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Austrália e Nova Zelândia 2023 | Goleira do Vietnã faz um jogo histórico, mas não consegue impedir a vitória dos EUA

Mesmo com uma partida histórica da goleira Kim Thanh Tran, Estados Unidos fazem 3 a 0 em um jogo que se esperava um placar muito mais elástico

No dia 21, às 22h, houve a estreia da atual bicampeã consecutiva da competição, a seleção dos Estados Unidos, na Copa do Mundo de 2023. O jogo também marcou a estreia do Vietnã na história do torneio, já que a equipe nunca havia participado de nenhuma outra edição.

Ao contrário do que se esperava —uma goleada histórica do time americano —, o Vietnã veio com uma tática defensiva muito eficiente e também contou com uma atuação histórica de sua goleira Tran, que defendeu até um pênalti cobrado por Alex Morgan. No final, o 3 a 0 foi uma surpresa positiva para o Vietnã, mas também mostrou o poderio de criação de jogadas e intensidade ofensiva dos Estados Unidos.

Passado histórico

No futebol feminino, as duas seleções nunca haviam se enfrentado, mas o confronto entre EUA e Vietnã tem um peso histórico gigantesco. A Guerra do Vietnã foi um conflito entre as partes norte e sul do país, entre 1959 e 1975. Com o temor de que o Vietnã do Norte, comunista, dominasse o Vietnã do Sul, alinhado ao Ocidente, os EUA se envolveram nessa guerra no ano de 1965 e ficaram até 1973.

Com o apoio da China e da URSS, o Vietnã do Norte venceu a guerra, e a participação do país norte-americano foi considerada um desastre completo, de diversos pontos de vista (do militar, da reputação e da opinião pública). A falta de adaptação ao clima e terreno vietnamita foi um dos principais motivos para a morte de milhares de americanos.

Apesar disso, os países voltaram a ter relações diplomáticas após a queda soviética. Assim, o jogo não carrega a mesma tensão que EUA e Irã, confronto que ocorreu na Copa do Mundo de 2022 — e também em 1998 —, mas é inegável o peso histórico que esse confronto entre Estados Unidos e Vietnã, na Copa do Mundo Feminina de 2023, possui.

Pré-jogo e curiosidades

Mai Duc Chung, técnico do Vietnã, foi o primeiro treinador da história da seleção feminina vietnamita, em 1997. Após classificar a seleção para a sua primeira Copa do Mundo, chegou a dizer que não continuaria como técnico na Copa, podendo ser auxiliar. Apesar disso, permaneceu e fez um ótimo trabalho nesse jogo de estreia.

Já os EUA, treinados pelo macedônio-americano Vlatko Andonovski, vinham para essa Copa do Mundo com um histórico de 40 vitórias em 50 jogos disputados na competição. Com o elenco bastante renovado, mas ainda com algumas jogadoras experientes, o time vai em busca de um tricampeonato consecutivo inédito na edição.

Com uma rivalidade na Ásia entre Tailândia e Vietnã, um placar menor do que a derrota do seu rival para os Estados Unidos na último Copa (13 a 0, em 2019) poderia, por muitos, ser considerado um sucesso, mas a verdade é que o time vietnamita equilibrou bem mais a partida do que o esperado.

Escalações e esquemas táticos

Os Estados Unidos foram a campo montados em um 4-2-3-1, com Alyssa Naeher no gol; Crystal Dunn, Julie Ertz, Naomi Girma e Emily Fox na defesa; Lindsey Horan e Savannah DeMelo no meio defensivo; Trinity Rodman, Andi Sullivan e Sophia Smith no meio ofensivo; e Alex Morgan no ataque. Contudo, na prática, o time jogava em um 2-5-3 (esquisito, porém eficaz), já que as duas laterais, Dunn e Fox, avançavam para o meio, e as duas meias abertas, Rodman e Smith, avançavam para as pontas.

