Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Bielsa: o treinador que ninguém jamais será

No mundo do futebol, os títulos são a maneira mais eficaz de eternizar os grandes nomes do esporte. O jogador que fez o gol decisivo, o treinador que fez a alteração decisiva, o goleiro que defendeu o chute que mudaria o resultado do campeonato… Quem realiza essas façanhas se torna um ídolo eterno. Alguns nomes, …

Bielsa: o treinador que ninguém jamais será Leia mais »

No mundo do futebol, os títulos são a maneira mais eficaz de eternizar os grandes nomes do esporte. O jogador que fez o gol decisivo, o treinador que fez a alteração decisiva, o goleiro que defendeu o chute que mudaria o resultado do campeonato… Quem realiza essas façanhas se torna um ídolo eterno.

Alguns nomes, porém, mesmo sem empilhar troféus a cada temporada, nunca são esquecidos pelos fãs do esporte. Uma pessoa que se encaixa nesse perfil e representa muito para o futebol é o argentino Marcelo Bielsa. A busca por compreender a sua singularidade motivou o Arquibancada a analisar sua carreira.

 

A imortalização em Rosário

Marcelo Bielsa possui forte ligação com a cidade de Rosário, na Argentina. O local foi cenário dos grandes inícios de sua vida. Além de ser a cidade em que nasceu, foi lá que ele começou sua curta carreira de quatro anos como jogador, em que defendeu Newell’s Old Boys, Instituto Córdoba e Argentino de Rosário. 

Mas é na área técnica que Bielsa viveu seus grandes momentos no futebol. O ex-jogador começou a trabalhar nas divisões de base do Newell’s em 1982. No futebol júnior, percorreu mais de 25 mil quilômetros em busca de grandes talentos, encontrando ao longo de todo o país craques como Batistuta, Pochettino e Berizzo. Os bons resultados levaram a diretoria do clube a apostar em Bielsa como o treinador da equipe profissional em 1990.

El loco – alcunha pela qual ficou conhecido rapidamente justificou a escolha. O Newell’s venceu a primeira competição que disputou, o Apertura de 1990 (o primeiro turno do Campeonato Argentino). Com onze vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, o clube de Rosário garantiu vaga na final do campeonato nacional – fase que seria disputada com o Boca Juniors, vencedor do Clausura de 1991 (segundo turno do torneio em questão).

A final do Campeonato Argentino 1990-91 teve sua primeira partida em Rosário. Berizzo marcou o gol solitário que deu a vitória para o Newell’s. O segundo confronto, três dias depois, foi marcado pela falta de oportunidades de gol – mesmo assim, o Boca marcou com Reinoso. A decisão foi para a prorrogação e depois para os pênaltis. Nessa disputa, o goleiro Scoponi defendeu duas cobranças e deu o título nacional para a equipe de Rosário.

O treinador celebra o primeiro título de sua carreira.
Bielsa celebra o primeiro título de sua carreira. [Imagem: Futebol Portenho]
A vitória na final do Campeonato Argentino, no entanto, foi um momento isolado em 1991. Já garantido na final por conta do título do Torneio Apertura de 1990, a equipe não fez um bom Clausura no ano, ficando somente na oitava posição. E no segundo semestre de 1991, o resultado no Apertura foi decepcionante. O Newell’s teve péssimo aproveitamento no primeiro turno e ocupou a 18ª posição.

Mas em 1992, o Newell’s viveu o grande ano de sua história. Além da conquista do Clausura, que veio com onze vitórias, sete empates e apenas uma derrota, o time igualou a campanha de 1988 e chegou à final da Libertadores.

A trajetória internacional do Newell’s, apesar de gloriosa, começou com um vexame. A equipe estreou em uma derrota por 6 a 0 diante do San Lorenzo. Após a partida, houve cobrança por parte da torcida na casa do próprio Bielsa, e conta-se que ele recebeu os fanáticos segurando uma granada na mão, ameaçando soltar o pino caso não o deixassem em paz – uma das histórias que justifica o apelido el loco.

Bielsa demonstrou que, apesar dos resultados negativos em 1991, a diretoria do Newell’s acertou em mantê-lo no comando. Além da campanha no Clausura, o clube se recuperou na Libertadores, sem sofrer mais derrotas até a final da competição. Classificada na primeira colocação de seu grupo, a equipe de Rosário bateu o Defensor Sporting-URU nas oitavas de final, com uma vitória por 1 a 0 e um empate.

