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Com o seu violão, Mateus Aleluia apresenta a São Paulo as raízes da África

Foto: Pedro Teixeira / Jornalismo Júnior O show começou quando Mateus Aleluia subiu ao palco do Sesc 24 de maio, com calmos e cuidadosos passos, abraçado com seus dois instrumentistas da noite, Filipe Massumi (Violoncelo) e Hermógenes Araújo (Bateria e Percussão), todos com roupas largas, indício do clima descontraído e sereno proposto pela apresentação. O …

Com o seu violão, Mateus Aleluia apresenta a São Paulo as raízes da África Leia mais »

Foto: Pedro Teixeira / Jornalismo Júnior

O show começou quando Mateus Aleluia subiu ao palco do Sesc 24 de maio, com calmos e cuidadosos passos, abraçado com seus dois instrumentistas da noite, Filipe Massumi (Violoncelo) e Hermógenes Araújo (Bateria e Percussão), todos com roupas largas, indício do clima descontraído e sereno proposto pela apresentação. O veterano da música baiana tocou composições marcantes de toda a sua vasta carreira, iniciada nos anos 60 com a banda Os Tincoãs, e ainda muito produtiva, a exemplo do excelente álbum, “Fogueira Doce”, feito de maneira independente em 2018.

É impressionante como fazem um som muito cheio, apenas com três pessoas. (Foto: Pedro Teixeira / Jornalismo Júnior)

A recente produção, uma das melhores de 2018, e lamentavelmente esquecida no Prêmio da Música Brasileira, ditou o tom do show, sendo que o experiente violonista optou por deixar a badalada música homônima para o bis. O violão protagonista, junto às vozes dos três musicistas, era acompanhado de uma gostosa ambientação que surgia do tocar não ortodoxo do violoncelo, tal como da percussão. Enquanto isso, as luzes matizavam em tons suaves, contrastantes com as nuances de sombra que o teatro conferia ao espetáculo, garantindo visões quase etéreas. A sutileza do som fez até o próprio público não saber se deveria aplaudir ou não após as músicas, até quando Mateus Aleluia soltou em entonação jovial “podem aplaudir, se quiserem, é claro”.

A sequência de músicas, começou nas canções mais calmas e contemplativas, como Eu Vi Obatalá. Nas composições originais o músico consagrado é acompanhado de duas vozes, uma feminina mais aguda, a outra masculina em um tom bem grave. No Sesc 24 de maio, entretanto, por contar com uma banda mais diminuta, Hermógenes assumia o vocal mais alto, e Filipe os baixos. Do profundo dos peitos de Mateus vinha o som mais impactante, de qualquer maneira; a voz encorpada, sempre com um quê de massiva, ancestral, atravessava o público que nada podia fazer além de admirar.

Os temas das letras, ao invocar tradições e orixás africanos, fortaleciam esse tom de respeito transmitido pelas músicas do tarimbado tocador. Os versos de Bahia Bate o TamborOs nosso pés, se revigoram quando pisam neste chão/ Canto a magia, danço/ A Bahia prosada e versada no dendê/ Bahia, eu sou África do lado de cá/ Canto harmonia, fé, alegria/ Senhor do Bom Fim e Obabaochala” demonstram esse respeito de Mateus às suas raízes. O humor, contudo, não é solene, apesar da toada sossegada, as músicas são dançantes em geral, e as harmonias gostosas prendem o espectador.

Hermógenes ao lidar com uma vasta gama de instrumentos confere um quê de místico ao Show. (Foto: Pedro Teixeira / Jornalismo Júnior)

Acontece, então, a primeira quebra de expectativa quando Hermógenes assume o xilofone e junto a Filipe começam uma homenagem a Dorival Caymmi. O violoncelo brinca de baixo elétrico, quando beliscado em pizzicatos (Técnica, na qual se pinça as cordas com os dedos, em lugar do uso do arco), devido à amplificação do instrumento, e, logo em seguida tem ares de cuíca quando arqueado em suas notas mais agudas. O percussionista exibe toda sua sensibilidade e destreza quando assume a marimba (tipo de xilofone lá tocado), com quatro baquetas nas mãos, dando ares de verossimilhança à música do celebrado compositor baiano; revivido, quando ao fim da apresentação instrumental, Mateus puxou a Suíte do Pescador, mostrando que a música da Bahia é algo que transcende entre os que de lá são naturais.

“Vamos celebrar, o amor há de renascer das cinzas/ Vamos festejar o cinza com amor” continuou o violonista em Amor Cinza, quase que em referência a si. Em sua figura de patriarca bondoso, sempre a inspirar ternura, uma vez renascido em sua volta ao Brasil, depois de passar anos em Luanda, Angola. Conclui dizendo que seus heróis não estão no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, ou na Ásia, só podem estar na África.

Mateus é extremamente espirituoso, a despeito de sua imagem respeitosa. (Foto: Pedro Teixeira / Jornalismo Júnior)

E, no fim, o momento mais dançante e agitado do show, Mateus encerra a noite cantando “É Luanda e basta” entre os versos de Fogueira Doce. “Quando eu vim pra esse mundo/ Eu mostrei minha cara/ Sem marcar bobeira/ Cantei o meu canto/ E fiquei por cá” acaba o espetáculo se despindo completamente para o público ao resumir sua história em uma bela poesia. Um senhor, sábio ancião, mas com felicidade de criança, a partir do momento em que tem o violão entre as mãos. Ele, simplesmente, quer que deixem a Gira girar.

Por Pedro Teixeira
pedro.st.gyn@gmail.com

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