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O que o recorde do Brasil no Parapan de Lima pode trazer?

O Brasil apresentou um recorde histórico no número de medalhas dos Jogos Parapan-Americanos, que, nesse ano, ocorreram em Lima, no Peru. Das 308 medalhas conquistadas, 124 foram de ouro, 99 de prata e 85 de bronze, o que deixou o país em primeiro lugar, seguido pelos Estados Unidos e pelo México. O número de medalhas …

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O Brasil apresentou um recorde histórico no número de medalhas dos Jogos Parapan-Americanos, que, nesse ano, ocorreram em Lima, no Peru. Das 308 medalhas conquistadas, 124 foram de ouro, 99 de prata e 85 de bronze, o que deixou o país em primeiro lugar, seguido pelos Estados Unidos e pelo México. O número de medalhas foi inédito em toda a história dos jogos. Desde a criação dos Jogos Parapan-Americanos, nenhum país havia conseguido tal feito. 

A diferença do Brasil para o segundo lugar, os Estados Unidos, foi de 123 medalhas, já que os norte-americanos conquistaram 185 medalhas no total, sendo 58 de ouro. Em terceiro lugar no quadro geral está o México, com 158 medalhas, incluindo 55 de ouro.

Josemarcio Souza, jogador de golbol conhecido como Parazinho, acredita que o resultado do Brasil dá um destaque positivo ao movimento paralímpico, o que pode culminar numa maior visibilidade por parte da mídia. “Creio que o Brasil, sendo o melhor medalhista num quadro geral dos paralímpicos, vai despertar, se Deus quiser, futuramente, um maior reconhecimento das modalidades, dos atletas e dos investimentos em coberturas pela mídia.”

Parazinho praticando golbol pela seleção brasileira. [Imagem: CPB]

Cátia Oliveira, jogadora de tênis de mesa, pontua sobre os resultados sociais positivos gerados pelo bom desempenho do Brasil. “Quanto mais medalhas, mais vitórias e mais visibilidade nós temos. Isso ajuda os esportes a crescerem mais no Brasil e as pessoas começam a acompanhar.” 

Além deles, o campeão paralímpico Daniel Dias, pontua a força das modalidades paradesportivas no Brasil. “A imprensa leva esta informação à sociedade, que carece deste conhecimento. O Brasil Paralímpico é muito forte e poucos sabem, é uma pena. Exibindo bons resultados, conquistaremos mais fãs do esporte, e novos ídolos serão criados.”

O que são esportes paralímpicos e como surgiu o Parapan-Americano?

Os esportes paralímpicos, cujo termo se origina da junção das palavras “paraplegia” e “olimpíada”, são modalidades esportivas voltadas a pessoas com deficiência física ou mental, e surgiram na Inglaterra para reabilitar militares machucados durante a Segunda Guerra Mundial. São divididos em seis categorias: atleta com paralisia cerebral, com lesão medular, com amputação, com deficiência visual, com deficiência mental e o Les Autres, referente a atletas que não se incluem nas demais categorias.

O primeiro evento dos Jogos Parapan-Americanos ocorreu no Canadá, em 1967, mas o Brasil só participou a partir de 1969, na Argentina. Apenas em 1999 foi realizada, no México, a primeira edição reconhecida pelo Comitê Paralímpico Internacional. O evento ficou conhecido como I Jogos Parapan-Americanos, e apresentou provas de atletismo, tênis de mesa, natação e basquetebol em cadeira de rodas, com a participação de 1000 pessoas de 19 países. A segunda edição ocorreu na Argentina em 2003, e os números foram mais expressivos: nove modalidades esportivas e 1300 pessoas de 22 países. Já os Jogos de Lima tiveram 17 modalidades, com 1890 atletas de 33 países.

Como esse resultado foi construído?

O resultado positivo dos brasileiros no Parapan de Lima só foi possível graças ao intenso ritmo de treinos e à estrutura favorável aos atletas dentro do território nacional.

Luciane Tonon, doutoranda na área sociocultural de educação física e membra do grupo de estudos olímpico da EEFE-USP (Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo), comenta sobre a amplitude do Centro de Treinamento (CT) Paralímpico Brasileiro. “A construção do CT paralímpico foi um marco histórico. O Brasil tem o maior centro de treinamento da América Latina e isso faz com que, logicamente, os talentos sejam absorvidos.”