Nas quartas de final, a revanche. O adversário seria o San Lorenzo, algoz do inesquecível 6 a 0 na fase de grupos. E o Newell’s respondeu à altura. Com três gols nos 20 minutos finais, a equipe de Rosário bateu os conterrâneos por 4 a 0 e, após empate na casa do rival, se classificou para a semifinal.

O confronto pela vaga na final, diante do América de Cali, exigiu muito da equipe comandada por Bielsa. Após dois empates por 1 a 1, o duelo foi equilibrado até nos pênaltis. Foram necessárias 26 cobranças para sacramentar o Newell’s como finalista da Libertadores. O adversário seria o São Paulo de Telê Santana.

Ao contrário do que poderia se imaginar antes do confronto, os ataques não foram dominantes na decisão. Os esquemas táticos anularam o ímpeto ofensivo dos rivais, e cada um dos jogos terminou em 1 a 0 para a equipe mandante, em gols de pênalti marcados por Berizzo e Raí. O histórico de vitórias em decisões por pênaltis não apareceu, e o Newell’s, após desperdiçar três cobranças, foi derrotado.

O vice-campeonato da Libertadores de 1992, apesar de ser uma decepção pela proximidade de uma conquista tão grande, é tratado como o grande capítulo da história do Newell’s. Nunca antes o clube de Rosário havia sido tão vitorioso em cenário nacional como na Era Bielsa, e jamais foi capaz de igualar tal feito depois.

O seu legado, no entanto, vai muito além de resultados. O Newell’s de Bielsa foi uma síntese de tudo o que ele pensa sobre futebol em pleno funcionamento: marcação sob alta pressão, superioridade numérica em todos os setores do campo, bom toque de bola, ímpeto ofensivo e a invenção do esquema 3-3-1-3, em 1992.

 

El loco busca novos ares

Após se eternizar a nível nacional e quase chegar à glória continental com o Newell’s, Marcelo Bielsa foi trabalhar no futebol mexicano. Contratado pelo Atlas, el loco passou a temporada 1992-93 se dedicando à potencialização do trabalho de base do clube, encontrando talentos como Rafa Márquez e Jared Borgetti.

Em 1993-94, passou a exercer a direção técnica do clube. Após a quinta colocação no campeonato nacional ao fim da temporada, Bielsa se transferiu ao América em 1995. Mas sua adaptação ao futebol mexicano não foi das melhores – depois de 32 partidas, ele retornou ao cargo diretivo no Atlas. E, depois de pouco tempo, decidiu voltar ao seu país-natal.

O ano de 1997 marcou o retorno de el loco à Argentina. Contratado pelo Vélez Sarsfield, Bielsa tinha como missão dar continuidade ao trabalho estabelecido por Carlos Bianchi entre 1993 e 1996 e mantido por Osvaldo Piazza até 1997. Nesse período, o clube de Buenos Aires havia conquistado um Apertura, dois Clausuras, uma Libertadores, um Mundial, uma Recopa e uma Supercopa Sul-americana.

Bielsa manteve o ritmo vencedor alcançado por Vélez. Em uma curta passagem pelo time, el loco marcou seu nome na história do fortín, conquistando o Clausura de 1998 em campanha irretocável. Com 14 vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, o time foi campeão com seis pontos de vantagem diante do Lanús.

O treinador Bielsa e seus comandados nos tempos de Vélez
Bielsa e seus comandados nos tempos de Vélez [Imagem: Futebol Portenho]
Nesse título nacional, Bielsa rompeu com determinadas ideias estabelecidas no clube. O 4-4-2 implantado por Bianchi deu lugar ao 3-3-1-3 clássico de el loco. E o futebol de resultados foi substituído por pressão constante ao adversário, superioridade numérica em todos os setores do campo e ofensividade. Sobre esse trabalho, o jornalista e apresentador de podcasts esportivos Leandro Iamin conta que é o seu preferido na carreira do treinador. “Ainda era a melhor versão de Bielsa, com ideias frescas”. 

Mas as ideias de Bielsa não geraram uma grande revolução na maneira de jogar do Vélez. O treinador entrou em conflito com nomes importantes do elenco, como Chilavert, e se transferiu para o Espanyol depois de apenas 42 partidas. A passagem pela Espanha foi ainda mais efêmera – durou apenas 12 jogos e chegou ao fim quando o treinador aceitou o que seria o maior desafio de sua carreira: comandar a Seleção Argentina.

 

A decepção eterna

Marcelo Bielsa teve, em 1998, a chance de atingir o auge na carreira de qualquer treinador de futebol sul-americano: comandar a seleção de seu país. Após a recusa de Carlos Bianchi, el loco foi convidado e aceitou a proposta, abandonando o trabalho recém iniciado no Espanyol.

