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Ouvidor 63: a ocupação de arte

Conheça, por meio de fotografias, a maior ocupação artística da América Latina. O lugar onde, diariamente, a arte e a vida se encontram e se fundem. Bem-vindos à Ouvidor 63. Por Laura Scofield lauradscofield@usp.br A poucos minutos da estação Sé, a Ouvidor 63 vive, aparentemente tranquila, em um prédio alegre e singular. Quem desce a …

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Conheça, por meio de fotografias, a maior ocupação artística da América Latina. O lugar onde, diariamente, a arte e a vida se encontram e se fundem. Bem-vindos à Ouvidor 63.

Por Laura Scofield
lauradscofield@usp.br

A poucos minutos da estação Sé, a Ouvidor 63 vive, aparentemente tranquila, em um prédio alegre e singular. Quem desce a rua, saindo da grandiosa Faculdade de Direito da USP, se não o faz com a intenção de visitar o local, também não espera encontrá-lo. A Rua do Ouvidor, a olhos desatentos, se mostra extremamente comum. Negociantes conversam e andam pelos estabelecimentos. Donas de casa lavam as calçadas. E, a cada instante, vozes humanas se pronunciam e fazem ecoar o ritmo do dia a dia. Porém, em uma viela que nada parece ter de extraordinário, encontra-se a maior ocupação artística da América Latina, um símbolo de resistência e desafio. Para alguns, o momento exato em que a arte se encontrou e se apaixonou pela vida. E vice-versa.

As cores vibrantes do prédio são sua maior marca externa. Composta por 13 andares, cada um com uma temática própria, e de posse oficial do Governo do Estado de São Paulo, esta construção abriga vários tipos de artista e estilos de arte. São músicos, circenses, pintores, escultores, estilistas, cantores, desenhistas, fotógrafos, entre muitas outras modalidades. E esses, diversos e multiculturais, vêm de todas as partes do Brasil e do mundo. Na Ouvidor, devido a grande presença de moradores latinos, o espanhol é quase uma língua oficial.

Além de produzir por simples e pura expressão, os moradores da ocupação também o fazem com fins comerciais e de manutenção, considerando também o dever profissional de se colocar como artista em um mundo onde esta profissão é desvalorizada e desmerecida. Uma das produções de destaque se relaciona ao vestuário. As peças variam desde roupas até sapatos e acessórios, como pochetes, bolsas, entre muitos outros. No primeiro andar, tanto na entrada oficial quanto em uma existente ao lado da mesma, encontram-se vários dos artigos produzidos, a maioria colocada à venda.

Outro ambiente de exposição de obras, e também considerado por alguns moradores como um dos mais amados e bonitos espaços do prédio, é o Oitavo Andar. Lá, o foco deixa de ser a moradia e passa a ser o estabelecimento de uma galeria, onde as obras são ordenadas por temáticas e colocadas à disposição do olhar e aquisição do público visitante. Sirius, atualmente o único morador do andar, é o responsável tanto pela manutenção do mesmo quanto pela seleção e organização do que é e será exposto.

Um aspecto que se destaca nas produções é a militância. Nas paredes, escadas, cartazes e obras espalhados pela ocupação, temas geralmente marginalizados e barrados pelo moralismo, que hoje ameaça a expressão artística, encontram-se colocados de forma livre. O Nono Andar, por exemplo, é separado especialmente para mulheres e outros gêneros oprimidos, sendo um importante espaço para o reconhecimento e auto afirmação desses grupos. Também é comum a realização de saraus e eventos com temas relacionados à negritude, feminismo, latinidade, entre outros.

Porém, ainda de acordo com Sirius, é inegável que existe muito a ser mudado. Para o artista, a Ouvidor 63 é uma pequena amostra da realidade brasileira e paulistana, que, mesmo parecendo aberta e progressista, convive com o conservadorismo, tendo que desafiá-lo a todo o momento. Outro artista, Seba Morgendorfer, também trouxe certa ênfase às dificuldades existentes naquele ambiente. Ao estabelecer um paralelo entre a Ouvidor 63 e o símbolo Ying Yang, um princípio fundamental da filosofia chinesa, o músico afirmou que morar na ocupação tem seus lados positivos e negativos, sendo que eles sempre se sobrepõem e intercalam.

Também se sobrepõem e intercalam, compartilhando espaços e mentes, a arte a vida. Na Ouvidor, mesmo os locais mais banais são decorados com intervenções e obras, sendo que a arte é parte integrante e ativa do cotidiano. Dessa forma, todo cômodo diz algo, trazendo perspectivas singulares e agregando valor e reflexão à rotina diária dos ocupantes.

A vida é compartilhada.

A Ouvidor 63, como outras ocupações, pressupõe um convívio diário entre seus moradores, afinal, todos são partes daquela “casa”. Entretanto, em geral, os hóspedes são sempre renovados. Como a maioria deles é composta por viajantes itinerantes, eles passam certo tempo na habitação, mas logo seguem seu caminho. Porém, sempre existem aqueles que permanecem. Felipe Feijão, por exemplo, é morador há mais de dois anos, tendo visto aquele local passar por vários altos e baixos. O artista, ao ser questionado sobre o significado e importância do movimento, afirmou que “a ocupação artística funciona como um auxílio físico, material e de espaço. Uma estrutura que se torna uma ferramenta de assistência social.”.

Por fim, mas, definitivamente, não menos importante, falta falar dos artistas. Organizados de forma livre, em um ambiente em que as decisões buscam ser tomadas democraticamente, os artistas são a alma da ocupação. Para Sirius, viver na Ouvidor é constantemente fazer política e decidir os rumos do local. Os moradores são seus próprios representantes e, como em toda sociedade, alguns conflitos são inevitáveis. Porém, ao final do dia, horário em que acontecem a maioria das oficinas, são esses os personagens que garantem àquele lugar a característica de “incubadora de projetos”. A ocupação foi definida, também de acordo com citado o morador do Oitavo Andar, como um ambiente no qual “tudo pode ser transformado em uma ferramenta de arte, desde que você se veja enquanto artista.”.

Esta é a Ouvidor 63. Um Centro Cultural que vive da ideia de resistir socialmente por meio da arte.

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