A professora também pontua sobre a expansão dos treinamentos para além de São Paulo ao citar a criação de um CT paralímpico na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ainda em processo de construção. Ela finaliza com um destaque para a iniciativa privada, a qual teve importante papel na formação dos atletas. “Agora, a iniciativa privada tem aberto as portas. Cada vez mais, esperamos resultados ainda melhores.”

Fora a grande estrutura do CT, o Brasil também contou com uma vasta equipe de delegação. No total, 512 integrantes compuseram a equipe brasileira no Parapan de Lima, sendo 337 atletas. Foi a maior comissão da história da participação do Brasil nos jogos.

Entre os esportes que mais trouxeram medalhas, alguns se destacam. A natação foi responsável por 127 medalhas, sendo 53 de ouro. Daniel Dias é o grande holofote no esporte. Ele consagrou-se campeão em todas as provas que nadou, totalizando seis ouros. Com esse resultado, alcançou a marca de 33 medalhas de ouro em 33 provas competidas em Parapan-Americanos, a partir do Parapan do Rio em 2007.

Daniel Dias comenta que conheceu o paradesporte ao assistir os pódios de Clodoaldo Silva nas Paralímpiadas de Atenas 2004. Ele percebeu que não tinha perfil físico para basquete ou futebol e tentou a natação, que se tornou uma grande influência em sua vida. “A natação foi e é tudo pra mim. Mudou a minha vida e me ensinou muita coisa. Vivi excelentes momentos por causa dela. Além de um esporte é um bem-estar também.”

Daniel Dias em ação na piscina. [Imagem: Cleber Mendes/MPIX/CPB]

Também sobressaem-se o atletismo e as duas modalidades de futebol: de cinco (para deficientes visuais) e de sete (para atletas com paralisia cerebral), as quais tiveram o Brasil como campeão. O atletismo trouxe 33 medalhas de ouro e consagrou os atletas brasileiros como primeiros no quadro de medalhas da modalidade. 

Petrúcio Ferreira levou três medalhas no atletismo e destaca-se como um dos grandes nomes brasileiros no esporte. No Parapan de Lima, ganhou ouro nas modalidades 100 metros T47, 400 metros T47 e foi prata no Revezamento universal 4×100 metros.

Sobre sua história, ele comenta: “eu cheguei a ver o atletismo pela televisão com 16, mas, por morar aqui no interior da Paraíba, nunca tive a chance de conhecer de perto. E quando me chamaram para participar do atletismo eu vi que era uma grande oportunidade que estava surgindo na minha vida. Agarrei e estou aqui até hoje, graças a Deus, só contando vitórias e muitas alegrias.”

Petrúcio Ferreira durante prova no GP Brasil de Atletismo [Imagem: Reprodução/Twitter]

Além desses, o golbol (ou goalball) consagrou-se medalhista de ouro nas competições masculina e feminina. Segundo Luciane Tonon, o golbol, que não é um esporte adaptado, é o único paralímpico mesmo”. O jogo é praticado por atletas com deficiência visual, que se agrupam em três por equipe. O objetivo deles é lançar a bola com a mão em direção ao gol do adversário. Em cada turno, uma equipe lança a bola e a outra defende o gol. Este vídeo do Brasil nos jogos Paralímpicos de Londres em 2012 é um exemplo de como o esporte é praticado.

Parazinho foi um dos medalhistas de ouro da equipe brasileira de golbol no Parapan de Lima. Ele comentou sobre a longa rotina de treinos durante sua preparação. Passava por sessões de academia e treino do esporte toda segunda, terça, quinta e sexta e tinha uma equipe muito bem preparada. Também afirma que começou como atleta do atletismo e só em 2013 entrou para o golbol.

Cátia Oliveira é outra medalhista no Parapan de Lima. Ela conquistou um bronze no tênis de mesa. Sobre o CT paralímpico, comenta que a estrutura é muito boa. Assim como Parazinho, não iniciou sua vida esportiva no tênis de mesa. Cátia tinha o sonho de ser atleta profissional de futebol e foi convocada para a seleção sub-17. Entretanto, sofreu um acidente automobilístico e não permaneceu mais capacitada fisicamente de jogar futebol. Com isso, migrou para o esporte paralímpico e consagrou-se uma grande atleta no tênis de mesa.