A Seleção Argentina disputou sua primeira partida sob o comando de Bielsa apenas em 1999, uma vitória por 2 a 0 em amistoso contra a Venezuela. Mais cinco partidas amigáveis foram disputadas até 30 de junho, data que marcou a primeira partida oficial de el loco com a seleção.

A estreia foi boa, uma vitória por 3 a 1 diante do Equador na fase de grupos da Copa América. Na partida seguinte, revés por 3 a 0 contra a Colômbia em jogo que o argentino Martín Palermo perdeu três pênaltis. A albiceleste se recuperou no último duelo e garantiu a classificação com triunfo por 2 a 0 sobre o Uruguai.

Nas quartas de final, o adversário seria o Brasil. A seleção canarinho – favorita por conta de seus títulos recentes e das três vitórias na competição – saiu atrás da Argentina, que marcou com Sorín. Mas Rivaldo e Ronaldo viraram para os brasileiros, e a albiceleste foi eliminada pelo futuro campeão da Copa América.

Após a derrota continental, a Argentina realizou mais cinco amistosos antes das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002, vencendo três e perdendo um, novamente para o Brasil. Mas na competição oficial, a Argentina engrenou. Com um futebol ofensivo alinhado aos conceitos de Bielsa, a albiceleste conquistou cinco vitórias nos cinco primeiros jogos, marcando 14 gols e sofrendo apenas dois.

O primeiro e único revés na campanha para a Copa do Mundo ocorreu contra o grande carrasco de Bielsa, a Seleção Brasileira. A seleção canarinho contou com grandes atuações de Alex e Vampeta para bater a albiceleste por 3 a 1.

Nas 12 partidas restantes, a Argentina manteve a regularidade das cinco primeiras e não foi mais derrotada. Com oito vitórias e quatro empates, a albiceleste chegou com sobra à Copa do Mundo. Vale ressaltar que a seleção de Bielsa perdeu a grande chance de conquistar um título ao se recusar a participar da Copa América de 2001, alegando que a Colômbia era um país inseguro.

Os 43 pontos (melhor campanha da história das Eliminatórias Sul-Americanas desde que ela passou a ser disputada em pontos corridos, em 1996), a liderança de ponta a ponta do torneio, o bom futebol apresentado e o alto número de craques colocavam a Argentina como grande favorita ao título da Copa do Mundo de 2002.

Mas o que aconteceu no torneio mundial é difícil de explicar. A Argentina caiu no “grupo da morte” contra Inglaterra, Nigéria e Suécia. E o futebol encantador implantado por Bielsa não apareceu. A albiceleste até venceu o confronto diante da seleção africana com gol de Batistuta. Mas a derrota por 1 a 0 para o English Team e o empate em 1 a 1 contra a Suécia eliminaram a equipe de Bielsa.

Os questionamentos ao trabalho de el loco, antes abafados pelos bons resultados, vieram à tona. A falta de chances dadas a Riquelme, esquecido por Bielsa desde a Copa América de 1999, foi contestada. A ausência de Palermo para dar lugar a Batistuta, que não marcava gols desde janeiro de 2002, foi apontada. E os conceitos de futebol de Bielsa foram criticados.

Sobre a campanha na Copa do Mundo, Leandro Iamin afirma: “Bielsa tomou uma decisão desastrosa na escolha do segundo time, os reservas, para aquela Copa. E não é abonador a ele a percepção de que suas decisões passam por questões pessoais demais”. Apesar disso, Iamin não nega a grandiosidade da equipe: “Em um espaço de 6 anos, o trabalho é, para mim, bom. Não houve outra Seleção Argentina como aquela depois. A Argentina de 2002 é, em certa medida, uma síntese de sua personalidade e mente”.

Uma decepção difícil de explicar: Argentina fora da Copa do Mundo de 2002
Uma decepção difícil de explicar: Argentina fora da Copa do Mundo de 2002 [Imagem: Trivela]
Apesar de tantas críticas, Bielsa foi mantido no cargo. Mesmo com um clima de decepção nacional (intensificado pelas consequências da maior crise econômica e política da história do país, em 2001), a Argentina, aos poucos, foi se reconstruindo.

O pós-Copa de 2002 foi marcado por muitos testes nos amistosos e mudanças em um ritmo menor nos jogos oficiais, mas constantes. Bielsa cedeu em alguns pontos, como a saída de Batistuta da seleção, mas negou a Palermo o lugar de centroavante, preferindo Tévez. E também manteve a postura de não contar com Riquelme, convocando-o para apenas quatro jogos

Nesse processo de renovação, a Argentina não manteve o mesmo ritmo das últimas Eliminatórias, mas ainda assim estava perto do topo. Com três vitórias, três empates e uma derrota (novamente para o Brasil), a albiceleste estava em segundo lugar, atrás somente da seleção canarinho.

