Livro de estreia do tradutor e escritor — carioca, nascido em 1987, formado em arquitetura pela PUC-Rio — Miguel del Castillo, Restinga (Companhia das Letras, 2015) é uma compilação simpática de dez contos e uma novela.
As histórias giram em torno de temas similares: vida familiar, fragilidade física, anos formativos, relacionamentos. São assuntos bastante ordinários — diria até batidos —, mas que ganham vida nova nas mãos do autor, que retrata o cotidiano das personagens com sensibilidade, introspecção e vitalidade. É notoriamente o caso do primeiro conto, que nomeia o livro e acompanha os últimos passos de uma matriarca carioca.
Frequentemente, as narrativas são pontuadas por uma sensação de ausência — falam de alguém que morreu, foi embora ou apenas desapareceu — e isso imputa nas palavras uma espécie de silêncio, ou subtexto, que enriquece os contos e humaniza suas personagens.
A linguagem é enxuta e pouco experimental, o que serve muito bem ao propósito da obra. Del Castillo diz muito com poucas palavras, e por vezes comprime uma vida inteira num único parágrafo.
No entanto, “Restinga” tem as suas falhas. Os contos “Cruzeiro” e “Arraial”, por exemplo, beiram a chatice ao combinar personagens blasé com tramas paradas. Esse último, aliás, poderia ter ficado de fora. Também irrita um pouco a ubiquidade temática da vida pequeno-burguesa na qual quase todas as histórias estão inseridas.
Ao todo, no entanto, ainda é um livro bastante satisfatório. A novela que o fecha, intitulada “Laguna”, é um exemplo bom de criação descritiva de intimidade e põe o autor, definitivamente, no radar da prosa nacional contemporânea.
Por Laura Castanho
laura.castanho.c@gmail.com