Carolina Unzelte
Reconhecido como esporte olímpico apenas em 1984, a Ginástica Rítmica é mais do que apenas precisão de movimentos: a subjetividade também está presente pela importância que a graça tem nas apresentações. E daí vem o destaque para as roupas das ginastas, à medida que elas contribuem para montar um espetáculo em que a beleza é parte essencial. “A escolha das cores, formas e estampas resulta em uma estética que remete diretamente às características do próprio esporte envolvendo resistência e força, deixando transparecer apenas delicadeza, leveza e feminilidade”, afirma Heloísa Cassanho, estilista que estudou os collants da GR.
Além disso, vestimentas ergonômicas são fundamentais para que as praticantes atinjam bons resultados: “quando inadequadas, podem causar desconforto, bloqueios psicológicos e até mesmo lesões, comprometendo seu desempenho em quadra”, reforça Heloisa. Assim, geralmente são feitas de tecidos elásticos e com alta capacidade de alongamento, como suplex, viscolycra e forro de poliéster, para não impedirem ou atrapalharem os movimentos das atletas. Mais que isso, as vestes para a GR são importantes em níveis emocionais. “A roupa utilizada durante os treinamentos vai ser aquela usada durante maiar parte de seu dia e é importante que a atleta perceba que esta roupa foi feita para isso”, ressalta Heloisa. “Que ao vestir-se, ela sinta-se confortável e bonita – sentimentos que melhoraram a desempenho em quadra”.
Como parte das apresentações, os collants também são avaliados e têm de seguir certas regras especificadas pela Federação Internacional de Ginástica, sendo que os decotes não podem ser abaixo do osso esterno e não são permitidas cavas muito profundas. Por outro lado, é necessário que os collants sejam bastante justos, para que os juízes possam avaliar a posição correta de cada parte do corpo. Outros aspectos da aparência também devem seguir um padrão: os cabelos devem estar presos, a maquiagem é leve e não são permitidos piercings ou joias que possam machucar a atleta. Para garantir que essas normas sejam cumpridas, todas as ginastas passam por um inspeção em relação à suas vestimentas antes de entrar para apresentar-se.
Apesar de todas as exigências e do seu papel importante, as roupas para a prática de Ginástica Rítmica no Brasil ainda são um desafio para suas praticantes. A maioria das ginastas brasileiras têm que encomendar roupas, sapatilhas e acessórios da Europa e Japão (que tem uma das empresas gigantes no ramo, como a Sasaki) o que acarreta em um alto custo, além de não serem ideais para cada ginasta. “Elas normalmente utilizam nos treinos roupas para prática de academia ou ballet, que nem sempre são adequadas aos movimentos que elas realizam, nem possuem resistência necessária para as rotinas de treino que duram entre quatro e oito horas diárias”, explica Heloisa, que teve em sua vida um exemplo dessa dificuldade.
Ela praticava Ginástica Rítmica no colégio e sentiu a falta de incentivos no país para o esporte: “nós mesmas bordávamos o collant com lantejoulas e a mãe de uma amiga, que era costureira, que fazia”, lembra a estilista. A maioria das pequenas equipes copia as peças usadas por ginastas famosas, mas Heloísa, com seu gosto por desenho, começou a elaborar seus próprios collants. “Minhas amigas gostavam do que fazia e pediam que eu desenhasse para elas: foi assim que decidi seguir carreira na moda”, conta.
Enquanto isso, as grandes equipes, como a Rússia, por exemplo, tem seus collants feitos sob medida por especialistas e que chegam a contar com os caríssimos cristais swarowski. O contraste também é gritante ao avaliarmos a equipe de GR dos EUA no Rio 2016: as roupas das atletas americanas foram feitas com dois anos de antecedência e contaram com várias provas para que servissem perfeitamente em cada uma das garotas, além de serem feitas com cerca de 5000 mil cristais: o custo aproximado de um collant é de 1200 dólares – e cada ginasta tem 20 peças.