Assim chegou a Argentina para a Copa América de 2004, com uma seleção mais jovem do que a de 2002. Coloccini, Mascherano, Lucho González, D’Alessandro e Tévez, jogadores com no máximo 23 anos, eram titulares daquela equipe.

Na fase de grupos, apesar de goleadas por 6 a 1 e 4 a 2, diante de Equador e Uruguai, a Argentina se classificou em segundo lugar ao perder para o México por 1 a 0. Nas quartas de final, triunfo por 1 a 0 diante do Peru. E na semifinal, vitória por 3 a 0 sobre a Colômbia, levando a Argentina à primeira final desde 1993.

O adversário seria o Brasil, responsável por quatro das nove derrotas de Bielsa na Argentina. Dessa vez, os rivais estavam com o time B, sem Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Cafu, Lúcio… Era a chance dos argentinos, que saíram na frente com Kily González. Mas deixaram o zagueiro Luizão empatar, aos 46 do primeiro tempo.

O drama se repetiria também na segunda fase da partida. Delgado fez o que parecia ser o gol da vitória albiceleste aos 42 do segundo tempo. E eles deixaram o empate acontecer de novo, dessa vez com Adriano. A partida foi para os pênaltis e D’Alessandro teve sua cobrança defendida por Júlio César logo no início. Heinze errou a segunda e o Brasil, que converteu todas, se sagrou campeão.

Bielsa permaneceu por mais um mês no comando da Seleção Argentina, período em que ganhou seu último título, a medalha de ouro nos jogos Olímpicos de Atenas. Os comandados de el loco, em sua ampla maioria integrantes da seleção principal na Copa América, alcançaram uma conquista incontestável. Mas Bielsa nunca foi dependente de troféus e decidiu que iria abandonar o cargo.

 

Além da Argentina

Desde que optou por sair da Seleção Argentina, em 2004, Bielsa não trabalhou mais no seu país natal. Durante quase três anos, ele experimentou um período sabático.

A oferta que o convenceu a retornar à atividade veio da Seleção Chilena. Ele teria um grande desafio pela frente, já que la roja passou vergonha na Copa América de 2007 com a derrota por 6 a 1 sofrida diante do Brasil. Apesar do retrospecto recente desanimador, o Chile de Bielsa se classificou para a Copa do Mundo.

A campanha no torneio classificatório foi segura, com dez vitórias, três empates e cinco derrotas. O futebol ofensivo apresentado pela equipe chilena rendeu à seleção o segundo lugar na competição, ficando atrás somente do Brasil. Jogadores que ganharam espaço com Bielsa, como Alexis Sánchez, Vidal, Medel, Jara e Isla, seriam a base do Chile bicampeão da Copa América em 2015 e 2016.

Na Copa do Mundo, o Chile foi sorteado no Grupo H, junto com Espanha, Suíça e Honduras. A equipe de Bielsa venceu os dois primeiros jogos pelo placar de 1 a 0, contra suíços e hondurenhos, e perdeu para La Furia por 2 a 1.

Classificado para as oitavas de final, o Chile enfrentaria o carrasco eterno das seleções de Bielsa: o Brasil. E mais uma derrota para a conta, dessa vez por 3 a 0. El loco comandou a Seleção Chilena até janeiro de 2011 e, na metade do mesmo ano, assumiu o comando técnico do Athletic Bilbao.

Com o clube basco, Bielsa não teve uma campanha de grande destaque no Campeonato Espanhol, ocupando o décimo lugar. Mas nas competições de mata-mata, o Athletic demonstrou força e alcançou dois vice-campeonatos.

Na Copa do Rei da Espanha, o Bilbao teve uma campanha segura até a decisão. Nesse caminho, o Athletic teve sete vitórias e um empate. Mas na final, o adversário era de um nível nunca enfrentado antes: o Barcelona de Guardiola em seu último jogo. A equipe catalã teve um primeiro tempo arrasador e fez três gols em 25 minutos, encerrando as chances de título do clube basco.

A grande campanha da temporada aconteceu na Liga Europa. Na fase de grupos da competição, a equipe terminou em primeiro lugar, superando Red Bull Salzburg, Paris Saint-Germain e Slovan Bratislava. Na próxima fase, o confronto diante do Lokomotiv Moscou foi mais difícil que o esperado, e o Athletic passou apenas nos gols fora de casa. 

