Por Bruno Nossig
Há quarenta e cinco anos, Emerson Fittipaldi conquistou seu primeiro título mundial de Fórmula 1 e abriu as portas para o automobilismo brasileiro. O Arquibancada decidiu reviver a carreira do piloto que brilhou em todas as categorias nas quais competiu.
Quando jovem, participando de corridas nas mais distintas modalidades, Emerson Fittipaldi destacou-se. A transferência para a Fórmula Ford e para a Fórmula 3, em 1969, aos 22 anos, era uma oportunidade para o piloto convencer as construtoras de seu talento. O resultado: diversas vitórias nas duas classes e a conquista do título da F3.
O ano de 1970 foi marcante para a carreira de Fittipaldi. Não só por ser a estreia do piloto na Fórmula 2 – onde conquistou a terceira colocação no mundial – mas, também, por ser o ano em que entrou na Fórmula 1. A Lotus contratou o piloto, que estreou com a oitava posição no Grande Prêmio da Grã-Bretanha. Na última corrida do ano, Fittipaldi impressionou e conquistou sua primeira vitória. Até hoje, é o único brasileiro a ganhar uma corrida em seu primeiro ano na F1.
Flávio Gomes, jornalista do site “Grande Prêmio”, comenta que o triunfo do brasileiro também significou uma mudança na forma com que a imprensa tratava o esporte. “A imprensa não tinha uma cobertura específica para o automobilismo internacional. Quando ele ganhou a corrida, abriu os olhos da imprensa do Brasil, principalmente por ser na época da Ditadura, do ‘Brasil grande’. Assim, a imprensa passou a ter uma cobertura especial para a F1, com intuito de entender a competição, na qual um brasileiro havia ganhado”, diz.
O jornalista adiciona que Fittipaldi teve grande importância para o automobilismo porque “abriu as portas” para outros brasileiros nas competições europeias. “[Emerson] não foi o primeiro a ir para a Europa, mas foi o primeiro que foi para a Europa e se tornou campeão desde sempre”, relata.
No ano seguinte, ele já era o primeiro piloto da Lotus, e o investimento feito pela equipe parecia caminhar para resultados positivos. Emerson terminou o ano sem vitórias, porém conquistou três pódios e terminou na sexta colocação no campeonato de pilotos.
Então veio o ano de 1972. Um ano marcante não só para a carreira de Fittipaldi, mas para a história do automobilismo brasileiro. Foi o primeiro título da F1 conquistado por um piloto brasileiro. De forma dominante, Emerson ganhou 5 das 11 corridas do torneio. O título foi parar na mão do brasileiro, dentre outros fatores, porque o piloto tinha uma inteligência ímpar, entendia de mecânica e sabia como preservar as peças de seu carro, num período em que os carros costumavam quebrar nas corridas. Fittipaldi também foi o piloto mais novo a ganhar o mundial de F1, com 25 anos, recorde que só seria batido três décadas depois por Fernando Alonso.
Na temporada de 1973, teve outro grande ano, ganhando três corridas. Mas Jackie Stewart, que havia sido vice-campeão no ano anterior, superou o brasileiro e levou o título mundial.
Emerson foi para a McLaren no ano seguinte. A mudança de carro foi positiva para o piloto, que venceu três corridas, chegou em quatro pódios e obteve pela segunda vez o mundial de pilotos.
Apesar de competir pela Mclaren em 1975 e conquistar mais duas vitórias em Grandes Prêmios, Emerson fundou junto ao irmão, Wilson Fittipaldi, uma equipe brasileira de F1, a Copersucar-Fittipaldi. A equipe patrocinada pela companhia de açúcar fez apenas testes em algumas etapas e estreou em 1976, tendo Emerson Fittipaldi como primeiro piloto. O ano foi extremamente frustrante e o carro abandonava as corridas constantemente.
Emerson poderia competir por outra equipe e manter os bons resultados que já tinha conquistado, mas acreditava na construção da Copersucar. Em 1977, a evolução da escuderia ficou evidente com melhores resultados e um carro mais constante. No entanto, permanecia abaixo do nível necessário e o resultado não era satisfatório.
O carro continuou a evoluir com o esforço de Emerson e Wilson. No Grande Prêmio do Brasil de 1978, por exemplo, o piloto conquistou a segunda colocação. A equipe terminou na sétima posição entre as construtoras, criando muitas expectativas para o ano seguinte.
O ano de 1979 foi um ano muito decepcionante, uma vez que a construtora acumlou apenas um ponto, nas quinze corridas disputadas. Após outra temporada frustrante, a Copersucar tirou seu apoio a equipe. Emerson ficou mais um ano na equipe até anunciar a sua aposentadoria na F1, quando passou a comandar a construtora junto ao irmão.
Em 1982, depois de resultados negativos, a construtora anunciou que sairia da F1. A Copersucar é lembrada pelo seu fracasso e resultados negativos. Flávio Gomes, porém, olha de outra forma a história da equipe brasileira. “Muito importante foi o Emerson ter saído da McLaren para correr pela Copersucar e se envolver pessoalmente em um projeto do irmão. Ele acreditou na possibilidade de se fazer uma equipe brasileira na F1, e o projeto, que durou bastante, foi, de certa forma, bem sucedido”, comenta.
A carreira do piloto não acabou na Fórmula 1. Em 1984, quando tinha 38 anos, assinou o contrato para disputar a Fórmula Indy. No seu quinto ano, marcou seu nome na história da modalidade: ganhou o título e também a corrida com maior prestígio da competição, as 500 milhas de Indianápolis.
O piloto continuou a ter performances boas e conquistou as 500 milhas novamente em 1993, aos 43 anos. Em 1996, anunciou sua aposentadoria na categoria. Emerson passou por quatro construtoras diferentes, disputou 193 corridas, conquistou 22 vitórias e 66 pódios.
Emerson Fittipaldi teve uma carreira com grandes conquistas, entretanto só os resultados não a resume. A influência que gerou na produção jornalística para o automobilismo, a construção da Copersucar-Fittipaldi, o sucesso em todas as modalidades, os recordes e a capacidade técnica são fatores que contribuíram para a formação de um dos maiores pilotos da história, digno do Hall da Fama.