Uma divertida animação e uma música conhecida do público abrem Leonera, novo filme de Pablo Trapero (Família Rodante): a bola do menino na casa na rua na cidade que por fim termina no universo que contém todo o cenário nos remonta de volta aos tempos de infância. A brincadeira representada na animação e as vozes das crianças abrem para um cenário triste que nos chama de volta à realidade: Julia (Martina Gusman) acorda assustada e ensangüentada em seu quarto com o cadáver de seu namorado e o amante deste, Ramiro (Rodrigo Santoro, em breve atuação), desacordado.
Grávida, a moça é levada para a ala especial de uma penitenciária feminina onde terá direito a permanecer com seu filho até ele completar quatro anos. Neste ambiente, Trapero nos mostra as mazelas da sociedade argentina (e global como um todo, pensando em um plano maior): temas como o abandono a que as moças e seus filhos são submetidos, o descaso por parte de familiares e do Estado, as mentiras e armações dos advogados e julgamentos e as relações interpessoais são discutidos pelo filme sem cair nas afetações e desnecessários clichês que muitos dramas do gênero carregam consigo.
O filme não deixa claro quem foi o verdadeiro responsável pelo assassinato, se Julia ou Ramiro, ele nos fornece as versões de ambos e nos deixa escolher em qual lado acreditar. Tendemos a sentir compaixão pela mãe que, no começo do filme, se vê sozinha e com o filho como única companhia. Atordoada e confusa na nova vida – encarar o desafio de ser mãe e cuidar de um bebê na prisão – Julia se abriga na amizade (e no afeto) com sua vizinha de cela para manter-se saudável nos momentos em que se abandonada e traída até pela própria mãe.
Leonera, em espanhol, é o lugar onde se mantém os leões. Neste caso, as leoas são mantidas em uma espécie de creche que mistura a alegria das crianças que brincam nas grades acinzentadas da melancólica prisão. Trapero soube mesclar neste filme as criticas à sociedade e a beleza nos gestos de verdadeira amizade e amor maternal. As músicas, muitas delas com temas infantis, ajudam a completar o quadro deste retrato social que Leonera desenha em suavidade e delicadeza.