Classificado para as oitavas de final, o time de Bielsa teve sua grande demonstração de força ao eliminar o Manchester United. O clube basco venceu por 3 a 2 na Inglaterra e triunfou novamente por 2 a 1 em seus domínios.

O Athletic do treinador Bielsa: capaz de bater gigantes
O Athletic de Bielsa: capaz de bater gigantes [Imagem: Ian Hodgson]
Nas quartas de final, vitória por 4 a 2 fora de casa e empate por 2 a 2 contra o Schalke 04. Na semifinal, classificação dramática contra o Sporting, revertendo uma derrota de 2 a 1 para um triunfo por 3 a 1 no jogo decisivo. E na grande final, o Atlético de Madrid, comandado por Diego Simeone e pelo artilheiro Falcao García.

O esquema de Simeone funcionou e anulou o ataque da equipe de Bielsa. E Falcao foi letal como em toda aquela temporada, marcando dois gols. Diego fez mais um e o Bilbao perdeu por 3 a 0, mais um vice para Bielsa.

El loco continuou no Athletic para a temporada 2012-13, mas o desempenho nos mata-matas não apareceu como no ano anterior e a 13ª colocação no Campeonato Espanhol decepcionou, culminando na demissão de Bielsa ao fim da temporada.

O treinador argentino tirou mais um ano sabático e voltou aos gramados para comandar o Olympique de Marseille. Na França, o início de trabalho foi bom. A equipe de Bielsa venceu o Troféu de Inverno, título simbólico pela melhor campanha do primeiro turno. Mas o time caiu de rendimento no segundo turno e acabou em quarto lugar, sem sequer se classificar para a Liga dos Campeões.

No ano de 2016, o argentino foi anunciado pela Lazio, mas se demitiu dois dias depois por alegar a ausência dos reforços pedidos. Em 2017, assumiu o Lille, mas sua postura de dispensar ídolos do time e a campanha de 12 pontos em 13 jogos renderam uma demissão precoce. E desde 2018 trabalha no Leeds United, em busca do acesso à primeira divisão inglesa.

 

Uma carreira que jamais será repetida

Bielsa trabalha há 30 anos como técnico de futebol. Nesse período, ele presenciou muitas mudanças no esporte, sejam elas táticas, técnicas ou na maneira de trabalhar. Mas el loco está muito além de alguém que assistiu de forma passiva a essas alterações e se adequou. Ele foi um dos responsáveis por pensar o novo.

A intensidade dentro e fora de campo marcaram a carreira de Bielsa. O treinador sempre se ateve a aspectos do esporte como a superioridade numérica em todos os setores, a marcação alta, o comando sobre o adversário e o 3-3-1-3. E, em sua tomada de decisões, é ainda mais intenso.

Seguro de suas convicções, Bielsa nunca foi de voltar atrás. Ele não possui qualquer receio em ser incisivo nas suas cobranças, sejam elas a dirigentes, atletas ou a qualquer um que deseje interferir em seus planos. El loco pode acertar ou errar, ganhar ou perder. Mas o resultado precisa ser sob o comando total de Bielsa.

Com apenas três títulos profissionais no currículo – todos no futebol Argentino – há quem negue sua importância para o esporte. Para Leandro Iamin, deve-se levar em conta o tamanho dos projetos que comandou. “(…) ele treinou o Bilbao, não o Barcelona; o Marseille, e não o PSG; o Leeds, e não o Manchester; o Newell’s, e não o Boca”.

O treinador argentino sempre foi fiel à sua personalidade e ao seu jeito de compreender o futebol. E isso é algo que, ao mesmo tempo em que atrapalhou sua carreira, tornou a figura de Bielsa única. Além de tão singular, ele possui legado no esporte até hoje, por ter introduzido ideias tão difundidas nos dias atuais, por inspirar importantes treinadores como Mauricio Pochettino, e por montar equipes que estão eternizadas na história do futebol.

Bielsa sempre se destacou por ser o elemento fora da normalidade. Inovador no esquema tático e explosivo na personalidade, nada que o envolve passa despercebido. Cada trabalho dele possui um traço biográfico. 

Como afirma Leandro Iamin, “Bielsa sempre foi coerente com a sua biografia, mais do que apegado e submisso a cargos e empegos. Tudo o que desenvolveu na pesquisa de jovens valores e construções táticas passa por sua própria trajetória de encantamento com o jogo. Se isso o torna gênio ou louco, cabe a cada um decidir.

2 comentários em “Bielsa: o treinador que ninguém jamais será”

  1. Pingback: Athletic Bilbao e o País Basco: um povo em campo - Jornalismo Júnior

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima