Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

As estradas de Walter Salles

por Ana Luísa Fernandes ana08m@gmail.com Walter Salles é um dos cineastas brasileiros mais premiados e reconhecidos dentro e fora do Brasil. Seus filmes são os que mais aproximam nosso país do cinema internacional, mesmo que eles estejam bem longe de pertencer ao padrão de Hollywood. Para entender a importância de Walter Salles é necessária uma …

As estradas de Walter Salles Leia mais »

por Ana Luísa Fernandes
ana08m@gmail.com

Walter Salles é um dos cineastas brasileiros mais premiados e reconhecidos dentro e fora do Brasil. Seus filmes são os que mais aproximam nosso país do cinema internacional, mesmo que eles estejam bem longe de pertencer ao padrão de Hollywood. Para entender a importância de Walter Salles é necessária uma breve contextualização: com a eleição de Collor, em 1990, houve uma quase completa paralisação das políticas de incentivo ao cinema. Órgãos como o Concine (Conselho Nacional de Cinema) e Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes) foram fechados. Durante essa época um dos pouquíssimos filmes brasileiros realizados foi o primeira longa de Salles, A Grande Arte, de 1991. Em 1995, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, é aplicada a Lei do Audiovisual, de incentivo à produção nacional. No mesmo ano lança “Terra Estrangeira”, que consolida o renascimento do cinema contemporâneo brasileiro. Mas foi só com Central do Brasil que o nosso cinema foi lançado internacionalmente e apresentado como maduro, tecnicamente comparável às produções norte-americanas e contestador, capaz de realizar críticas e levar à reflexão. Em 2001 outro sucesso: Abril Despedaçado, filme que lançou Rodrigo Santoro para a carreira interncional, fala sobre uma família no sertão brasileiro que alimenta um sentimento de vingança por uma família rival. Foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 2001.

Walter Salles

Vida pessoal
Walter Moreira Salles Júnior nasceu no Rio de Janeiro no dia 12 de abril de 1956. Filho do banqueiro e embaixador Walter Moreira Sales, é considerado uma das pessoas mais ricas do Brasil graças a sua herança. Ingressou no curso de economia da PUC Rio, mas nunca chegou a exercer a profissão. Sobre isso, ele afirma: “Estudar aquilo [economia] era tão chato que a gente se enfurnava no cinema e via todo Bergman, todo Fellini, todo Antonioni. Minha formação é toda de cinefilia. Eu era e sou totalmente encantado com tudo aquilo”. Decidiu então fazer uma licenciatura em comunicação audiovisual pela Universidade do Sul da California. Ele é casado com a artista Maria Klabin e tem um filho de 6 anos, Vicente.
Sua filmografia é extensa e inclui curtas, documentários e longas. Apesar disso, seus filmes mais reconhecidos são os road-movies (filmes que se desenrolam na estrada). A seguir falamos um pouco mais sobre os filmes de Walter Salles que se enquadram nesse estilo.

Central do Brasil, 1998
O filme de 1998 é um dos mais bem sucedidos do Brasil. A produção franco-brasileira conta a história de Dora (Fernanda Montenegro), uma professora que escreve cartas para analfabetos na estação de trem Central do Brasil no Rio de Janeiro. Uma mulher, Ana (Sôia Lira) aparece pedindo uma carta para mandar para o marido, falando sobre o filho Josué (Vinícius de Oliveira) e o desejo que o menino tinha de ir visitar o pai um dia. Ao sair Ana é atropelada e morre. O menino Josué desperta pena em Dora, que decide levá-lo para encontrar o pai no sertão nordestino.
Entre vários prêmios, o filme venceu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e foi indicado ao Oscar na mesma categoria, mas acabou perdendo para o italiano A Vida É Bela (La vita è bella, 1997). Mas o que mais surpreendeu foi a atriz Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de melhor atriz pela sua interpretação de Dora. A surpresa não foi a indicação, mas sim a perda do prêmio para a nem tão boa atuação de Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love,1998). Entre as várias injustiças dos Prêmios da Academia, essas talvez tenham sido as mais dolorosas para os brasileiros.
As indicações ao Oscar aumentaram a pressão sobre Walter Salles. Mas ele afirma que não dirige um filme pensando em suas possíveis premiações porque isso é um processo muito complexo que pode levar a um filme inacabado. Também não acredita que o Oscar seja um selo de qualidade garantida: “(…) acho que chegou a hora de se entender que Oscar não deve ser um parâmetro para uma cinematografia que não seja a da indústria norte-americana”.

