Por Breno Marino (brenomarino2005@usp.br)
No último sábado (3), foi realizada a última prova do judô nas Olimpíadas de Paris. Ao longo da competição, os atletas envolvidos disputaram o esporte em categorias definidas de acordo com seu peso.
Representando a seleção brasileira, foram à capital francesa 13 atletas. Na categoria masculina, Michel Augusto, William Lima, Daniel Cargnin, Guilherme Schimidt, Rafael Macedo, Leonardo Gonçalves e Rafael Silva foram os escolhidos. Já pela equipe feminina, foram: Natasha Ferreira, Larissa Pimenta, Rafaela Silva, Ketleyn Quadros, Mayra Aguiar e Beatriz Souza.
Um dia para a história do esporte brasileiro
No dia 28 de julho, aconteceram as finais do judô nas modalidades peso meio-leve masculina (-66kg) e feminina (-52kg), nas quais Willian Lima e Larissa Pimenta foram os representantes brasileiros.
Estreante e medalhista de prata
O judoca paulista, estreante olímpico, iniciou sua trajetória na competição contra Sardor Nurillaev, do Uzbequistão. Com um wazari nos seis segundos finais do embate, Willian avançou às oitavas de final, na qual superou o turquemenistanês Serdar Rahimov através das punições (shidôs) — 3 a 0 contra o adversário.
Na fase seguinte, o brasileiro encarou o mongol Bashkuu Yondonpenrelei. Em disputa parelha até o fim, Willian chegou a perder as lentes de contato durante a luta, mas conseguiu encontrá-las. O judoca do Brasil venceu o confronto com um ippon sobre seu oponente, durante o golden score.
Nas semifinais, o atleta conseguiu a vaga na decisão após outro ippon, sobre Gusman Kyrgysbayev, do Cazaquistão. Com a classificação, Willian conquistou uma marca histórica: se tornou o primeiro brasileiro a alcançar uma final do esporte desde as Olimpíadas de Sidney, em 2000.
Pela final da categoria, o adversário do atleta foi Hifumi Abe, japonês campeão olímpico em 2021, em Tóquio. Com dois wazari, equivalente a um ippon, Willian foi derrotado. Assim, o judoca paulista conquistou a medalha de prata, em sua primeira participação em Olimpíadas.
Medalha conquistada por Willian foi a primeira do Brasil em Paris 2024 [Wander Roberto/COB/Fotos Públicas]
“Pimenta na campeã mundial”
Larissa Pimenta, atleta de São Paulo, estreou em sua categoria contra a cabo-verdiana Djamila SIlva. Com ippon após uma chave de braço, a judoca brasileira avançou à fase seguinte. Nas oitavas de final, após wazari durante o golden score, Larissa derrotou a britânica Chelsie Giles, uma das favoritas na competição.
Após derrota para a francesa Amandine Buchard, vice-campeã olímpica em Tóquio, a brasileira foi para a repescagem. Nessa fase, a oponente da judoca do Brasil foi Mascha Ballhaus, da Alemanha. Com desistência da oponente durante o golden score, após estrangulamento da brasileira, Larissa se classificou para a disputa da medalha de bronze.
Odette Giufrida, italiana e atual campeã mundial, foi a adversária no embate pela medalha. Em luta disputada, a medalhista foi decidida no golden score, quando a judoca italiana sofreu seu terceiro shidô e, consequentemente, deu a vitória para Larissa.
Depois de uma campanha frustrada na última Olimpíada, com derrota para a campeã daquela edição, Uta Abe, a brasileira conquistou a medalha que tanto almejava. Durante a coletiva de imprensa, Larissa disse: “Foi uma luta muito especial para mim. Naquele momento, já estava faltando um pouco de oxigênio na minha cabeça. Eu comecei a repetir a frase que eu falei desde o começo que é ‘eu mereço’. Então, naquele momento, eu só sentia isso e não estava entendendo muito o que estava acontecendo”.
