O termo crowdsourcing, ao pé da letra, é a junção de crowd (multidão) e source (fonte, origem). A partir daí já se pode imaginar do que se tratam esses sites. Neles, várias pessoas podem colaborar com ideias, sugestões e, em alguns casos, até com dinheiro. A maioria deles funciona como um brainstorming coletivo. Está se lembrando de algum site bem conhecido? Pois é, a Wikipedia é um dos maiores exemplos de site colaborativo, onde qualquer um pode completar ou criar artigos. O professor de comunicação digital da Escola de Comunicações e Artes da USP, Luli Radfahrer, explica que a própria internet foi criada por muitas pessoas diferentes com o propósito de compartilhar conhecimento: “A própria origem da internet diz respeito à criação colaborativa e a conteúdos gerados por grupos. Então, esses sites de crowdsourcing são, ao mesmo tempo, extremamente novos e muito antigos, porque a ideia já existia antes. O crowdsourcing, na verdade, não é exatamente novo”.
Há empresas que utilizam sites de crowdsourcing para se aproximarem dos seus consumidores. Companhias como Starbucks e FIAT já investiram nesse ramo, criando sites nos quais os clientes podem opinar e dar sugestões. No My Starbucks Idea, os usuários sugerem mudanças para os produtos já existentes e dão ideias para que novos sejam criados. Destes, os mais votados, também por clientes, são implementados. Já o projeto da FIAT é um site com formato de rede social, no qual as pessoas também dão ideias para a criação de um carro conceito. O resultado deu muito certo e, no Salão do Automóvel de 2010, foi lançado o carro totalmente baseado nas sugestões dos internautas.
Existem sites, parecidos com os de crowdsourcing, que são responsáveis pela arrecadação de verba para financiar projetos. Por isso, eles são chamados de sites de crowdfunding. Neles, as pessoas postam seus projetos, sejam eles eletrônicos ou sociais, e os internautas podem doar quantias para ajudar a tornar possíveis os projetos. Um exemplo muito bem sucedido desse formato de site é o Kickstarter, já citado aqui no Blog da Jota na matéria sobre os relógios tecnológicos. Há também uma página na web brasileira, que tem o mesmo formato de arrecadação de investimentos, a Catarse. De acordo com Luli Radfahrer, “o que é bacana dessas redes é que, agora, qualquer um pode divulgar seus projetos, não só cientistas. Além disso, nesses sites você vê coisas de envergaduras completamente diferentes. De um lado, você pode ver um projeto de um elevador espacial e, do outro, você tem coisas do tipo de um relógio de pulso tecnológico ou uma revista de fotografia. Quer dizer, qualquer pessoa com qualquer ideia pode colocar esse conteúdo no ar”.
Apesar de o Catarse ser um site brasileiro, aqui no Brasil, a dificuldade de se criar algo desse tipo é maior. “Aqui, você tem problemas de fraude, de imposto e de informação. Acima de tudo, você tem o problema de que as pessoas não estão habituadas a esse formato”, comenta o professor. Os sites de crowdfunding não são novidade nos Estados Unidos, mas no Brasil como eu muitos outros países, essa tecnologia ainda é pouco conhecida.
Outro tipo de site de crowdsourcing bem conhecido é aquele de compras coletivas. Para que as pessoas obtenham os descontos prometidos, é necessário que um número mínimo de participantes compre o mesmo serviço ou produto. Há pessoas que apenas esperam e torcem para que o número seja atingido, mas há também a possibilidade de que o próprio comprador divulgue e chame pessoas para que também colaborem. Aí sim, podemos identificar a interação típica entre internautas que ocorre nos sites de crowdsourcing, não é mesmo? Há vários sites que, originalmente, não foram criados com a intenção de serem colaborativos, porém a forma como eles vão ser utilizados depende dos usuários. Luli explica que “quando você pensa em um Mercado Livre ou eBay, o cara, obviamente, não projetou aquilo pra que, por exemplo, um fotógrafo individual possa vender o seu trabalho de fotografia, mas ele pode ser usado pra isso. Tudo depende do jeito que você usa, basta que o site tenha uma mínima capacidade de interação”.
Os sites de crowdsourcing são possíveis graças à nova geração da internet, na qual as pessoas são capazes de interagir umas com as outras 24 horas por dia, por meio dos seus smartphones. “A internet permite uma coisa que, até pouco tempo atrás, a gente não tinha.”, diz Luli, “Até pouco tempo atrás, a internet ainda era um tipo de mídia de massa, em que o indivíduo tinha uma mensagem e ele a transmitia pras pessoas. Isso aconteceu até o início dos anos 2000. Com a banda larga, na virada do século, começam a surgir as mídias sociais. Algumas pessoas começaram a perceber que a rede pode gerar uma comunicação mais produtiva”.
Independente do tipo, o crowdsourcing pode ser bastante benéfico para todos os envolvidos. “Ele amplifica os serviços e tira as pessoas da armadilha, em que elas ficavam até pouco tempo atrás, de depender das grandes estruturas”, diz Radfahrer. Agora que você já leu o texto inteiro, deve estar pensando que até já conhecia esse tipo de site, mas não com esse nome feio, não é? Eles estão aí para melhorar a vida do internauta e, com o rápido avanço da internet e da tecnologia, esse é um nicho que, certamente, ainda tem muito a contribuir com as pessoas.
Por Victoria Salemi
vicbsalemi@gmail.com
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