centraldobrasil

Diários de Motocicleta (The Motorcycle Diaries, 2004)
O filme de 2004 é baseado nos diários que o revolucionário Che Guevara, interpretado no filme por Gael García Bernal, escreveu sobre uma viagem que fez pela América Latina junto com o amigo Alberto Granado (Rodrigo de La Serna) em 1952. Um jovem Ernesto Guevara, quase formado em medicina, decide conhecer, de moto e na companhia do amigo, o que antes só havia visto em livros. Mas o que eles observam desperta questionamentos, principalmente sobre a desigualdade e a miséria. Walter Salles disse que gostaria que o filme gerasse um debate em volta da questão da identidade latino-americana: “Será que isso existe? O sonho bolivariano faz sentido hoje?”. Ganhou um Oscar em 2005 pela canção Al otro lado del río e foi indicado como melhor roteiro adaptado. Também foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira.
Fo muito bem recepcionado pela crítica, apesar de algumas acusações de “acrítico” ou
“despolitizado”. A verdade é que o filme é um retrato de dois jovens curiosos que decidem sair da sua zona de conforto para conhecer a América Latina. Talvez a maior jornada aqui seja interior.

diariosmoto

On the Road (Na Estrada, 2012)
O longa é um retrato da geração beat, movimento cultural dos anos 40 até os 50 que era composto por jovens intelectuais interessados em drogas, jazz, orgias e, muitas vezes, em uma vida nômade. É inspirado no livro homônimo de Jack Kerouac que conta a história do próprio autor e de seu amigo Neal Cassady em uma viagem cruzando os Estados Unidos. Para a realização do filme, Salles percorreu mais de 100.000 kilômetros procurando os lugares e pessoas citadas no livro o que resultou no documentário “Em busca de On the Road”. O produtor executivo do filme foi ninguém menos que Francis Ford Coppola que havia comprado os direitos de filmagem em 1979. Foram várias as tentativas de dar vida ao projeto, todas em vão. Ao assistir Diários de Motocicleta, Coppola contratou Salles para dirigir o filme que encenaria o nascimento da contacultura.
Sal Paradise (Sam Riley), alter ego de Kerouac, é um jovem escritor no início de seus 20 anos que, após a morte do pai, conhece o jovem infrator Dean Moriarty (Garrett Hedlund), representação de Cassady. Moriarty é casado com uma jovem de 16 anos, Marylou (Kristen Stewart). Os dos vivem uma vida desregrada, com muito sexo, álcool e entorpecentes de todos os tipos. Posteriormente novos personagens são adicionados, como a nova esposa de Dean, Camille (Kirsten Dunst), a camponesa Terry (Alice Braga), com quem Sal tem um breve romance e Jane, uma mulher com problemas mentais interpretada por Amy Adams.
É fácil compreender porquê o filme demorou tanto para se concretizar. O estilo compulsório da escrita da geração beat, desenfreada, sem pontuação é muito bem traduzido no filme. Vários personagens, várias histórias, vários lugares. Tudo sem parar, sem descanso. Mas podemos dizer que a história chegou na hora certa: se o filme tivesse sido rodado um pouco antes tão teria incluído no seu roteiro a versão original de On The Road, já que a de 1957 sofreu diversos cortes e foi censurada pela era McCarthy.

ontheroad

O último trabalho de Walter Salles foi um documentário lançado em 2014, “Jia Zhangke, um Homem de Fenyang”, que fala sobre o cineasta chinês Jia Zhangke, considerado um dos maiores nomes do cinema asiático.
Ele cita como suas maiores influências Michelangelo Antonioni, Robert Bresson, Wim Wenders e o Cinema Novo do Brasil. Para ele o cinema é um modo de dar nome ao desconhecido, um instrumento para entender o mundo e o que interessa é investigar os homens e suas relações, algo que fica bem claro em seus filmes, principalmente nos road-movies. A estrada deixa de ser apenas um caminho: ela é a história em si e é nela que os personagens se revelam e se descobrem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima