Saulo Yassuda
“A ideia [do filme] é esta: a revelação de alguma coisa”, afirmou Helena Solberg, diretora do documentário Palavra (En)Cantada, que estreia nesta sexta-feira (13). A “revelação” de Palavra, disse a cineasta, é da música brasileira – ou, pelo de menos, parte dela. A fala de Solberg foi feita em debate realizado logo após pré-estreia no cinema HSBC Belas Artes, em São Paulo, na noite da última segunda (9). O filme discute a produção musical brasileira e sua relação com a poesia, fazendo um apanhado de entrevistas com personalidades da música e da academia, fotos e imagens de arquivo.
O tal caráter “revelador” do filme foi sentido por alguns dos integrantes da plateia. Enquanto, nas telas, Caetano Veloso cantava “Alegria, alegria”, muita gente sentada a minha volta fazia o mesmo, sem desgrudar os olhos do vídeo. Ao mesmo tempo, o documentário parecia “revelar” o hip hop e o manguebeat à maioria dos espectadores – que, nesses momentos, ficavam em silêncio absoluto. Nada de cantos nem batuques. Talvez entendessem pouco desses gêneros.
Para a diretora, seu novo documentário tem caráter educativo – ele é “interessante para as escolas”. No entanto, ela contou que tentou não fazer nada muito acadêmico ou didático demais, ainda mais porque o filme é “cheio de emoção”. “Os entrevistados eram pessoas sensíveis, complexas!”, exclamou. O balanço entre esse certo didatismo e o “emocional” foi feito na mesa de edição – um desafio, revelou.
Debate
No inicío do debate, a diretora afirmou não ter muito a falar. Ela preferiu ouvir a plateia. “Cada uma é diferente da outra.” Dos poucos que quiseram se manifestar, ela recebeu elogios e mais elogios. Uma professora de história de meia-idade disse que chorou em muitos momentos do filme, sobretudo quando ouviu Dorival Caymmi cantar. Ela lamentou que seus alunos, adolescentes, “não querem saber de música de qualidade”.
A docente afirmou que é impossível dizer que Chico Buarque não tem qualidade. Por outro lado, a professora de história assegurou que o rap é um tipo de música “ruim”. Pouco atrás dela, estava sentada uma jovem de cabelos curtinhos, que levantou a mão e disse, com um pouco de sotaque estrangeiro (bem pouco, quase irreconhecível), que trabalhava com rap e que, na França, há rappers que escrevem versos que lembram os Baudelaire [poeta francês]. “As pessoas têm que deixar seus ouvidos abertos”, disse, enérgica, afirmando que as pessoas têm de ser menos preconceituosas. “Eu quero conhecer esse rap de Baudelaire”, brincou Solberg, que, aparentemente, pôde “ouvir o público”.