por Bianca Kirklewski
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O problema de Entrando numa Roubada (2015) é que quando você vai contá-lo para alguém, ele acaba parecendo mais interessante do que realmente é. A proposta é mais ou menos a seguinte:
Cinco amigos ligados ao mercado audiovisual resolvem criar um filme de ação chamado “Missão Explosiva”. Todos tinham a maior segurança do sucesso do longa e investiram boa parte de seu dinheiro para que ele se concretizasse.
O filme não teve retorno financeiro e a aguardada fama nunca chegou. A ex-atriz Laura (Deborah Secco) e o ex-diretor Walter (Lúcio Mauro Filho) agora animam festas infantis. O até então roteirista e ator Vitor (Bruno Torres) passa a vender pneus em uma borracharia. Eric (Júlio Andrade) leva uma vida suspeita. E Alex (Marcos Veras) se torna um popular pastor evangélico.
Um dia, Vitor ganha cem mil reais do edital de um concurso para roteiros. Ele resolve reunir o antigo grupo de amigos para sua nova ideia de ação, “Aceleração Máxima”. Espécie de road movie, o filme acompanharia um grupo de assaltantes de postos de gasolina viajando à procura de um inimigo. Seria a grande oportunidade do retorno ao estrelato.
Ao saber da nova produção, Eric enxerga nela sua chance de se vingar do responsável pelo fracasso de “Missão Explosiva”.
Acreditando estar participando de um método cinematográfico polonês secreto, no qual se filmava continuamente com câmeras escondidas e se fugia do set de filmagem, o grupo de atores não sabia, mas estava de fato assaltando postos de gasolina. Os únicos que tinham conhecimento da farsa eram Alex e Walter (que a princípio não aprovou a idéia, mas estava afundado em dívidas e precisava do dinheiro).
Se filmes fossem compostos apenas por enredos, Entrando numa Roubada seria um refresco agradável para a produção cinematográfica comercial brasileira. Mas só uma história não é suficiente: é necessário mais, como personagens críveis e roteiros dinâmicos. Algo que não se encontra no 1º longa da carreira de André Moraes.
A começar pelos personagens, pouco convincentes. Talvez numa tentativa de trazer humor a um filme, nas palavras de Lúcio Mauro Filho, “difícil de ser rotulado”, os personagens são em sua maioria caricatos, supérfluos e passivos. Deborah Secco admite: “foi o filme que eu menos trabalhei para chegar num personagem diferente”.
A tentativa de crítica social presente no longa é um tanto frustrante. Há uma cena cujos cortes foram distribuídos ao passar do filme, com o pastor corrupto dizendo como roubar os fieis. Possivelmente colocada com o propósito de incomodar o telespectador pela maldade do líder religioso, a cena incomoda unicamente por ser extensa e repetitiva.
O final do filme choca, não por ser surpreendente ou inovador, mas por incentivar o linchamento. Na atual conjuntura nacional, com tantos casos de pessoas espancando as outras por acreditarem estar fazendo justiça, uma obra vinculada a um órgão governamental como a Ancine ter um desfecho como esse assusta.
Na coletiva de imprensa, o ator Marcos Veras diz que seu personagem “talvez tenha merecido o final que teve”. Fica evidente que esse pensamento está enraizado na sociedade. E o longa, que tinha unicamente a função de entreter, se torna involuntariamente um triste agente de questionamento para o público mais preocupado e atento.
Assista ao trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=MjldH4S5UgI