Publicado no final do século XVI, Romeu e Julieta é um dos maiores (se não o maior) clássicos de todos os tempos. A história dos dois jovens que morrem de amor não é novidade para ninguém, mas ainda reverbera na contemporaneidade. Entretanto, sendo essa obra tão disseminada quanto é, resta uma questão: por que ler (ou reler) Romeu e Julieta?
Depois de tantos anos, a leitura dos versos de Shakespeare parece inútil: já conhecemos de cabo a rabo o que se sucede com o casal em questão. Contudo, numa releitura, essa parece uma afirmação um tanto quanto presunçosa. Temos o hábito de enxergar a história de Romeu e Julieta como um simples caso romântico, e é aí que reside o erro: Romeu e Julieta não é só sobre amor, e apenas uma releitura nos proporciona esse entendimento.
“Quem deflagrou de novo a velha rixa?”
Desde o começo da história já podemos entender que a obra fala muito sobre tradição. Além de nos colocar dentro dos costumes do século XVI, Romeu e Julieta também nos proporciona o entendimento de relações um tanto quanto alheias aos dias atuais, vide a rixa entre os Capuletos e os Montéquios.
A leitura da peça também traz aspectos de linguagem e apresenta costumes da época, o que enriquece o repertório do leitor.
“Tenho um pecado, então, nos lábios e o cometo.”
Tendo em vista como vivemos hoje, é muito difícil ler Romeu e Julieta sem reparar nos seus componentes machistas. Em diversos momentos ficam visíveis as aflições de Julieta e as situações que a jovem é obrigada a passar apenas por ser mulher. Um ótimo exemplo é a citação acima, na qual Julieta se condena por ter beijado seu amado Romeu (que enquanto isso se diverte com a situação).
“Que o céu aprove o nosso santo plano:
Não nos puna o futuro com desgraças.”
Pensando na época em que foi escrita, fica difícil desvincular a peça da religião. O cristianismo é muito bem representado pelo Frade, que é quem costura a história e faz os planos para o casal. As intervenções desse personagem passam para o leitor a ideia de um Deus onipresente, que tudo comanda e tudo vê. Talvez por isso as personagens do livro sejam tão tementes a Deus e tão adoradoras do destino.
“Não amo amar, mas amo e vou sofrendo.”
Mesmo pensando nos outros aspectos, é impossível escrever sobre Romeu e Julieta sem falar de amor. A história por trás do par romântico é linda e inspira casais até hoje. Apesar de idealizar em excesso o amor, a obra de Shakespeare retrata de forma singular o que é sentido por muitos, mas explicado por poucos com tanta maestria quanto o inglês.
“Pois um conto mais triste o mundo não nos deu
Que a história de Julieta e seu amor, Romeu.”
O motivo mais persuasivo para a leitura de Romeu e Julieta, entretanto, talvez seja justamente o mais óbvio: a obra de Shakespeare inspirou e ainda inspira milhares de histórias. Pensando nas ficções que lemos hoje, não é raro nos depararmos com casais que enfrentam tudo para ficarem juntos, ou com pares românticos que, a princípio não se relacionam, mas acabam se apaixonando.
Com essa peça, o autor inglês abriu espaço para amores impossíveis, tragédias apaixonantes, rixas familiares e romantismo extremo, tudo isso de forma bem-humorada, sem exageros dramáticos.
Por esses e por uma porção de outros motivos, Romeu e Julieta é uma das histórias essenciais para qualquer leitor: desde àqueles que querem se aprofundar na obra shakesperiana, até os que querem se emocionar com um ótimo caso de amor.
Por Giuliana Viggiano
viggiano.giuliana@gmail.com