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‘Selena Gomez: My Mind and Me’: a vulnerabilidade de uma artista pop

DOCUMENTÁRIO LANÇADO PELA APPLE TV+ PERPASSA A VIDA DE SELENA GOMEZ DESDE O CANCELAMENTO DE SUA ÚLTIMA TURNÊ, DESTACANDO QUESTÕES SOBRE SAÚDE MENTAL

O documentário Selena Gomez: My Mind and Me (2022) foi lançado na plataforma de streaming Apple Tv+ e em alguns cinemas estadunidenses no dia 4 de novembro. Dirigido por Alek Keshishian, a produção conta com um single original de mesmo título e  leva o espectador para os bastidores dos principais eventos que envolveram a artista pop durante os últimos 7 anos, como performances e entrevistas, com foco em aspectos de sua saúde física e a luta contra a ansiedade.

Os primeiros minutos retratam a Revival Tour (2016), que, inicialmente, seria o tema do longa. Dedicada ao seu segundo álbum solo de estúdio, Revival (2015), foi a última turnê de shows de Selena Gomez, interrompida após 55 apresentações devido a complicações de saúde. As imagens mostram a preparação para as performances, como a prova de figurinos e os ensaios, evidenciando a percepção da cantora sobre todos os detalhes. Também são destacadas suas emoções e inseguranças em meio ao ritmo frenético de shows, até que isso, aliado ao lúpus, passa a prejudicar seu bem-estar e, em agosto de 2016, culmina no seu afastamento dos palcos e da mídia. 

Selena Gomez durante show da Revival Tour em 2016. [Imagem: Reprodução/ Apple Tv+]

Em meio a uma acelerada troca de cenas, acompanhadas por manchetes e músicas que contribuem para a construção de um ambiente cinematográfico que remete à rotina caótica e angustiante de Gomez, ocorre a transição de temáticas: a turnê é substituída por aspectos sobre sua saúde física e mental. Depoimentos de familiares, a exemplo de sua mãe, Mandy Cornett, e de pessoas próximas dão um panorama sobre os eventos que se seguiram após o cancelamento dos shows e os riscos de saúde que a cantora enfrentou até sair do hospital, no qual foi internada e, posteriormente, transferida para a ala psiquiátrica. 

Apesar dessas participações, que são importantes para que o assunto seja abordado de modo mais amplo ao trazer à tona a perspectiva de quem viu de fora os acontecimentos, Selena é o grande porta-voz do documentário. “Deixe-me fazer uma promessa: só contarei a vocês meus segredos mais obscuros” é a primeira fala da artista no longa e revela muito de seu desenvolvimento. Os testemunhos dela dão uma perspectiva íntima sobre os fatos apresentados e atestam o caráter pessoal da produção ao mostrar seu ponto de vista sobre os episódios vivenciados e os reflexos deles em sua vida, mesmo após mais de três anos terem se passado.

Assim como visto em entrevistas e no trecho “Se alguém me ver assim não se sentirá mais sozinho”, presente no refrão da música dedicada ao documentário, o maior objetivo da protagonista ao expor sua trajetória com distúrbios psicológicos era ajudar as pessoas que estão passando pelo mesmo. Na produção, a artista se abre para o espectador mostrando sua vulnerabilidade e refletindo sobre como seus problemas de saúde e o diagnóstico de bipolaridade afetaram os mais variados campos de sua vida, a exemplo de seu comportamento e suas relações pessoais. Ela também explica os motivos por trás da decisão de ir, em 2018, a um hospital de saúde mental: “Serei sincera. Não queria ir a um hospital de saúde mental, mas não queria continuar presa em mim mesma, na minha cabeça”.   

Selena durante sua viagem ao Quênia. [Imagem: Reprodução/ Apple Tv+]

Duas viagens são destacadas ao longo do documentário: sua ida para Grand Prairie, no Texas, e para o voluntariado no Quênia. A primeira, introduzida por vídeos caseiros de Selena Gomez ainda criança, explora sua relação com familiares e os locais que marcaram seu cotidiano até se mudar, aos 11 anos, para desenvolver sua carreira de atriz. Ao lado de sua prima, Priscilla DeLeon, ela visita sua antiga escola, a casa onde morava e compartilha algumas memórias, que podem ser consideradas um alívio cômico na produção. 

Já a segunda, para o país africano, é caracterizada pela visita a fundações que buscam garantir o acesso da população local à educação. Lá, a cantora entra em contato com as diferentes histórias de vida das estudantes, o que forma um panorama sobre a pluralidade de narrativas existentes no mundo e mostram que, mesmo com essas diferenças, é possível que elas se identifiquem entre si por meio de suas trajetórias. Essa estadia acaba sendo retomada em vários outros momentos, sendo que Selena deixa claro o quanto preferia aquele estilo de vida em detrimento das idas à Europa para a divulgação de suas músicas e alguns compromissos envolvendo marketing, dos quais ela afirma estar cansada.

De volta aos Estados Unidos e a sua rotina profissional, a audiência entra em contato com o planejamento e a produção de seu mais recente álbum de estúdio, Rare (2020). Ao mostrar o processo de escrita, gravação e divulgação do primeiro single, Lose You To Love Me, incluindo os bastidores das viagens e das entrevistas, a sequência possibilita que os fãs acompanhem o lançamento da coletânea. Um ponto que chama atenção é a visão de Selena sobre esses eventos que envolvem a promoção das músicas na mídia, dado que, a todo momento, ela afirma se sentir incomodada e vista como um produto. A polêmica performance no American Music Awards 2019, alvo de críticas devido aos seus vocais, é abordada de modo a evidenciar a sua vontade de se apresentar, os ensaios, o nervosismo e como ela reagiu com todas as avaliações negativas. 

Selena Gomez durante sua performance de Lose You To Love Me e Look At Her Now no American Music Awards 2019. [Imagem: Reprodução/Apple Tv+]

Por fim, é explorada a convivência da artista com o lúpus. Ela foi diagnosticada com a doença autoimune em 2015 e, devido a complicações desencadeadas pela patologia, fez um transplante de rim em 2017. O cansaço, as dores e alguns tratamentos são alguns dos assuntos que surgem em decorrência da enfermidade e fazem parte do dia a dia de Selena. Durante as últimas cenas, ela expõe um de seus maiores receios em relação a isso: devido a alguns medicamentos, ela pode não conseguir realizar um de seus maiores sonhos que é a maternidade.

O documentário, encerrado em 2020 com o início da pandemia do Covid-19, cumpre com seu objetivo de transportar o público para o universo pessoal de Selena Gomez, dando-a o espaço necessário para que seus sentimentos e opiniões sejam expostos de maneira sensível e objetiva, além de garantir que o foco do longa seja bem desenvolvido. As transições, realizadas a partir de imagens com frases retiradas dos diários da cantora, a exemplo de “Eu amo a mim mesma?”, reforçam o caráter intimista e, ao provocar uma autorreflexão por parte do público, garantem maior dinamismo. Mesmo abordando um tema complexo, que pode desencadear gatilhos para quem o assiste, a sensibilidade e o cuidado da produção somente acrescentam no debate sobre saúde mental.

Imagem de capa: Divulgação/Apple Tv+

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