Escalação dos Estados Unidos [Imagem: Reprodução/Youtube/CazéTV]

Assim, a criação das jogadas passava pelas duas zagueiras, Ertz e Girma, que trocavam passes no meio-campo para esperar a movimentação do time em campo. A estratégia serviu para dar mobilidade ao time, já que, com as zagueiras armando o jogo, o resto do time poderia flutuar em campo e trocar diversas vezes de esquemas táticos, usando muitas variações. Isso acontecia pois, com o time sempre no ataque — coisa que ocorreu o jogo todo —, as americanas não viram necessidade de se preocupar tanto na marcação, transformando as zagueiras em meio-campistas recuadas, de criação, e o resto do time misturado entre meias-ofensivas e atacantes.

Com essa mobilidade, muitas vezes alguma jogadora do meio campo subia para o ataque, e formava uma linha de quatro jogadoras lá — basicamente, as únicas que se mantinham sempre na mesma posição eram as duas zagueiras, enquanto as outras oito jogadoras trocavam de posição entre meio e ataque, mudando sua formação a cada novo ataque, mas predominando em uma espécie de 2-5-3.

O Vietnã veio com uma proposta totalmente inversa a do adversário, com uma tática extremamente defensiva e recuada, com o time deixando os EUA criar as jogadas e se defendendo intensamente. Em campo, foram montadas em um 5-4-1, com Kim Thanh Tran no gol; Thi Loan Hoang, Thi Thu Tran, Thi Diem My Le, Thi Thu Thuong Luong e Thi Thu Thao Tran na defesa; Thi Tuyet Dung Nguyen, Thi Thao Thai, Thi Bich Thuy Nguyen e Thi Hai Linh Tran no meio; e Huynh Nhu no ataque.

Escalação do Vietnã [Imagem: Reprodução/Youtube/CazéTV]

Na prática, com uma tática defensiva, a atacante virava uma meia, já que recuava para ajudar na marcação. Assim, muitas vezes, alguma jogadora do meio subia um pouco para fazer uma dupla de marcação com a atacante, formando um 5-3-2, que era basicamente três linhas defensivas. Mas de um modo geral, o time era muito mais fixo do que o americano, com um 5-4-1 bem visível na grande parte.

Primeiro tempo: ataque contra defesa e muralha vietnamita

E logo nos primeiros segundos, os Estados Unidos tomaram o controle da bola, após o Vietnã errar o primeiro passe do jogo em uma tentativa de passe em profundidade. Com isso, os EUA começaram e não pararam mais de atacar. O primeiro chute veio aos 3’, com Alex Morgan: em um lançamento, Horan tocou de primeira para o meio da área, e Morgan, após a bola sobrar sem ninguém tirá-la, tentou o chute, que foi travado pela zaga vietnamita. Na sequência, Sullivan arriscou o chute de primeira, de fora da área, mas a bola subiu muito e foi para fora. No minuto seguinte, mais uma boa chance com um toque de cabeça de Ertz, após cobrança de falta, para a bola passar ao lado do gol.

Os EUA continuaram pressionando e a primeira grande chance foi aos 6’, com a capitã Horan: após um lançamento, a defesa do Vietnã fez a interceptação, mas a bola acabou caindo no pé da americana, que entrou na área, cortou a zagueira Thi Thu Tran e finalizou para uma grande defesa de Kim Thanh Tran, que se adiantou para bloquear o chute. Apesar do perigo, o lance acabou não sendo validado, já que Rodman fez falta fora da jogada, logo após a interceptação vietnamita.

Com isso, o Vietnã tentou “cozinhar” o jogo e usou de sua tática retranqueira para isso. Porém, aos 14’, Horan deu um belo passe para Alex Morgan que, no pivô, passou de letra para Smith. A jovem estava em velocidade e, com apenas dois toques na bola, dominou e chutou para fazer o primeiro gol dos EUA, por baixo das pernas da goleira vietnamita.

O jogo seguiu com um domínio dos Estados Unidos, mas sem grandes chances criadas e nem efetividade no ataque, dando mais confiança à Kim Thanh Tran, que fazia boas e seguras defesas em finalizações fracas ou cruzamentos norte-americanos. A próxima grande chance dos EUA veio aos 28’, com um belo passe de DeMelo para Morgan, que ficou sem marcação dentro da área. Assim, arriscou um chute cruzado, que passou tirando tinta da trave. No minuto seguinte, aos 29’, Alex Morgan recebeu mais um passe em profundidade e dominou sem marcação dentro da área, mas Tran se agigantou para fechar o ângulo do bate e interceptar o chute. Ao finalizar o lance, a bandeirinha marcou o impedimento, mas a defesa serviu para dar mais confiança à goleira e à tática defensiva vietnamita.

