Este filme faz parte da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
De 1954 a 1989, o Paraguai sofreu a mais longa ditadura militar da América Latina. Assim como seus vizinhos, é imprescindível que sempre existam meios para que todos conheçam a sua própria história e que principalmente, não se repitam. Os documentários têm uma importância significativa nesse processo e como o nome já diz, Exercícios da Memória (Ejercicios de Memoria, 2016) se insere com qualidade nesse contexto.
Dirigido por Paz Encina, o longa traz como protagonista Agustín Goiburú, o maior adversário político do regime de Alfredo Stroessner, que desapareceu em 1976, em Paraná, cidade argentina onde foi exilado. Porém, em vez de focar em Goiburú e seus companheiros, o documentário se baseia nos depoimentos dos três filhos de Agustín, e em como foi a infância anormal e complicada dos irmãos. Ao colocar o foco em crianças, Paz Encina traz uma nova visão sobre a ditadura do Paraguai.
Seja por falta de opção ou escolha estética, apenas os áudios desses depoimentos foram utilizados. Para ilustrar, foram escolhidos atores mirins que encenaram em meio a florestas e rios. Essas cenas são de uma beleza incrível e uma fotografia bem trabalhada.
Outro recurso usado pela diretora foi de imagens reais dos documentos históricos que são acompanhados de áudios também reais da época. Já as fotos pessoais da família Goiburú são apresentadas com uma trilha sonora melancólica, o que ressalta a tragédia que iria acontecer para aquelas pessoas que nas imagens são pessoas normais aproveitando de bons momentos.
Com 70 minutos de momentos que intercalam reflexão e angústia, Exercícios da Memória deve ter seu título levado ao pé da letra e, consequentemente, nunca ser esquecido.
por Mel Pinheiro
mel.pinheiro.silva@gmail.com