Roda Gigante (Wonder Wheel, 2017) é aquele filme que promete ser um big deal. Escrito e dirigido por Woody Allen, o filme tem Kate Winslet como protagonista, Justin Timberlake como parte do elenco e um pôster misterioso que pouco revela sobre o longa. A trama é ambientada em Coney Island na década de 50, o figurino das personagens e o cenário remetem com precisão a essa época. Mickey (Justin Timberlake) é um homem que já rodou o mundo enquanto era militar e agora dedica seu tempo a estudar teatro na Universidade de Nova York. Para sair da vida agitada, o jovem vai para Coney Island nas férias trabalhar como salva-vidas.
Mickey fala sobre sua vontade de escrever peças e começa a contar a história do filme como se fosse uma peça de teatro e ele, sentado em sua cadeira de salva-vidas, o narrador. Portanto Mickey, no começo do longa, funciona como um narrador-personagem. O eixo principal é composto por Ginny (Kate Winslet), ex-atriz que trabalha como garçonete e mora com seu atual marido, Humpty (James Belushi), em uma casa localizada em cima de um dos brinquedos do parque. A pacata vida de Ginny sofre uma reviravolta com a chegada de novas pessoas na cidade. A enteada de Ginny, Carolina (June Templo), volta para a casa do pai em busca de refúgio, após ter entregue para a polícia informações sobre seu marido criminoso, que descobre e manda seus comparsas atrás da jovem. Carolina havia ficado 5 anos sem falar com Humpty, pois este não aprovava o casamento de sua filha.
Paralelamente, Ginny conhece o charmoso Mickey e começa a viver um caso com ele. À luz da lua, ela conta a ele como seu último casamento acabou por conta de uma traição por parte dela. Ginny se sente culpada por estar fazendo o mesmo mais uma vez, mas não se afasta do salva-vidas. Nesta cena, é possível observar como os filtros e jogos de luz seguem o sentimento das personagens. O azul do luar preenche o rosto de Ginny. O mesmo acontecerá em outras cenas. Os dois começam a se envolver cada vez mais, porém Ginny já está perdidamente apaixonada por Mickey, enquanto este parece um pouco efusivo e foge de perguntas relacionadas ao futuro do casal. O romance parece dar um colorido a vida de Ginny, que vivia infeliz por ter perdido seu grande amor e ter se afastado do seu sonho em ser atriz. A personagem, em momentos de nervoso, reclama constantemente de enxaqueca.
Neste começo, a impressão que dá é que o filme tratará sobre um romance, mas não é isso que acontece. Carolina conhece Mickey e a conexão entre os dois é visível. Ambos se interessam um pelo outro e Ginny começa a ter um ciúmes descontrolado. A atuação de Kate Winslet é precisa e sua personagem não cai em um esteriótipo de mulher-ciumenta-louca. A profundidade de Ginny é maior do que isso. Não há uma disputa das duas personagens por Mickey, pois Carolina não sabe do caso entre Ginny e o seu pretendente. A garota, dominada por uma paixão juvenil, confia seus sentimentos à sua madrasta, que faz de tudo para Carolina desistir de Mickey. Conforme o filme se estende, o ciúmes de Ginny aumenta.
Apesar deste ponto, a trama do filme é quase inexistente e mal explorada, se estendendo demasiadamente. É difícil entender qual é o seu objetivo quando ele termina, então Roda Gigante deixa a desejar. Mas apesar disso, há algo no filme que prende a atenção do espectador. A própria falta da trama faz com que o espectador fique a espera de um clímax na tentativa de entendê-la. O elenco também é um show à parte e talvez seja um dos pontos que faça quem assiste ficar vidrado à tela. O que dá para notar é que a psiquê humana é bastante explorada no filme, principalmente a de Ginny. Ela comete o mesmo erro repetidas vezes, mesmo sabendo que a traição trará coisas ruins para a sua vida. A personagem vive em uma roda gigante controlada pelos seus desejos carnais e sentimentos avassaladores, cheia de altos e baixos trazidos por eles. A melhor parte do filme, sem dúvidas, é Kate Winslet, que carrega o longa.
Várias coisas se perdem no decorrer do filme. A estética dele inicialmente é muito colorida, alegre. Há elementos cheios de energia como a praia e o parque de diversões, com uma vibe semelhante à La La Land (2016). A estética de cor se perde aos poucos, até que o longa termina com uma baixa saturação, sem a vida e vibração iniciais. A narração da personagem de Timberlake também desaparece no meio da trama, sem mais nem menos, perdendo a característica teatral. Ginny tem um filho, o Richie (Jack Gore), que incendeia diversos lugares e objetos durante o filme, mas não há justificativa ou desfecho para esse comportamento. O garoto apenas faz a plateia rir em suas aparições. O final do filme deixa algumas questões em aberto como: o que aconteceu com Carolina? A proposta de Woody Allen não foi bem executada ou explorada, seja lá qual tenha sido ela.
Roda Gigante chega aos cinemas no dia 28 de dezembro. Confira o trailer!
por Júlia Vieira
juliavcamargo@live.com