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44ª Mostra Internacional de SP: ‘Nadando Até o Mar se Tornar Azul’

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Contar a história de um país é uma missão desafiadora. Contar a história de um país como a China, cuja realidade foi, e ainda é, ignorada por grande parte do …

44ª Mostra Internacional de SP: ‘Nadando Até o Mar se Tornar Azul’ Leia mais »

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.

Contar a história de um país é uma missão desafiadora. Contar a história de um país como a China, cuja realidade foi, e ainda é, ignorada por grande parte do mundo ocidental, parece algo impossível. Mas esse aparenta ser o objetivo do diretor Jia Zhangke, que, na 1 hora e 51 minutos de duração do filme, mostra retratos muito particulares de uma nação que nas últimas décadas sofreu intensas mudanças. Em Nadando Até o Mar se Tornar Azul (Swimming Out Until the Sea Turns Blue, 2020), podemos conhecer a China por meio dos olhos de quem realmente viveu e cresceu nela. 

O documentário trabalha de forma ampla com o conceito de micro-história, por meio do qual constrói diante das telas diferentes imagens a respeito do país. Impulsionado por um festival literário que ocorreu em Shanxi, terra natal de Ma Feng – importante escritor chinês – o longa já dá indícios claros dos caminhos que pretende percorrer. A maioria dos entrevistados possui algumas coisas em comum com Ma Feng: a nacionalidade, a infância nas zonas rurais do país e o amor incondicional pela literatura. 

 

Trabalhadores rurais realizando a colheita de trigo na China em cena de Nadando Até o Mar se Tornar Azul [Imagem: Reprodução/Xstream Pictures]
Trabalhadores rurais realizando a colheita de trigo. [Imagem: Reprodução/Xstream Pictures]

Desse modo, o telespectador acompanha, pouco a pouco, a trajetória de diversos autores do país que compartilham suas memórias ao lembrarem de uma juventude vivida nas aldeias chinesas. Apesar de algumas paisagens exibidas em plano aberto, o foco das câmeras é, de modo quase unânime, os indivíduos. Desde os rostos paralisados no tempo das estátuas nos minutos iniciais do filme, até as mais sutis expressões dos escritores, nada passa despercebido pelas lentes. Conforme mais íntimas e detalhadas são as histórias contadas, mais elas se aproximam  do locutor. 

A escolha do diretor em optar pelos relatos de pessoas familiarizadas com a arte de contar boas histórias foi em parte acertada, os relatos são tão precisos que não é difícil para quem assiste reconstruir o cenário em que as narrativas acontecem. Contudo, com o passar do tempo, a ausência de uma trilha sonora marcante e o predomínio do silêncio por trás das falas têm seu preço. 

Em certo momento, acompanhar o documentário se torna uma atividade cansativa e é preciso redobrar a atenção para não deixar detalhes importantes passarem despercebidos. Algumas pausas são longas demais, fazendo com que o ritmo dos acontecimentos diminua, culminando na perda de parte da atmosfera que permitiria uma imersão dentro da temática. 

Em uma demonstração clara do contato intenso que o filme procura ter com a literatura, toda a história é dividida em capítulos, que se apresentam em forma de títulos simples como “comer” e “viagens”. Mesmo não sendo inapropriados, alguns deles demarcam pausas constantes e, por vezes, desnecessárias no curso das entrevistas. Contudo, a escolha em optar pela leitura de trechos específicos de alguns livros ao decorrer do documentário, além de conferir um tom mais poético à produção, exemplifica bem a influência das experiências particulares dos indivíduos nas produções literárias. 

 

Cena de Nadando Até o Mar se Tornar Azul, pessoas observam e pousam em frente a uma pintura na China. [Imagem: Reprodução/Xstream Pictures]
[Imagem: Reprodução/Xstream Pictures]

Os acontecimentos políticos da China são amplamente citados à todo momento, mas a experiência de ouvir as consequências concretas das políticas socialistas estruturadas a partir de 1949 é diferente. A obra reconstrói a história recente do país da perspectiva daqueles que viveram desde a mais tenra idade com as mudanças que até hoje vigoram no território chinês. Ver a China pelos olhos dos chineses parece ser uma coisa óbvia a ser feita na busca para entender sua história, mas é algo que raramente acontece aqui no outro lado do globo. 

Outro aspecto que merece ser citado é a recorrente comparação entre as gerações. Adultos e idosos sequer são filmados utilizando alguma espécie de aparelho eletrônico enquanto dão seus depoimentos ou nas visitas aos lugares que frequentavam quando mais novos. Por outro lado o longa dá ênfase às cenas que mostram a atual juventude chinesa constantemente focada nos seus smartphones enquanto realizam atividades cotidianas. 

Mesmo com relatos extremamente tristes, que denunciam a dificuldade do acesso à e saúde e de permanecer na escola, a escassez de alimento e, muitas vezes, de perspectiva, Nadando Até o Mar se Tornar Azul Azul transmite um certo sentimento de nostalgia a quem assiste. O ápice dessa percepção ocorre quando o público se depara com o fato de que muitos jovens chineses, ao serem criados em tempo integral nos grandes centros urbanos, já não falam bem as línguas de suas aldeias de nascimento. 

Conforme avança pelas memórias daqueles que cresceram na China após a Revolução Cultural, é inevitável se deparar com a sensação de que aqueles são relatos de uma realidade que está, aos poucos, deixando de existir.

Confira o trailer: 

 

*Imagem de capa: Reprodução/Xstream Pictures

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