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Trouxas com habilidades mágicas: os compositores musicais de Harry Potter

por Carolina Marins e Diego Andrade carolinamarinsd@gmail.com diego13.andrade@gmail.com A trilha sonora é parte fundamental na produção de um filme. Mesmo na época do cinema mudo, uma música de fundo costumava estar presente, nem que fosse tocada por um pianista na sala de cinema. A música tem a função de dramatizar ainda mais a cena, por isso a …

Trouxas com habilidades mágicas: os compositores musicais de Harry Potter Leia mais »

por Carolina MarinsDiego Andrade
carolinamarinsd@gmail.com
diego13.andrade@gmail.com

A trilha sonora é parte fundamental na produção de um filme. Mesmo na época do cinema mudo, uma música de fundo costumava estar presente, nem que fosse tocada por um pianista na sala de cinema. A música tem a função de dramatizar ainda mais a cena, por isso a sua escolha tem que ser muito bem planejada.

Algumas trilhas chegam a marcar época e eternizam o seu filme. Foi assim com Psicose (Psycho, 1960), Missão: Impossível (Mission: Impossible, 1996), Tubarão (Jaws, 1975), entre outros. No mundo mágico do bruxo Harry Potter, a trilha sonora fez o seu papel de impactar. Logo no primeiro filme, na exibição do logo da Warner Bros, se ouve a música que marcaria uma geração inteira dos anos 1990 e 2000 e sobreviveria a oito filmes: a Hedwig’s Theme, que já foi interpretada por diversas orquestras sinfônicas pelo mundo, incluindo a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Hedwig’s Theme é de autoria do compositor John Williams, porém, foi adaptada e utilizada por todos os compositores posteriores a ele: Patrick Doyle, Nicholas Hooper e Alexandre Desplat.

John Williams

John Towner Williams assinou as trilhas sonoras dos três primeiros filmes: Harry Potter e a Pedra Filosofal (Harry Potter and the Philosopher’s Stone, 2001), Harry Potter e a Câmera Secreta (Harry Potter and the Chamber of Secrets, 2002) e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, 2004). Famoso por composições como as dos filmes Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993), E.T. – O Extraterrestre (E.T. – The Extra-terrestrial, 1982), as sagas de Indiana Jones (1981-2008) e Star Wars (1977-2015), o próprio Tubarão e muitas outras, Williams trouxe para o cinema uma forma peculiar de compor uma trilha sonora.

John_Williams

Utilizando de uma técnica chamada “leitmotiv”, muito utilizada em óperas, que consiste em criar músicas associadas a personagens ou a cenas específicas, o compositor criou músicas que remetessem a diversas tramas do mundo mágico. Há um som para quando Dumbledore deixa Harry na porta da casa dos Dursley, outro para quando Harry vai ao zoológico e se comunica com uma cobra pela primeira vez, outra para quando Hagrid conta que o menino é um bruxo, e assim por diante; também há músicas para cenas que acontecerão com mais frequência no filme e até em outros filmes, como a chegada ao castelo de Hogwarts, quando Harry usa a capa da invisibilidade, quando os alunos visitam o povoado de Hogsmeade etc, e músicas associadas a personagens, como The Face of Voldemort e a própria Hedwig’s Theme, que inicialmente era para ser apenas a música tema da coruja de Harry, mas se tornou o tema da saga.

Hedwig’s Theme apareceu pela primeira vez no trailer de Harry Potter e a Pedra Filosofal (acima). Desde então, fugiu à proposta do leitmotiv, e apareceu diversas vezes ao longo de todos os outros filmes (e trailers). Os compositores posteriores adaptaram a música para as produções seguintes. Após Harry Potter e o Cálice de Fogo (Harry Potter and the Goblet of Fire, 2005), é possível notar uma Hedwig’s Theme mais sombria, algo que pode ser explicado tanto pela saída de John Williams, e portanto a necessidade de fazer pequenas alterações na criação a fim de ter a licença para utilizá-la, quanto pelo ressurgimento de Lord Voldemort. Assim como o símbolo da Warner Bros foi ficando cada vez mais desgastado e sombrio conforme a situação no mundo bruxo ia piorando, a trilha sonora também sofreu essa mudança gradual.

