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25 anos do melhor time que o mundo do basquete já viu

Por Bruna Arimathea e Bruno Nossig Na história dos esportes, existiram equipes dominantes de todas as formas. Nessa lista, estão a seleção brasileira de 1958 e de 1970, o Chicago Bulls de Jordan e o  Boston Celtics de Bill Russell. Entre todas as equipes dominantes, porém, uma se destaca: a seleção norte-americana de basquete de 1992, …

25 anos do melhor time que o mundo do basquete já viu Leia mais »

Por Bruna Arimathea e Bruno Nossig

Na história dos esportes, existiram equipes dominantes de todas as formas. Nessa lista, estão a seleção brasileira de 1958 e de 1970, o Chicago Bulls de Jordan e o  Boston Celtics de Bill Russell. Entre todas as equipes dominantes, porém, uma se destaca: a seleção norte-americana de basquete de 1992, apelidada de “Dream Team”.

A conquista foi a mais dominante da história, na qual a seleção norte-americana ganhou todas as partidas da Olimpíada de Barcelona com uma larga vantagem. Depois de vinte e cinco anos da medalha de ouro do Dream Team, o Arquibancada revive a formação da equipe, os jogadores e tudo o que rodeou a maior equipe da história do basquetebol.

Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson em campanha do Dream Team (Imagem: Neil Leifer, NBAE/Getty Images)

A aproximação entre NBA e FIBA

Durante a história do basquete mundial, jogadores profissionais foram proibidos de jogar nas competições oficiais da Federação Internacional de Basquetebol (FIBA). Assim, os atletas da NBA (National Basketball Association) não podiam participar dessas competições, por serem considerados profissionais, enquanto que o das demais ligas, vistos como amadores, sim. Isso implicava que os Estados Unidos tinham que usar jogadores universitários contra jogadores profissionais. Ou seja, atletas de 18 e 19 anos contra adultos de outras seleções, já que as estrelas dos outros países não atuavam na NBA naquela época. Por anos, o talento dos jovens americanos bastou e eles dominaram as competições internacionais. No entanto, a década de 1980 provou que o cenário mundial tinha mudado e que os outros países, principalmente do leste europeu, ficaram mais fortes.

Depois de derrotas consecutivas, a primeira na final do Pan de 87 para o Brasil e a segunda para URSS na Olimpíada de 1988, a NBA começou a se movimentar com intenção de adicionar seus jogadores no circuito da FIBA. De acordo com Eduardo Agra, ex-jogador da seleção brasileira, “Todo mundo acha que o Pan-americano foi a causa da NBA ter sido aceita nas Olimpíadas, mas na verdade foi uma combinação, porque, para os americanos, as Olimpíadas sempre foram mais importantes. Então, a derrota em 88 foi a principal causa para a movimentação da NBA.”

Em 1989, Borislav Stanković, o então secretário da FIBA, deu início a um processo que permitiria que os atletas da NBA participassem das competições internacionais. A presença de jogadores profissionais da liga americana nos Jogos Olímpicos era criticado por diversos jornalistas, já que, segundo eles, o ideal olímpico era a participação de jogadores amadores. No entanto, a  presença dos jogadores da NBA nos Jogos de 1992 foi garantida com a aproximação de Stanković com o então comissário da NBA, David Stern.

Os jogadores

Com a permissão, bastava garantir que os maiores jogadores da liga abdicariam das férias e do descanso da temporada para defender as cores do Estados Unidos. A primeira ligação, de Rod Thorn (o homem com o cargo de NBA Executive, encarregado de chamar os jogadores para os jogos de verão) foi para a estrela que atrai todos olhares do mundo, Michael Jordan. O ala armador do Chicago Bulls ganhara as duas últimas temporadas da NBA (90/91 e 91/92) e garantira o MVP e finals MVP nos dois anos que antecederam as Olimpíadas . A resposta da estrela foi clara, só participaria se os outros all-stars também participassem.

Então, os olhares de Thorn se viraram para Magic Johnson. O jogador do Los Angeles Lakers ganhara cinco títulos pela franquia da Califórnia, conquistara três prêmios de melhor jogador da temporada e ainda era considerado o melhor armador da liga. Atrair Magic foi fácil. O jogador havia se aposentado depois o anúncio de portar o vírus HIV, mas logo após atuar no All Star game de 1992, ele deu continuidade na sua carreira.

Magic queria defender a sua nação, ganhar uma olimpíada, mostrar que ainda conseguia jogar em alto nível. Além disso, acreditava que caso ele aceitasse o convite para jogar as Olimpíadas, as outras estrelas também entrariam na competição. Com a confirmação de Magic, bastava garantir o outro capitão do Team USA, Larry Bird.

Larry Bird era um jogador incrível, considerado por Oscar Schmidt o maior jogador da história. Bird havia conquistado três títulos da NBA e tinha sido eleito o MVP da temporada em três ocasiões. O jogador já pensava em aposentadoria, e de fato se aposentou depois dos Jogos Olímpicos. Mas contar com Bird era essencial para o Team USA, para garantir que as outras estrelas participassem. Então Magic, que queria atuar ao lado de Bird pelo menos uma vez na carreira, conseguiu convencê-lo a participar dos Jogos.