Cátia Oliveira em um dos jogos no Parapan de Lima [Imagem: Douglas Magno/Exemplus/CPB]

Inclusão social

Uma das funções sociais do esporte é promover a inclusão, o que se torna ainda ainda mais evidente nas modalidades paralímpicas, já que proporcionam visibilidade a uma camada da população muitas vezes excluída socialmente. Cátia Oliveira comenta que seu primeiro contato com o tênis de mesa ocorreu em uma feira chamada Reatec, “uma feira de inclusão com todos os tipos de adaptação para todos os tipos de deficiência”. Lá, havia uma quadra de esportes com uma mesa de tênis de mesa, e o que mais lhe chamou a atenção foi: “eu não preciso de uma outra deficiente (para jogar), eu só preciso de uma mesa e de uma pessoa do outro lado.” 

Luciane Tonon comenta que o esporte pode promover a inclusão social assim como qualquer outro meio cultural e artístico. Como o esporte possui várias modalidades, pode abrir muitas portas. “O esporte adaptado não depende de idade, de outros fatores que um esporte convencional olímpico dependeria. Isso é um ponto facilitador para que as pessoas busquem estar ativas de novo, estar na sociedade.”

Ana Lúcia Padrão, pedagoga e educadora física, chama atenção para um detalhe. Para haver inclusão social no esporte, “é preciso haver uma oportunidade em que haja espaço físico, um local adequado, tempo, um período em que haja essa disponibilidade, e um profissional qualificado, para que faça as coisas acontecerem dentro desse cenário.” É importante haver alguém capaz de entender o grupo e suas demandas, considerando os diferentes grupos sociais, “e que seja um profissional de educação física, capacitado e qualificado.”

No caso de esportes paralímpicos, a qualificação precisa ser ainda mais elaborada e refinada. É significativo que “esse profissional compreenda as diferentes necessidades, as limitações das pessoas, quais as expectativas que elas têm, e consiga, a partir disso, fazer um projeto em que a pessoa (atleta) vá superando e se aprimorando ao longo do tempo”. Para Ana Lúcia, esse é o aspecto central: ter um profissional adequado.

Assim, o processo educativo dos profissionais da área é essencial para estabelecer uma trajetória de carreira, a fim de que todos tenham oportunidades de prática esportiva, tanto recreativa quanto na área de desenvolvimento de um atleta de alto nível. “E me parece que o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) tem tido êxito e tem feito esforços nesse sentido, de incentivar a educação e os profissionais, além de disseminar informações.” O CPB é um órgão que possui uma academia paralímpica, programas de educação paralímpica e que tem qualificado os profissionais para trabalharem com atletas portadores de deficiência.

Delegação brasileira no Encerramento do Parapan de Lima [Imagem: Douglas Magno / EXEMPLUS / CPB]

Reconhecimento da mídia

A cobertura dos jogos Paralímpicos e/ou Parapan-Americanos pela mídia é um ponto que gera controvérsias. Historicamente, a importância dada às modalidades olímpicas não é igual às paralímpicas. Parazinho se mostra otimista em relação a isso. “O Brasil conseguiu uns resultados expressivos. Infelizmente, hoje no Brasil a modalidade paralímpica não tem uma boa cobertura. Mas, assim, nesse Parapan teve uma cobertura legal, né.”

Ana Lúcia destaca que o resultado do Brasil “não ficou muito visível para a grande população. Quando falamos de Jogos Paralímpicos, na verdade, estamos falando de atletas de alto nível que conseguiram feitos importantes.” 

Ela pontua que o tratamento dado aos atletas paradesportivos apenas como deficientes ainda é um problema. “Faltou dar visibilidade (por parte da mídia) e tratar os atletas não focando tanto na deficiência e sim como uma pessoa em plenas condições de vida que, dentro desse cenário, está ali treinando, competindo e alcançando resultados.”

Sobre isso, Petrúcio Ferreira afirma: “somos atletas, sim, de alto rendimento. Nos dedicamos todos os dias no nosso treinamento para dar o nosso melhor e chegar em grandes competições preparados, sempre procurando subir no pódio. Por mais que às vezes não consigamos, nós vamos sair conscientes de que demos o nosso melhor.”

A cobertura por parte dos meios de comunicação se apresenta como forma de mostrar as modalidade para a população. Ao finalizar, Ana Lúcia aponta que “os grandes meios de comunicação nem sempre mostram esse trabalho de uma maneira equilibrada como em outras modalidades, como é com os esportes não paralímpicos”.

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