com mensalidades caríssimas, tudo em prol de se submeter a uma série de avaliações que, no caso das principais universidades, só acontece uma vez por ano.
Para se ter uma noção de que fazer cursinho antes de prestar o vestibular já é algo comum para a maioria dos estudantes, o gráfico abaixo representa a quantidade de pessoas que passaram por essa experiência para realizar os testes promovidos pela FUVEST, vestibular que seleciona os alunos ingressantes na Universidade de São Paulo:
Vida de vestibulando
Passar em algum vestibular concorrido demanda esforço e negações. Na grande parte dos casos, os “nãos” são ditos principalmente para a vida social e para as distrações cotidianas. Apesar de todo essa preparação, é inevitável o nervosismo. “A gente tem que saber não só dominar a matéria, mas também dominar o que a gente sente. O psicológico, porque isso acaba interferindo, de uma forma ou outra, no resultado da prova”, afirma Joyce da Silva, 18, uma típica vestibulanda. Durante o ano de 2012 ela se preparou em um cursinho pré-vestibular de São Paulo para concorrer a uma vaga em Direito na Universidade de São Paulo.
A sua rotina de estudos ia além de simplesmente comparecer às aulas, ela estabeleceu um cronograma para que atividades relativas aos conteúdos aprendidos no cursinho fossem realizadas também em casa. Nem os sábados eram poupados e os domingos, com muito custo, eram destinados ao descanso.
No restante dos dias da semana, sua presença no cursinho até a tarde era comum. Tendo em vista a quantidade de tempo que os estudantes passam nesses lugares, nada mais recomendado que as instituições tenham um ambiente agradável, e que possuam um sistema de orientação pessoal personalizado. Assim, é possível minimizar o estresse causado por todas as imposições pelas quais esse jovem passa durante o período anterior aos vestibulares.
O apoio da família também é imprescindível, especialmente no que diz respeito à compreensão do momento que o vestibulando está passando. “Muitos pais já prestaram [vestibular], só que há muito tempo. Hoje está muito diferente. Os pais acompanham o esforço, mas realmente não sabem como é a prova”, disse Joyce.
Conforme a data da avaliação se aproxima, é inevitável sentir-se apreensivo, entretanto esse estresse exacerbado pode inclusive prejudicar na hora da prova. É necessário conhecer seus próprios limites e saber até que ponto a sua preocupação é normal. Para Joyce, nessa reta final, o ideal é relaxar e esperar o dia do vestibular, “a maior parte do que você já tinha que ter feito, está feito. Não dá para recuperar as defasagens nesse momento”.
E depois do vestibular?
Para muitos vestibulandos, o futuro mais distante que eles conseguem visualizar é o dia da divulgação da lista dos aprovados. Ana Paula Souza, 19, em 2012 passou em Jornalismo na Universidade de São Paulo e diz que esse momento foi muito especial: “Quando eu fui ver o meu nome na lista, nossa, eu chorei muito. Porque foram quatro anos da minha vida que eu vivi para passar na FUVEST”.
Os quatro anos a que ela se refere vêm a ser os três de Ensino Médio, que ela fez no Pará, e um ano de cursinho, feito em São Paulo. “O vestibular em Belém é muito diferente do vestibular de São Paulo, então eu tinha que estudar por fora para aprender coisas que lá eles não ensinavam. Como eu tinha esse déficit não consegui passar de primeira, por isso, eu vim para São Paulo fazer cursinho aqui”.
Já na faculdade, a percepção desse período de estudos e vestibulares muda, ficando apenas a realização de que foi possível conquistar mais um sonho. E para Ana, “nada é impossível. Quando passei, eu pensei: se você quer uma coisa e foca naquilo, pode demorar um ano, pode demorar dois, pode demorar o que for. Mas um dia você vai conseguir”.
O preço de uma vaga
Já quando o vestibulando não apresenta condições econômicas para arcar com um curso pré-vestibular, e cursou o Ensino Médio em escola pública, muitas vezes a sua única possibilidade de conseguir fazer uma faculdade gratuita é a partir das cotas.
Essa política foi sancionada no dia 29 de agosto de 2012 pela presidente Dilma Rousseff e instituiu que, a partir de agora, 50% das vagas nas universidades federais serão exclusivas daqueles que cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas. Metade dessas vagas deve ser destinada a negros, pardos e índios, e outra a alunos com renda familiar igual ou menor do que 1,5 salário mínimo per capita.
A decisão gerou diversas polêmicas, dentre elas o questionamento de que a qualidade dessas instituições públicas vai cair e de que a medida acarreta o fim da chamada “meritocracia das vagas”. Entretanto, todos esses preconceitos são resultado da falta de uma análise do real problema brasileiro, a desigualdade social.
Para o professor de Ensino Médio Antônio Carlos da Silva, 50, as cotas “são necessárias, para que a gente possa reparar alguns danos. Quem é contra comenta que elas são apenas meros paliativos, que amenizam, mas não resolvem. É verdade, mas precisamos amenizar”.
Em relação à defasagem que alguns estudantes provenientes de escolas públicas podem apresentar, instituições como a UnB (Universidade Federal de Brasília) e a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) realizam um acompanhamento para que com o tempo eles alcancem o grupo de que fazem parte. Em contrapartida, segundo estatísticas das mesmas universidades, as turmas de cotistas estão no mesmo patamar acadêmico das turmas não cotistas.
A USP também possui uma política que visa a entrada de alunos de escolas públicas em seus cursos. O seu nome é Pasusp, que além de permitir que o jovem não pague o valor da taxa de inscrição, também dá cerca de 15% de bônus no vestibular, dependendo da pontuação obtida na FUVEST. A bonificação é distribuída da seguinte maneira: até 5% para o candidato que realizou a prova durante o seu segundo ano do médio, sendo que esse bônus é acrescido ao que é ganho no final do terceiro ano, até 10% na nota da prova.
Outras possibilidades
A dúvida é algo muito comum nessa fase da vida e, por isso, muitos jovens consideram a universidade como o único caminho possível para sua formação profissional. Entretanto, existem outras opções que colocam o indivíduo mais cedo no mercado de trabalho e com salários razoáveis.
Para quem não vê o futuro como uma extensão da Academia, o professor Antônio mostra que há alternativas.“Existem outras opções dignas de formação profissional na área técnica, na área de tecnólogo, que são cursos de menor duração. Ele não precisa cursar o bacharelado e ficar quatro anos na universidade, se ele pode ter uma boa formação profissional com dois anos”.
Essa alternativa deve ser levada em consideração no início do Ensino Médio, visto que muitos cursos técnicos podem ser realizados durante esse período, direcionando o jovem. “Nós precisávamos de um trabalho de orientação profissional. Discutir com o menino e com a menina lá no primeiro ano do médio, no segundo. Ter um preparo anterior para que eles conheçam as profissões, os horizontes, para que aí possam tomar uma decisão serena”, afirma Antônio.
Independente do que for decidido pelo aluno, se o vestibular será realmente um caminho a ser trilhado ou não, “é importante as pessoas confiarem em si mesmas”, assim como lembra Ana Paula, ainda mais porque esse processo demanda um tipo de conhecimento muito pessoal, alheio aos outros.