Trailer do último filme:


“John cria estes momentos que podem ser seis ou sete notas de alguma coisa que será lembrada para sempre. Quando ouvi aqueles acordes com o
Tema de Edwiges pela primeira vez, sabia que ele tinha conseguido. Aqueles primeiros momentos na trilha de Harry Potter, que ainda são tocados no trailer até hoje. Você sabe exatamente onde está, você sabe exatamente o que está ouvindo novamente. Mas ele também foi capaz de capturar a essência do personagem Harry. Havia uma certa magia, uma assombrosa qualidade e até mesmo um pouco de melancolia nela.” – Chris Columbus, diretor dos dois primeiros filmes

John Williams fez uso apenas de orquestras sinfônicas para compor a trilha de Harry Potter, sem sintetizadores ou computadores. Ele explica que vai reconhecendo os instrumentos da orquestra de acordo com os aspectos emocionais. Ao compor o tema de Fawkes, a fênix, John explica que optou pelas trompas francesas, pois “deram a ele [Fawkes] certa magnitude e majestade, qualidades que parecem muito adequadas a uma criatura com os poderes que ele tem”. Outro exemplo é o uso de trompetes toda vez que era apresentado o campo de Quadribol.

“O modo como todos estes temas podem ser colocados juntos, em um tipo de mosaico com unidade, esse é o desafio. Mas ao final, não acho que foi realmente difícil uma vez que o filme é inspirador. Certamente, Harry Potter me inspirou a dar o melhor de mim.” – John Williams

Patrick Doyle

O responsável pela trilha sonora do quarto filme da saga, Harry Potter e o Cálice de Fogo (Harry Potter and the Goblet of Fire, 2005), foi Patrick Doyle. Formado pela Academia Real Escocesa de Música e Drama (Royal Scottish Academy of Music and Drama), Doyle começou sua carreira como compositor de trilhas sonoras de filmes em Henrique V (Henry V, 1989), de Kenneth Branagh (que, coincidentemente ou não, interpretou o professor Gilderoy Lockhart, de Harry Potter e a Câmara Secreta), além de ter assinado as trilhas de O Pagamento Final (Carlito’s Way, 1993), Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995), O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones’s Diary, 2001), entre muitas outras.
doyle
Para o quarto filme da franquia de Harry Potter, o compositor explicou que quis um tema que fosse ameaçador e simples ao mesmo tempo, que desse uma sensação de abertura para o que viria, com a volta de Lorde Voldemort. “Usei um tom de lamento já desde os créditos de abertura para estabelecer que o material estava ligado a Voldemort, porque seu espírito maligno impregna o filme todo.”

https://www.youtube.com/watch?v=PZWZ7r5qOTk

Doyle afirmou, ainda, que a música em Harry Potter e o Cálice de Fogo exigiu um tom diferente, mais dramático, já que havia uma reviravolta na vida do trio protagonista, agora mais amadurecido. “Voldemort apareceu. Portanto, a música tinha, de repente, de se tornar mais sombria e o clima é muito mais de um thriller.”

Um fato interessante e curioso sobre a trilha sonora do quarto filme é que, para a cena do Copa Mundial de Quadribol, Patrick Doyle escreveu uma música irlandesa porque um dos times de quadribol era irlandês.

https://www.youtube.com/watch?v=Tqnm3Kmubgk

Nicholas Hooper

Nicholas Hooper assinou as trilhas sonoras de Harry Potter e a Ordem da Fênix (Harry Potter and the Order of the Phoenix, 2007) e Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince, 2009). Hooper estudou composição na Faculdade Real de Música (Royal College of Music), em Londres, onde conheceu o diretor David Yates, com quem posteriormente trabalharia em inúmeros projetos para a televisão e, mais tarde, no quinto e no sexto filme da franquia do Menino Que Sobreviveu.

Nicholas+Hooper

Harry Potter e a Ordem da Fênix apresenta novas personagens interessantes e muito peculiares, como Dolores Umbridge e Luna Lovegood. Para a professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, o compositor queria um tema que fosse irritante como a personagem, porém divertido ao mesmo tempo, e também algo que as pessoas não conseguissem mais tirar da cabeça. Já para a apresentação de Luna, Hooper procurou algo que representasse a “estranheza de tudo e da personagem”, mas afirma que procurou tornar a música, de certa forma, “transparente”, já que quase nada acontecia na cena.

https://www.youtube.com/watch?v=KbWDykU_upw

Porém, uma das faixas mais marcantes da trilha do quinto filme é Possession, que acompanha a cena em que Harry é possuído por Voldemort, logo após a batalha deste com Dumbledore. Nicholas Hooper afirmou que a sensação ao compor a música era a de que algo maravilhoso acontecia, algo inédito para ele.