Com Jonhson e Bird – os futuros capitães da equipe – garantidos, convencer as outras estrelas a participarem foi fácil. O próximo da lista foi David Robinson do San Antonio Spurs, que já havia participado dos fracassos da seleção norte-americana no Pan de 1987 e na Olimpíada de 1988. Desta vez, motivado pela presença de grandes astros, ele conseguiria a tão esperada medalha de ouro.

A dupla de Utah Jazz , Karl Malone e John Stockton, foram chamados e ambos queriam participar. O astro de Big Apple, o pivô Patrick Ewing, também recebeu a ligação de Thorn e não recusou.

O companheiro de equipe de Michael Jordan e um dos melhores defensores na história da NBA, Scottie Pippen, recebeu a ligação e não recusou a sua participação. A lista também contou com o ala-pivô Charles Barkley, dos 76ers, na condição de que o jogador polêmico não causasse nenhum problema para a seleção. Chris Mullin, do Golden State Warriors, e Clyde Drexler, do Portland Trail Blazers, não pensaram duas vezes para aceitar o convite.

Com todas as estrelas garantidas na equipe, a ligação voltou para Michael Jordan que, dessa vez, aceitou participar do Team USA, especialmente porque, de fato, ele faria parte de um “Dream Team”.

No somatório eram onze All-stars que fariam parte do Dream Team, mas ainda restava um jogador. A última vaga foi garantida para uma estrela do basquete universitário, Christian Laettner, ala-pivô de Duke University. Christian seria a grande estrela dos Estados Unidos caso a convocação fosse nos moldes de 1988. Porém, com a participação de grandes astros, Laettner acabava, obviamente, ofuscado e muitas vezes esquecido pelos fãs.

Mesmo no Dream Team existe polêmica na escolha dos jogadores. O caso envolveu o armador do Detroit Pistons, Isiah Thomas, que liderava o famoso grupo dos Bad Boys. A expressão se refere a determinados jogadores que atuaram juntos, com estilo de jogo duro e violento, entre as décadas de 80 e 90. Isiah Thomas era conhecido por ser um excelente jogador, talvez o melhor defensor na sua posição, e já tinha provado estar no patamar dos grandes. Mas a imagem do armador estava suja, principalmente depois que os Bad Boys deixaram o último jogo da  final de Conferência de 1991, antes que ele acabasse, para evitar o cumprimento aos adversários.

Nenhum jogador do elenco do Dream Team queria Thomas, especialmente Michael Jordan. Assim, ele não foi chamado, mesmo tendo o talento e o currículo de um jogador do Dream Team.

Primeira fileira: Patrick Ewing, Christian Laettner, Magic Johnson, David Robinson, Karl Malone. Segunda fileira: Larry Bird, Michael Jordan, Chuck Daly, Charles Barkley, Chris Mulllin. Terceira fileira: Scottie Pippen, John Stockton, Clyde Drexler (Imagem: Andrew D. Bernstein, NBAE/Getty Images)

O técnico e a preparação

O homem escolhido para  dirigir o Team USA foi Chuck Daly, então técnico do Detroit Pistons. Chuck era o cara perfeito para o trabalho, pois tinha experiência em administrar um grupo com grande ego e personalidades conflitantes. Ele liderara o citado grupo dos Bad Boys em dois títulos consecutivos, nos anos de 1989 e 90. Se era capaz de administrar os “violentos’ e “desleais” Bad Boys, ele conseguiria administrar o ego dos All-Stars do Dream Team.

Chuck Daly tinha uma personalidade marcante. Era um homem que se importava constantemente com sua aparência, escolhendo os ternos mais elegantes e arrumando com um pente o seu famoso topete. Não se importava só com a vitória, mas também em ganhar com a melhor aparência possível.

Sob o seu comando, os 12 jogadores iniciaram uma preparação não apenas física, mas também mental para aqueles Jogos que trariam o prestígio americano no esporte novamente. Ao mesmo tempo que era quase inevitável que o Dream Team levasse a medalha de ouro para casa, a forma como isso seria feito se tornou um empecilho logo no início dos treinos. Todos eram excelentes jogadores e queriam deixar claro o seu valor e o seu talento perante o mundo. Mas, durante os treinos, a questão invadia o campo pessoal, e se tornava uma briga de egos entre demonstrações de habilidade e rivalidade em quadra.

Um conflito muito relevante nesse sentido era travado entre Michael Jordan e Magic Johnson. Jordan era jovem, atuava em sua melhor forma, e queria provar de vez que era o novo nome no topo da NBA.  Johnson era o ídolo, um ícone que queria  provar porque ainda mantinha esse título. Nas palavras de David Robinson, no documentário “Dream Team”, produzido pela TV da NBA: “Entre Magic e Mike havia sempre algo a mais, um queria provar para o outro que era bom”.

