Bruno Benevides
Geralmente deixado em segundo plano por crítica e público, o documentário é um dos gêneros mais ricos do cinema. Ele pode se debruçar sobre temas e personagens reais, existindo na fronteira entre cinema e jornalismo. É o equilíbrio entre estas duas vertentes que define a qualidade de um documentário. Se for muito parcial se descola da realidade, perdendo sua qualidade de despertar o debate. Mas também não pode abrir mão de sua marca autoral, ou então corre o risco de virar apenas um jornal grande. Infelizmente o filme O Advogado do Terror, de Barbet Schroeder não conseguiu manter este equilíbrio.
O diretor foi buscar um personagem interessante para fazer seu filme, o advogado Jacques Vergès, francês de ascendência vietnamita. Um anticolonialista convicto, ele ganhou fama ao defender a FLN (Frente de Libertação Nacional) que lutava pela independência da Argélia nos anos 1950. Depois disso rodou o mundo advogando para todo tipo de gente: foi próximo da ditadura de Pol Pot no Camboja, trabalhou para a Alemanha Oriental comunista, se aproximou de grupos radicais islâmicos e palestinos e defendeu o sérvio Slobodan Milosevic e o criminosa nazista Klaus Barbie. É, pois, uma vida bastante movimentada e eclética.
O Advogado do Terror reconstrói a trajetória de Vergès a partir de uma longa entrevista, além de trazer falas de amigos e ex-clientes, tudo mesclado com imagens históricas. Apesar dos diversos personagens interessantes que passam pela tela, o filme não funciona devido a posição do diretor. Como o próprio título já demonstra, Schroeder não é nem um pouco simpático a Vergès ou as suas causas.
Não se trata de defender aqui as posições de Vergès, nem de falar do mito da imparcialidade. A questão aqui é que a película mais parece uma peça de acusação contra o advogado do que um debate acerca de suas escolhas. Sua vida é cheia de contradições, de atitudes pouco (ou nada) éticas, de defesa de assuntos muito delicados. Mas nada disso recebe a atenção que devia, o diretor logo mostra Vergès como um monstro e a partir daí tenta comprovar esta tese (o que aliás não é lá muito difícil). A cena dos créditos final, que mostram imagens de mortos e feridos em conflitos exemplifica bem esta posição do filme. Falta sensibilidade, um tratamento correto sobre as escolhas do advogado, algo que levasse a um questionamento, a uma discussão sobre suas posições. Crucificar um monstro é fácil, o difícil é tentar entender de onde vêm sua monstruosidade.
Ficha Técnica: O advogado do terror (L’Avocat de la Terreur) França, 2007
Direção: Barbet Schroeder
Elenco: Jacques Vergès
Duração: 137 min.
Onde Ver: Espaço Unibanco Augusta, Frei Caneca Unibanco Arteplex