Quase 80% das doenças crônicas que afetam a população são resultado das escolhas feitas em nosso dia a dia. Tal fato, mencionado por Edward Phillips, professor e pesquisador de Harvard, norteia o documentário Vida em Movimento (2019). A proposta do longa, idealizado por Marcio Atalla e dirigido por Eduardo Rajabally, é discutir a chamada epidemia silenciosa do século XXI — o sedentarismo.
O documentário traz uma análise do estilo de vida pós-moderno e apresenta maneiras encontradas por pessoas ao redor do mundo para combater a inércia. Aqueles que já conhecem o trabalho de Atalla sabem que o preparador físico é um grande defensor dos exercícios físicos e da busca por uma vida mais ativa. Entretanto, mesmo se as alternativas apresentadas já forem de seu conhecimento, o filme serve como um lembrete para aplicá-las em meio às rotinas corridas das metrópoles.
Uma das práticas inusitadas é o “mall walking”, ou seja, a caminhada em shopping centers. Esse tipo de exercício é praticado nos Estados Unidos, em sua maioria, por idosos, que podem o fazer individualmente ou formar grupos de “mall walkers”. Alguns shoppings abrem mais cedo e, enquanto as lojas estão fechadas, os corredores se tornam lugares seguros para uma caminhada. Assim, é possível driblar o frio, fazer exercício físico e ainda ter o conforto dos banheiros e bebedouros.
A parte mais interessante de Vida em Movimento é a abordagem de um tópico de extrema importância: o planejamento urbano. Em entrevista para o filme, o urbanista norte-americano Jeff Speck explica que muitas cidades não são planejadas para que a população ande ou use bicicletas e acabam tendo os carros como principais protagonistas. Nova York e São Paulo, por exemplo, são exibidas como exemplos de cidades que não cresceram de maneira inteligente ou sustentável.
A capital da Dinamarca, por outro lado, mostra que o planejamento urbano pode ser chave no combate ao sedentarismo. Copenhague é uma cidade cujo trânsito é feito para bicicletas. Lá, são poucas as vagas para estacionar carros; as ciclovias, tão largas quanto ruas, estão em todos os lugares; e pontes para ciclistas interligam os bairros centrais. O filme acompanha, então, uma família dinamarquesa que tem a bicicleta como principal meio de transporte. Os pais, além de pedalarem para o trabalho, levam e buscam os filhos para a escola e criam neles a cultura de locomoção que preza pela saúde.
A equipe do documentário visitou também a Coreia do Sul e a Finlândia, além de ter abordado a realidade de São Paulo e do Rio de Janeiro. Um dos entrevistados, que reside na Zona Norte de São Paulo, pedala diariamente para o trabalho, na Zona Sul. Mesmo endossando os benefícios disso, o longa deixa evidente que a cidade não é planejada para tal prática.
Vida em Movimento não evidencia uma outra grande dificuldade da cidade de São Paulo quando o assunto é caminhar ou pedalar: a segurança pública. Incentivada pelo anti-sedentarismo de Marcio Atalla, saí da sessão e considerei caminhar 20 minutos até o metrô. Olhei pro relógio: 22h30. Andar sozinha na capital paulista nesse horário? Sendo mulher, resolvi não arriscar.
O documentário será dividido em três partes e exibido como uma série pelo Fantástico. Com uma linguagem acessível, a mensagem do filme é clara: temos que adicionar, em nossas rotinas, maneiras de combater o sedentarismo.
Vida em Movimento estreia no dia 10 de março na Rede Globo e dia 28 de março nos cinemas.
por Gabriela Bonin
gabibonin@usp.br