Após mais chances dos Estados Unidos sem efetividade — seja pelos chutes para fora do gol ou mesmo pelas defesas da goleira do Vietnã em chutes sem muito perigo —, a defensora vietnamita Thi Loan Hoang fez um pênalti infantil em cima de Rodman, aos 39’: em um lance na ponta da área, sem muito perigo, Thi Loan tentou interceptação arriscada, sem necessidade, e acertou o pé da ponta americana. Após checagem do VAR, a árbitra da partida Bouchra Karboubi confirmou a penalidade. Alex Morgan foi à cobrança, aos 44’, para marcar o seu décimo gol em Copas do Mundo, mas bateu muito mal, possibilitando à goleira do Vietnã fazer a defesaça e salvar o time mais uma vez.

Defesa de Kim Thanh Tran em pênalti mal batido por Alex Morgan [Imagem: Reprodução/Youtube/CazéTV]

Aos 45+4’, a goleira do Vietnã apareceu mais uma vez, agora para evitar o 2 a 0 em um cruzamento desviado, de Smith, que ia em direção ao gol, espalmando para escanteio.

Apesar da grande partida da muralha vietnamita Tran, o segundo gol americano ocorreu justamente após um “frango” dela, aos 45+7’. Após sair bem na bola aérea, dando um soco para tirar ela do meio da área em um lançamento, a bola sobrou para Smith, que chutou mascado e fraco. A goleira, porém, aceitou o chute, que passou por debaixo de suas pernas. Mesmo com algumas jogadoras na sua frente, atrapalhando o seu campo de visão, o lance foi uma falha cruel da melhor jogadora vietnamita no jogo. A jogada foi para a checagem do VAR, por um possível impedimento de Alex Morgan na dividida com a goleira, mas foi validado após análise, já que a defensora Thu Thuong Luong dava condição à jogada.

Antes de ir para o segundo tempo, o jogo ainda teve mais uma boa defesa da goleira, que aos 45+11’ saiu no pé de Morgan para ficar com a bola no último lance do primeiro tempo.

Segundo tempo: manutenção da vitória

Logo no primeiro lance, com 10 segundos Ertz lançou a bola para frente e, com um toque de cabeça de Morgan, Smith dominou na cara do gol, mas chutou para fora. Os Estados Unidos continuaram pressionando, com um belo cabeceio de Ertz, que passou perto do gol, após cobrança de falta, aos 48’, e com um quase golaço de Horan, em um chute de primeira após um cruzamento de Rodman, aos 50’, e que passou ao lado do gol.

Depois disso, os Estados Unidos continuaram arriscando muitas bolas aéreas, mas mesmo com sua baixa estatura, Kim Thanh Tran saiu muito bem nelas, tirando de soco.

Aos 63’, a experiente e lendária Rapinoe entrou no jogo no lugar de Morgan. E ela participou de uma jogada perigosa logo depois, aos 66’, já que, após cruzamento de Rodman e interceptação de soco da goleira vietnamita, Rapinoe tentou encobrir Tran, mas pegou mal na bola. Apesar do erro, a bola sobrou na área e quase serviu como uma assistência, já que Fox dominou a bola, cortou a marcação, mas errou o chute, que foi por cima do gol. Aos 71’, mais uma chance para Rapinoe apareceu, em passe de Lavelle perfeito para a atacante empurrar a bola para o gol sem goleira, mas ela isolou e desperdiçou o ataque.

O Vietnã tentou ir um pouco mais para o ataque nesse segundo tempo, com alguns lançamentos e contra-ataques, mas que quase nunca davam certo. Aos 74’, Naeher, goleira americana, fez seu primeiro toque na bola em uma dessas tentativas, após um cruzamento para ninguém que foi direto em suas mãos. No minuto seguinte, a capitã e grande nome da seleção vietnamita Huynh saiu para dar lugar a outro nome histórico do Vietnã, Hai Yen Pham.