“Quando a orquestra se entusiasma ou se emociona… não há jeito de recriarmos isso usando samples. Quando fizemos o tema da possessão para Harry Potter e a Ordem da Fênix, esta atmosfera muito estranha foi desenvolvida na sala. As pessoas estavam discretamente chorando à medida que iam tocando e isto teve um efeito incrivelmente tocante no filme. Você não poderia fazer aquilo por conta própria. Você precisa que todos aqueles músicos sintam.” – Nicholas Hooper

https://www.youtube.com/watch?v=xeR99FkikB4

Harry Potter e o Enigma do Príncipe trouxe um dos temas mais sombrios da saga. Para a trilha sonora do sexto filme, Hooper explica que buscou músicas assustadoras, que lembrassem pesadelos.
“Em alguns dos momentos mais sombrios, parti para o conflito total, uma música completamente dissonante. De fato, fui muito além da minha própria zona de conforto, somente para achar sons bizarros e estranhos.”

https://www.youtube.com/watch?v=eC61DD8B9ks

Porém, sons melancólicos também fazem parte da trilha do filme. Um bom exemplo é o tema do beijo entre Harry e Gina. A faixa, assim como a própria cena, é um contraste em um filme tão sombrio. Para compô-la, o compositor se inspirou no Blues, um de seus gêneros musicais preferidos, e tocou-a praticamente inteira no violão, pois achou que deveria parecer uma música europeia romântica, vindo da Itália ou da França.

https://www.youtube.com/watch?v=rHO5Nf9M2DM

Alexandre Desplat

Alexandre Michel Gérard Desplat foi o reponsável pela composição das duas partes de Harry Potter e as Relíquias da Morte (Harry Potter and the Deathly Hallows, 2010-2011). O francês é famoso por composições de filmes como O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008), A Saga Crepúsculo – Lua Nova (The Twilight Saga: New Moon, 2009), Moonrise Kingdom (Moonrise Kingdom, 2012), O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014), entre outros.
Alexandre_Desplat_2015

Os filmes que fecham a saga do menino bruxo receberam uma trilha sonora muito mais sombria e melancólica que os primeiros, contudo, há também a presença marcante de sons mais emocionantes, principalmente em cenas de batalha. Já se vê muito pouco dos traços infantis na trilha, mesmo a própria Hedwig’s Theme, embora apareça sutilmente em várias composições de Desplat, já não passa aquela ideia de um mundo mágico sendo descoberto por Harry, mas sim a necessidade lutar para salvar esse
mundo.

Desde o início Desplat demonstrou interesse em adaptar a Hedwig’s Theme, principalmente pela sensação de nostalgia que a música trazia aos fãs.

“Vamos começar este verão, vai me levar todo o verão, não vou ter muitos feriados, mas, novamente, é por uma boa razão – para a trilha sonora gostaria de aproveitar todas as oportunidades para usar o fabuloso tema composto por John Williams. Eu diria que não foi suficientemente utilizada nos filmes mais recentes, por isso, se eu tiver a oportunidade, e se a metragem me permitir, eu vou arranjar isso… vou fazê-lo com grande honra e prazer.” – Alexandre Desplat

A trilha sonora de As Relíquias da Morte Parte 1 foi pensada de acordo com a atual situação de Harry, Rony e Hermione. Desplat explica que como os três estavam sendo perseguidos por Voldemort, era necessário que eles estivessem sempre fugindo, cada vez em um local diferente. Pensando dessa forma, ele compôs as músicas de acordo com a situação e a localização em que eles se encontravam, como, por exemplo, um som para quando eles estavam em batalha ou no Ministério da Magia. Objetos mágicos também ganharam uma melodia própria: os detonadores, o medalhão, as relíquias da morte, todos tinham uma música específica.

O tema mais famoso da primeira parte do filme é a música Oblivation, “que transmite a sua [Harry, Rony e Hermione] perda de inocência, bem como a sensação de perigo”.

Imagine a responsabilidade de compor a música da última cena do último filme. As expectativas eram altas e para isso Desplat apostou novamente em John Williams. A cena “19 Anos Depois” de Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 reviveu dois grandes sucessos do primeiro filme: Hedwig’s Theme e Leaving Hogwarts, esta última composta por Williams para o momento em que Harry deixa Hogwarts após o seu primeiro ano e volta para a casa dos Dursley.

“Bem, todos nós sabemos que há um tema que se tornou icônico, Hedwig’s Theme, de John Williams. Este tema é crucial para o sucesso da história, e teria sido desrespeitoso e estúpido para mim não usá-lo nos momentos cruciais onde era preciso referir-se a estes dez anos de amizade que todos nós tivemos com esses personagens e crianças, então Hedwig’s Theme reaparece muito mais [do que] na Parte 1,
onde a perda da inocência foi o tema principal do filme […]” – Alexandre Desplat

A última cena é uma mistura de A New Beginning, composta por Desplat, mais Hedwig’s Theme e Leaving Hogwarts. Uma soma que resultou e ainda resulta em muitas lágrimas dos fãs.

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