Ricky Hiraoka
Ao Entardecer tem dois pontos em comum com Desejo e Reparação. O primeiro é a atuação de Vanessa Radgrave. Outra coincidência é o fio condutor da trama estar centrado na culpa. É a culpa que move a vida das personagens e influencia suas escolhas. Entretanto, não são as semelhanças que tornam a comparação entre esses filmes inevitável; são as diferenças. Se em Desejo e Reparação, o espectador sai atordoado, pensando nas conseqüências de seus atos, em Ao Entardecer (Evening) a impressão que fica é que esquecemos de deixar cair aquela lágrima enquanto os créditos sobem pela telona.
O forte elenco, recheado de talentos e nomes conhecidos como Meryl Streep, Glenn Close e Toni Colette, é o principal atrativo do filme e se esforça para sustentar Ao Entardecer. Claire Danes e Vanessa Radgrave interpretam as duas fases de Ann, que revive um importante episódio de sua vida no leito de morte.Na juventude, Ann, uma aspirante a cantora, vai para o litoral oeste americano para prestigiar o casamento da amiga Lila (Mamie Gummer, filha de Meryl Streep na vida real). Lá, conhece o médico Harris (Patrick Wilson) por quem se apaixona. Essa atração, porém, parece proibida, pois Lila, apesar de estar prestes a se casar, é apaixonada pelo médico. Outro empecilho para que o romance entre Harris e Ann se concretize é o problemático Buddy, o irmão de Lilá, brilhantemente interpretado Hugh Dancy. Buddy tem uma sexualidade indefinida, sentindo-se atraído tanto por Ann quanto por Harris. A imprudência de Buddy será a responsável por Ann carregar vida afora o remorso e o desejo de voltar no tempo para fazer tudo de modo diferente.
O filme falha em não explorar o potencial dramático do improvável triângulo amoroso formado por Ann, Harris e Buddy. Tudo é minimizado. Parece que a intenção é não chocar a platéia.Tendo como base as competentes performances e uma belíssima fotografia, Ao Entardecer propõe uma pergunta que já passou pela cabeça de todos: controlamos nosso destino ou tudo acontece por que nossa vida é pré-determinada por uma força maior? Apesar de ser um bom filme, a produção de nome do diretor não passa de maneira eficiente a mensagem proposta. O impacto que o enredo causa no espectador fica aquém do resultado que poderia ser obtido. Ao final do filme, sentimos o amargo gosto da resignação.