Uma história tocante que merecia ser contada. E foi, da melhor maneira possível. O Tradutor (Un Traductor, 2019) acompanha a vida de Malin (Rodrigo Santoro), professor de literatura russa da Universidade de Havana convocado para trabalhar como tradutor no hospital cubano que recebeu as vítimas do acidente nuclear de Chernobyl.
Cativante pela narrativa e seu desenvolvimento, o filme apresenta dilemas palpáveis que fazem o espectador refletir sobre as diversas situações apresentadas 一 complexas e nem um pouco fáceis de serem resolvidas. Malin é designado para trabalhar na ala infantil e, logo no primeiro dia, desiste. Entretanto é forçado a continuar. A partir de então o envolvimento com as crianças e as famílias, que se encontram em situações horríveis por conta da radiação, aumenta. Se por um lado o professor passa a desenvolver afeto por essas pessoas, por outro começa a se afastar de sua família. Sua esposa, Isona (Yoandra Suárez), passa a ter dificuldades em cuidar do filho por conta de seu trabalho: curadora de exposições de arte.
O ritmo da narrativa é um pouco lento, porém não é arrastada em momento algum. Isso se deve a construção densa do personagem de Rodrigo Santoro, capaz de criar um vínculo entre o personagem e aqueles que assistem. Malin começa cético em relação ao seu trabalho como tradutor. O tempo passa e logo ele muda de ideia. Passa a construir relações muito bonitas com as crianças, extrapolando até suas funções primordiais.
O professor, que deveria apenas intermediar a comunicação entre as famílias e os médicos, lê histórias para as crianças do hospital, conversa com elas, pede para que elas escrevam e desenhem sobre suas vidas. A relação mais forte que Malin desenvolve é com um garoto chamado Alexi (Nikita Semenov), que está em situação crítica e fica isolado dos outros por conta da debilidade de seu sistema imunológico.
Dirigido pelos irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso, filhos reais de Malin, O Tradutor traz aos holofotes uma história real investindo no desenvolvimento de personagem e na narrativa. O resultado final é um filme tocante que remonta muito bem um período histórico não tão longínquo.
O longa recebeu muito destaque no Festival de Sundance 2018 e chega aos cinemas brasileiros dia 4 de abril. Confira o trailer abaixo:
por Marcelo Canquerino
marcelocanquerino@gmail.com