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Depois de temporada no Chile e apresentações no Rio de Janeiro, a companhia de balé clássico Ballet de Santiago, chega a São Paulo para apresentações que se iniciaram no dia 16 de agosto e terminam no dia 19 do mesmo mês. Depois, os bailarinos partem para apresentação em Curitiba, no Paraná. O espetáculo em cartaz é Romeu e Julieta, obra adaptada do livro do britânico William Shakespeare.
A apresentação conta com três atos, tendo duração total de 160 minutos, com dois intervalos de 15 minutos. Porém, em função da perfeição do trabalho, o espectador mal vê o tempo passar. Quando percebe, já está assistindo a trágica cena final ou aplaudindo o imenso talento dos participantes. Pode-se perceber, também, que foi grande o investimento de preparo e tempo na atuação teatral dos bailarinos. Além de impecáveis nos movimentos e técnica, eles se mostraram muito preparados para interpretar e transmitir os intensos sentimentos que compõem a história. Mesmo sem os longos e profundos textos de Shakespeare, a essência da peça não se perde.
Para Márcia Haydée, diretora da companhia e considerada uma das melhores bailarinas do Séc XX, a intenção do balé é, justamente, contar histórias por meio da dança. Em entrevista ao Estadão, ela afirmou: “Com a fala há barreiras. Se você está na Alemanha, precisa falar o alemão, se está na Inglaterra, o inglês. O balé é uma língua internacional. Você fala, mas não com palavras. Onde quer que esteja, o povo entende, não precisa de tradutor.”
O espetáculo contou com as coreografias criadas por John Cranko (1927-1973), para apresentação em que Márcia Haydée interpretou Julieta, em 1962. Haydée foi, por 13 anos, a primeira solista da companhia alemã Ballet de Stuttgart, dirigida por John Cranko. Depois da morte do diretor, assumiu a direção do grupo, onde ficou até 1995. A bailarina e diretora assumiu a Ballet de Santiago em 1992.
Em entrevistas, Haydée retoma alguns de seus aprendizados com Cranko, que a influenciaram, inclusive, na produção desta nova apresentação. Ainda para o Estadão, afirmou “A técnica é o menos importante de tudo porque a técnica sem o sentimento não vale nada. Principalmente nos balés de Cranko, o mais importante é a emoção, a parte artística, ou então você não poderia estar contando a história de Romeu e Julieta, seria apenas uma combinação de passos. Você tem de passar o que Cranko queria, o que Shakespeare queria e isso só se faz com emoção.”. Com esta frase, pode-se dizer que questiona aqueles que retratam o balé como uma arte fria e distante. A diretora mostra um trabalho artístico e complexo, que vai muito além de dança.
A música é a mesma composta por Sergei Prokofiev para apresentação em 1940 no Teatro Kiev, em Leningrado, na Rússia. Romeu e Julieta é um clássico, também, no mundo do balé, e o espetáculo aqui resenhado comprova o fato com maestria. Os figurinos esbanjaram cores e mobilidade, além de perfeita harmonia visual e estética. Além disso, os cenários se encaixaram milimetricamente com cada momento da apresentação, e a troca deles foi tão rápida e surpreendente que pareceu mágica. Cada vez que as luzes se apagavam para nova mudança, o público se colocava atônito ao questionar qual seria a próxima cena e ambiente retratados.
Dessa forma, prestigiar a melhor companhia de balé clássico da América Latina em sua passagem por São Paulo pode ser considerado quase um dever para os amantes da dança. Certamente, o espetáculo promovido pela Dell’Arte e patrocinado pelo Circuito Cultural Bradesco Seguros, é uma experiência fantástica e de grande beleza estética e técnica.
Por Laura Scofield
lauradscofield@yahoo.com.br