Treinada pela ex-judoca Sarah Menezes, Larissa conquistou sua primeira medalha olímpica [Wander Roberto/COB/Fotos Públicas]
15 minutos históricos
Somado a medalha de bronze conquistada por Rayssa Leal no skate street, os feitos de Willian e Larissa aconteceram em um intervalo de praticamente 15 minutos, o que gerou alvoroço e comoção entre os brasileiros nas redes sociais, que não tiveram tempo de assimilar tantas conquistas para o esporte do país.
Primeiras medalhas do Brasil nas olimpíadas geraram alvoroço nas redes sociais [Reprodução/X: @TNTSportsBR]
Ouro de estreante
Beatriz Souza, judoca brasileira de 26 anos, nasceu em Itariri e foi criada em Peruíbe, na baixada santista. Com passagem pelo Palmeiras, a atleta defende o Pinheiros, clube de São Paulo. Estreante em jogos olímpicos, Bia lutou na categoria acima de 78kg. Em seu primeiro embate em Paris, a judoca venceu Izayana Marenco, da Nicarágua, com um ippon.
Nas quartas de final, a adversária foi a sul-coreana Hayun Kim. Em luta travada, as duas estavam com duas punições. Assim, a atleta da Coreia do Sul foi para cima, o que abriu brecha para Bia aplicar um ippon. Inicialmente, o ponto havia sido dado à adversária pelo juiz da partida, mas foi corrigido pelo árbitro de vídeo.
Com a torcida e pressão contra, a brasileira teve pela frente a judoca francesa Romane Dicko. Beatriz projetou e imobilizou a oponente, que com menos de 20 segundos do ataque, desistiu do combate. Com apenas 26 anos e em sua primeira edição de jogos olímpicos, a atleta já tinha garantido no mínimo a medalha de prata.
Na grande decisão, a israelense Raz Hershko foi a concorrente de Bia pelo ouro. Logo no início do embate, a brasileira conseguiu concluir um wazari sobre a adversária. Assim, bastou apenas administrar o placar para garantir o tão sonhado ouro olímpico, primeiro do Brasil nesta edição de Olimpíadas.
Com a conquista, Beatriz se juntou a Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Sarah Menezes e Rafaela Silva, ganhadores do ouro no judô [Alexandre Loureiro/COB/Fotos Públicas]
Medalha inédita no judô brasileiro
No último dia do judô em Paris, ocorreu a competição por equipes. Nessa modalidade, os lutadores das equipes voltam a competir em suas respectivas categorias, e cada vitória equivale a um ponto para o país.
No primeiro confronto, a equipe brasileira encarou o Cazaquistão. Por 4 a 2, o Brasil avançou às quartas de final. Na fase seguinte, não demos a mesma sorte e perdemos para a Alemanha por 4 a 3, na luta de desempate, realizada por sorteio de categoria.
Após a derrota, a seleção brasileira não se abalou e venceu com autoridade a Sérvia na repescagem: 4 a 1. Classificados para a disputa do bronze, o Brasil teve pela frente a forte seleção italiana.
Na decisão, o Brasil começou ganhando por 2 a 0, com vitórias de Rafael Macedo e Beatriz Souza. Em seguida, Genaro Pinelli descontou o placar, após derrotar Leonardo Gonçalves. Voltamos a abrir vantagem após a vitória da experiente Rafaela SIlva, mas sofremos o empate após sermos derrotados nas duas lutas seguintes.
Com o 3 a 3, caberia ao sorteio decidir quem iria lutar para decidir o vencedor. Como obra do destino, a categoria escolhida foi a de Rafaela SIlva, que disputou sua última Olimpíada e sofreu um duro golpe ao perder a disputa de bronze em sua categoria individual — assim como Rafael Macedo. Em menos de 20 segundos, a judoca aplicou um wazari na adversária e se redimiu, dando uma classificação inédita na história do judô nacional.
Com a vitória, o judô finalizou sua participação na competição e forneceu quatro medalhas ao ranking do Brasil: uma de ouro, uma de prata e duas de bronze. Além disso, com 28 medalhas totais, o esporte aumentou sua estatística de maior fornecedor de medalhas ao país nos Jogos Olímpicos.
Brasil é o quinto país com mais medalhas de judô na história das Olimpíadas [Miriam Jeske/COB/Fotos Públicas]
Foto de capa: [Miriam Jeske/COB/Fotos Públicas]