O clima pacífico da cidade de Aurora, em New Hampshire, contrasta com os mistérios dos quais ela já foi palco. Na noite de 31 de Agosto de 1975, a viúva Deborah Cooper avista uma jovem sendo perseguida na floresta de Side Creek Lane. Poucos minutos após ao primeiro chamado, a senhora contata novamente a polícia, informando que a garota, Nola Kellergan, estava em sua sala. Quando os oficiais chagam a residência, Deborah é encontrada morta e Nola nunca mais vista.
O suposto assassinato da menina de quinze anos é o eixo principal do romance de Joël Dicker, A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (Intrínseca, 2014). Ou seria, se os demasiados plot-twists da narrativa não ofuscassem a morte de Nola, a ponto de o mistério não mais figurar como “questão existencial” do livro em seus últimos capítulos.

Trinta e três anos após o fatídico episódio, o escritor Marcus Goldman disposto a tudo para driblar o bloqueio criativo e repetir o sucesso de seu primeiro best-seller, volta a Aurora para buscar cura na experiência de seu antigo professor universitário, o grande Harry Quebert. Goldman não imaginava o grandioso e complexo enredo que encontraria nas ruas da pequena cidade de New Hampshire, bem como seus personagens multifacetados.
Quebert, escritor consagrado pelo romance As Origens do Mal, é preso quando restos humanos são encontrados em seu quintal, junto a cópia original datilografada de sua famosa obra, assinada com o bilhete “Adeus, Nola querida”. O romance entre a filha do pastor, com apenas quinze anos, e o incipiente escritor, já com trinta e tantos anos, vem a tona com a descoberta da ossada. A relação condena, pelo menos aos olhos da opinião pública, Quebert pelo assassinato de garota.
Na intenção de ajudar seu antigo mestre – cuja relação estrutura os trinta e um capítulos da obra, cronologicamente – e também por recusar a culpa daquele que tanto lhe ensinou, Goldman embarca em uma complexa investigação sobre o que, de fato, aconteceu no verão de 1975. Quanto mais ele se aprofunda na história, mais personagens inusitadas são envolvidas, segredos e mentiras revelados.
A agilidade com que se desenrola o enredo, ao passo que nos incita a terminar logo o livro, trata trechos interessantes com superficialidade. A impressão que temos ao ler A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert é que Dicker se empenhou tanto para escrever um livro bem planejado – como, de fato, é – que acabou menosprezando certos aspectos, resultando em diálogos artificiais e cenas de alto potencial não exploradas.
Ainda assim, a obra é boa no quesito romance policial e seu enredo talvez tenha a força necessária para sombrear as falhas de escrita.
Por Maria Beatriz Barros
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