Aos 77’, saiu o terceiro e último gol estadunidense. Em um lançamento de Ertz, Smith aproveitou a falha de Kieu Chuong, que não interceptou e deixou a bola passar, e fez o passe para trás, na entrada da área, para a capitã Horan chutar sem goleira e fazer o 3 a 0.

Em mais uma boa chance criada, aos 85’, Smith passou para Lavelle, que fez um ótimo chute para uma ainda melhor defesa de Tran. A goleira desviou a bola, que foi para o travessão e pingou quase em cima da linha do gol.

O jogo ainda teve boas chances, como um toque de cabeça de Lavelle aos 90+6’, e mais um cruzamento vietnamita defendido por Naeher, na segunda chance de ataque do Vietnã em todo o jogo, aos 90+8’, mas o placar continuou em 3 a 0 até o final.

Comentários

Apesar da boa vitória estadunidense, que acabou o jogo com 66% de posse de bola e 28 finalizações, faltou objetividade e efetividade ao time — perceptível ao ver que, dos 28 chutes, apenas sete foram ao gol. Assim, foram excelentes nas criações de jogadas, mas pecaram na finalização.

Do lado do Vietnã, o jogo “equilibrado” — na medida do possível, sem tomar uma goleada —  foi uma grande surpresa a todos e deve-se graças à eficiência defensiva do time, que foi muito conciso e preciso na marcação em grande parte do jogo.

Destaques

Apesar da falha no segundo gol, o grande destaque do time do Vietnã foi a goleira Kim Thanh Tran. Ela fez grandes defesas durante o jogo, o que causou um sentimento de segurança no time, que apostava na tática defensiva. A goleira ainda defendeu um pênalti, batido por Alex Morgan. Além disso, foi muito bem nas bolas aéreas — muito usadas pelo time americano —, principalmente considerando a sua baixa estatura, de 1,65 metro.

Outro destaque do time vietnamita foi justamente o seu técnico, Mai Duc Chung, já que apostou em uma tática defensiva e recuada, o que dificultou muito o jogo dos Estados Unidos e surpreendeu todo mundo com a sua organização na defesa. Com o avanço das laterais norte-americanas, o Vietnã deixava as duas zagueiras armarem o jogo. A partir da segunda linha dos EUA, a pressão era intensa.

Do lado dos Estados Unidos, os grandes destaques foram as duas jovens pontas do time: Sophia Smith — eleita a jogadora da partida — e Trinity Rodman (filha do lendário atleta de basquete Dennis Rodman). Nas laterais do campo, as duas foram as responsáveis por criar diversas jogadas, fazendo cruzamentos e passes decisivos na entrada da área. Smith, além de sua assistência — justamente em um passe preciso para a entrada da área —, foi responsável por dois gols da partida. Pode-se dizer que ambas aproveitaram muito a chance na seleção, já que começaram a entrar no time titular há pouco tempo.

Sophia Smith ganhando o prêmio de Player of the Match [Imagem: Reprodução/Instagram/@fifawomensworldcup]

Além das duas, a capitã Lindsey Horan participou intensamente de todo o jogo. Fez um gol, e distribuiu diversos passes, com mais de 70% de aproveitamento em todos eles. Junto com Horan, a zagueira Julie Ertz foi destaque nas bolas aéreas, seja em escanteios ou em cruzamentos na área. Além disso, Ertz foi fundamental na distribuição do jogo, já que, junto com Naomi Girma, as zagueiras ficaram com a responsabilidade de armar o time. Apesar de não terem feito nenhum passe decisivo, serviram muito para dar mobilidade ao time, que pôde flutuar em campo e mudar diversas vezes de esquema tático no meio e no ataque.

Futuro do grupo

Com a vitória, os Estados Unidos alcançaram os três pontos e a liderança virtual do grupo, já que Holanda e Portugal jogam só no dia 23, às 4h30, horário de Brasília. O próximo jogo da seleção estadunidense será contra a Holanda, no dia 26, às 22h, e deve definir a primeira colocação do grupo. 

O Vietnã enfrenta Portugal, também estreante na competição, no dia 27, às 4h30, e deve tentar uma vitória para continuar viva na competição e com chances de passar nesse difícil grupo E.

*Imagem de capa: Reprodução/Instagram/@fifawomensworldcup

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