Ouçam, irmãos!: a época dos bolachões está de volta! Mas eles não são o que pensamos…
Por Renan Sousa (renan.sansou97@usp.br)
A agulha arranha, o filme congela. Como viemos parar aqui?
A primeira vez que vimos uma máquina vitrola funcionando foi a empoeirada lá de casa. Minha mãe mostrava uma coleção de raridades: um disco do Chico Buarque, o álbum Dois do Legião Urbana, Beth Carvalho – a maioria de meu pai. A paixão pelo formato começou aí e em boa época: diversos artistas começaram a relançar álbuns nesse formato.
Durante essa descoberta, ouvi muitas vezes: “é o melhor formato de áudio inventado pela humanidade”. Bem, não é exatamente verdade. Conversando com Antônio José Homsi Goulart, engenheiro de processamento de sinais com especialidade em áudio, ele explicou uma série de coisas que me fizeram entender melhor o mundo do vinil.
Consegue me ouvir?
O ouvido humano consegue perceber frequências na faixa de 20Hz até 20.000Hz, em média. “O CD, por exemplo, capta sons até 20.500Hz, o que garante que toda a faixa de audição seja contemplada”, ele diz. “As frequências mais altas [agudas] é que dão o brilho ao som. Já as frequências mais baixas [graves], como a voz de um homem, são mais abafadas”.
Mas o que me pegou no coração foi o que ele contou logo em seguida: o vinil, por ser uma mídia analógica e precisar de meios físicos, como agulha e as ranhuras do disco, acaba tendo uma distorção na hora de reproduzir a informação. A isso, chama-se song warm. “Grosso modo, [o vinil] capta e reproduz até menos frequências que o CD. Não é difícil colocar um efeito warm pra fazer o CD ficar parecido”, ele conta.
A briga de verdade.
A grande diferença se faz na divisão dos meios digitais de reprodução. “O formato em MP3 foi uma revolução, porque é um arquivo menor do que o do CD”, ele comenta. Algumas frequências podem ser desprezadas pois a cóclea (um tubo ósseo em formato de caracol responsável pela audição) possui partes que captam determinadas frequências com maior e outras com menor clareza.
Entretanto, a combinação dessas frequências é que dá o “corpo” ao som. A perda dessa informação torna o formato MP3 mais leve, mas também, menos “definido” do que o CD e o vinil.
E onde fica a emoção, meu jovem?
Não temam, amantes dos bolachões, ainda há esperança. Antônio conforta meu coração apaixonado pelos clássicos com o seguinte: “Hoje mal existe álbum, não tem capa. Antigamente tinha capa, as letras, os encartes, as músicas e tal. Como mídia, não é a melhor. Quanto a experiência, vai de cada um”. De fato, existem diversos grupos de facebook de pessoas que mantêm firme o amor por esse formato.
Por experiência pessoal, posso dizer que não é só mais o “ouvir” música. Juntar amigos, um bom vinho e um bom vinil pode ser uma experiência de verdade. Fora as histórias que cada disco conta: um arranhado feito em uma festa da faculdade, o último disco disponível na loja, um outro que foi conseguido em uma permuta por outros três.