O treinador tentou, então, que a preparação dos jogadores fosse a melhor e mais inclusiva possível, realizando partidas faltando pouco tempo para a Olimpíada de Barcelona. A forma como Daly trabalhou com as fortes personalidades em quadra surtiu efeito principalmente depois de um jogo treino contra uma equipe de universitários, no qual os astros americanos perderam no primeiro jogo, algo inacreditável no contexto. A derrota de 62 a 64 mostrou que até mesmo o time dos sonhos poderia perder.

A imprensa, que a essa altura já cobria cada passo do time, estava ansiosa para a coletiva pós-jogo, e os jogadores não conseguiram disfarçar o clima tenso que tomou conta da quadra. Rumores dão conta que Chuck manipulou o time, nas substituições da partida, para forçar uma derrota da equipe olímpica. Com isso, utilizaria o resultado para mostrar as possíveis consequências de não trabalhar pelo time como um todo. Nesse momento, ficou claro o acerto na escolha de Daly para assumir esse time, que soube com maestria treinar seus jogadores e obter sucesso nos resultados da campanha.

O Dream Team pareceu entender que, para ganhar o ouro olímpico, não bastaria apenas contar com seu estrondoso e incontestável talento, mas também com a coletividade e a colaboração em quadra da forma correta. No dia seguinte, num jogo revanche, o USA Team venceu os garotos por uma larga vantagem.

Momento da premiação (Imagem: John Gaps III/Associated Press)

As reações dentro e fora de quadra

Os veículos de mídia seguiram o time americano antes mesmo dele ser formado. Tão logo houve a liberação de jogadores profissionais nas competições, começaram os rumores de quem poderia ou não integrar a equipe dos Estados Unidos. Com a escolha dos 12, as coberturas se intensificaram, e atingiu um nível mundial ao revelar quem compunha o time que vinha para brigar, como nenhum outro, nos Jogos.

A partir daí, se já eram estrelas, se tornaram não apenas atletas, mas verdadeiras celebridades por onde passavam. Todos queriam um registro. Estar perto desses jogadores no período poderia ser comparado com encontrar um grande cantor ou ator de Hollywood. Não era difícil encontrar fãs de todas as idades gritando o nome dos jogadores do lado de fora dos estádios, ou onde quer que o ônibus da equipe passasse.

A equipe se tornou símbolo de marketing e sucesso americano. Campanhas com Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson como ícones da equipe surgiram, numa demonstração de que as diferenças haviam sido, pelo menos momentaneamente, superadas para a conquista do objetivo em comum.

O time por si só era midiático e possuía potencial para tal. Desde os jogadores ‘mocinhos’, aos mais polêmicos, como Charles Barkley e suas pretensiosas falas na mídia. Era um time que obteria sucesso na recuperação da imagem americana no basquete, e com o qual o público se identificou.

Esse tratamento se estendia também para dentro da quadra. Em um tempo em que a NBA não possuía tantos atletas estrangeiros, os jogadores dos outros times viam em quadra seus ídolos muito além de adversários. A admiração não cessava nem mesmo durante as partidas: cada aproximação, cada marcação, era uma oportunidade de estar perto de um grande astro. E não havia como – nem tentavam – esconder o quanto era especial a oportunidade de viver cada jogo.

Em entrevista ao Arquibancada, Cadum, jogador da Seleção Brasileira nas Olimpíadas de Barcelona, brinca: “Na seleção eu era o número 9, e o 9 do outro time era um tal de Michael Jordan, um cara meio famoso. Eu me lembro de caminhar ao encontro do Michael, imagina a cena!”.

Era realmente um time de estrelas e, para muitos, só o fato de jogar contra eles já era uma honra. Entrar em quadra contra o time americano era esperar pela derrota. Apesar disso, tornou-se, de muitas maneiras, uma realização poder dividir uma quadra com o Dream Team durante algumas horas.

Os jogos

O time americano chegou, sem surpresa, invicto à medalha de ouro. Mas o que chamou a atenção não foi só a invencibilidade do time, mas sim a maneira como ela foi conquistada. A equipe atropelou todas as seleções contra as quais disputaram.

Logo na primeira partida, contra Angola, uma declaração famosa de Charles Barkley ressoou na imprensa: “Eu não sei muito sobre eles [time angolano], mas estão com problemas”. E para quem não gostava das respostas do pivô americano, teve que lhe dar razão. A equipe americana venceu por 116 a 48, um verdadeiro atropelamento. Incríveis 68 pontos de vantagem – a maior registrada nos Jogos –, que confirmavam a ambição do Dream Team em Barcelona.

As estatísticas do time americano ao mesmo tempo impressionavam e corroboravam com toda a atenção voltada para seleção. Em todos os jogos, a equipe marcou acima dos 100 pontos, tendo uma média de 117 pontos por partida. Na vantagem, a média foi de cerca de 43 pontos e a menor obtida foi de 32 pontos, na final contra a Croácia. Além disso, o time não perdeu nenhum tempo que disputou, completando 100% de liderança em todos os quartos jogados.

O hino americano já era, a essa altura, sinônimo de vitória. O ouro representava o prestígio e o orgulho estadunidense de volta ao topo do basquete nas competições internacionais.

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