A semana de moda em Nova York já se encerrou, porém é inconcebível deixar de comentar sobre o desfile da marca Pyer Moss, no último domingo, 8. A coleção de primavera 2020, realizada pelo designer Kerby Jean-Raymond, foi considerada uma das melhores do evento e celebrou de maneira mais completa e impactante a cultura negra.
Tudo começa pela a escolha de local do desfile. Weeksville, Brooklyn. Região conhecida pela ocupação negra durante a política de segregação dos Estados Unidos. A autora Judith Wellman justifica a causa de sua criação, ao New York Times, como: “Para investir na ideia de que todos os homens foram criados iguais, eles fizeram um local onde podiam ter mais poder.” Jean-Raymond fez a comunidade da moda – predominantemente elitizada e branca – atravessar a ponte e se direcionar para um local onde o negro floresce.
O desfile, composto unicamente por modelos negros, representou o encerramento da coleção América, também que se dividiu em 3 partes: Cowboy (para homenagear os homens e mulheres que contribuíram para a formação da cultura de cowboys e rodeios), Normal (contar histórias comuns de famílias negras) e Sister. O objetivo é expor a contribuição da comunidade negra para a construção da cultura popular estadunidense. Nomes escondidos, banidos dos livros de história, passam a ser exaltados na passarela. É hora de dar aos créditos àqueles que merecem.
A América também é negra.

Em entrevista à Vogue, Jean-Raymond revela: “Eu queria explorar o que a estética poderia ter sido se a sua história tivesse sido contada”. Com roupas de cores vibrantes e com babados, a coleção remete aos clubes noturnos (presente nos salões das igrejas negras), nos anos 1970.

Não tem como ignorar, ao olhar a vestimenta a pessoa enxerga aqueles que a sociedade finge não ver.